#4ThePlayers: O Cão Danado


Se há empresa que merece todo um artigo dedicado às memórias criadas na PlayStation 4, essa é mesmo a Naughty Dog, com duas das suas sagas publicadas na íntegra para esta consola. Na realidade, se considerarmos que foram eles os criadores de Crash Bandicoot, três das suas sagas completas marcaram presença nesta consola. É obra!

Tudo começou com The Last of Us. Considerado "a canção do cisne" da PlayStation 3, um último grande título grande título para aquela consola, o pouco que nessa altura tinha visto sobre ele não me impressionou. A temática de "zombies" (eu sei, eu sei, são "infectados") não me puxava minimamente. Por outro lado, tanto a nível de crítica nacional e internacional, como os próprios fãs da consola falavam maravilhas do jogo! A curiosidade instalou-se... e a revelação de que em 2014 teria uma versão melhorada na consola seguinte passou a decisão: tinha de o jogar!

Assim que o jogo chegou à PlayStation 4, lá se foram umas poupanças para trazer a nova consola para casa. Hora de guardar a PS3 e ligar a nova geração à televisão, para finalmente experimentar o jogo de que tanto se falava... e não sabia no que me estava a meter: The Last of Us Remastered.


Desde os primeiros segundos, a maneira como a história é contada é incomparável a qualquer outra alguma vez vista nos videojogos até então. Uma introdução que começa com ternura, envolvente, mas rapidamente passa de curiosidade a receio, medo por causa de pessoas infectadas - mas com o quê? - e termina da forma mais marcante que poderia terminar. Depois disto, não há como largar o ecrã. Francamente, até mesmo nos dias de hoje há poucos filmes e séries tão bons a agarrar o espectador desde os primeiros momentos... até ao final.

Se a Naughty Dog já há muito explorava a cinematografia e a forma como os videojogos podiam trazer novos caminhos para a narrativa, The Last of Us foi uma verdadeira obra-prima, atingindo um patamar nunca antes visto. Rapidamente entrou para os meus jogos favoritos de sempre, e ainda hoje continua por lá.


Um ano mais tarde, foi a vez de Nathan Drake chegar à PlayStation 4 em Uncharted Collection, uma compilação com os três jogos da série Uncharted lançados na consola anterior, agora remasterizados. O primeiro título da saga, Drake's Fortune, foi o que mais tirou partido deste upgrade, colocando-o ao nível dos outros dois tanto em termos de visuais como desempenho. Um jogo que na altura pegou num estilo bastante popular, sim, mas foi capaz de o reinventar.

Ainda assim, é o segundo jogo que leva a série para outro nível. Among Thieves já não é só um jogo relativamente linear de acção e exploração: é um jogo explosivo, com uma história leve mas surpreendente, que a cada capítulo conseguia mudar de ambiente. Caminho esse que foi seguido no terceiro capítulo, Drake's Deception. Depois de The Last of Us, é fácil perceber quando este estúdio começou a experimentar com o que se podia trazer do mundo do cinema para os videojogos. 

Mas como seria fazer um Uncharted depois?


Lançado em 2016, Uncharted 4: A Thief's End tem o difícil trabalho de pegar numa história que era suposto já ter terminado. Anos depois das suas loucas aventuras, Nathan é agora um homem casado e com uma vida confortável. É precisamente neste contexto que tudo começa, numa experiência mais próxima do drama interativo do que o videojogo propriamente dito. Nunca esquecerei o momento em que o casal, no sofá, começa a jogar o clássico Crash Bandicoot - controlado pelo jogador!

Naturalmente, isto não seria Uncharted sem a aventura, aqui causada pelo seu irmão Sam, sendo a relação entre os dois apresentada em episódios de flashback. E aqui se vê a perícia da Naughty Dog, tanto ao tornar credível uma personagem da qual nunca se tinha ouvido falar, como ao explorar as diferentes emoções associadas a toda a aventura que se segue.

Depois desta aventura, Nathan Drake poderá descansar e apreciar a sua reforma. Mas pode Uncharted continuar sem este protagonista?


Em 2017, um novo capítulo chegou à PS4 em Uncharted: The Lost Legacy. Uma aventura relativamente curta em comparação com os anteriores, apresentada como uma história paralela, mas que se revelou totalmente digna do título "Uncharted". Em vez de Drake, o jogo conta com duas protagonistas. Duas rivais que, por mero interesse, se tornam aliadas... mas poderão alguma vez ser amigas?

The Lost Legacy não se limita a mudar de protagonistas, mas também trazer uma série de experiências  que fazem deste um jogo menos linear. Por outro lado, nunca perde aquela característica tão típica da série onde, após descobrir umas ruínas perdidas no tempo e conseguir entrar, afinal há todo um exército no seu interior para confrontar! Faz parte...

Terá sido este o final de Uncharted, ou a expansão de possibilidades para o que virá a seguir?


Assim chegamos a 2020. Mais uma vez, o "fim de ciclo" da consola aproxima-se... a Naughty Dog repete a proeza, com The Last of Us Part II.

Pode parecer um pouco estranho falar deste jogo tão recente como parte das minhas memórias da PlayStation 4, mas não tenho qualquer dúvida que esta tenha sido a experiências mais memorável da consola. Sem ter sido minimamente afectado por qualquer tipo de spoiler (uma das vantagens de se ter acesso antecipado aos conteúdos para review), o jogo simplesmente deixou-me de boca aberta do princípio até ao fim.

Por ser ainda recente, não irei aqui entrar em detalhes. O jogo tem uma narrativa incomparável no mundo dos videojogos, causando sentimentos que, pela sua interatividade, dificilmente serão replicados no cinema tradicional. Contrariando até uma tendência popular dos dias de hoje, onde cada jogador faz o que bem lhe apetecer, em The Last of Us Part II não existe qualquer escolha e, mesmo assim, sente-se profundamente tudo o que está a acontecer.

Ao mesmo tempo, conseguiu levantar uma onda de "haters" na internet, por abordar múltiplos temas que, em 2020, ainda incomodam bastantes pessoas. Se a história do jogo já consegue, por si só, causar profundas contradições de sentimentos, imagine-se para quem vive recheado de preconceitos. Bravo!


Que viagem! A cada jogo novo, a Naughty Dog desafia-se a quebrar as suas próprias barreiras, trazendo consigo novas experiências que, em mais do que uma vez, marcaram para sempre a história dos videojogos.

O que virá a seguir?

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