We. The Revolution


Estamos em plena Revolução Francesa e as coisas não estão fáceis para o juiz Alexis Fidèle – ou demasiado fáceis, até...

Na verdade, as coisas não estavam fáceis para ninguém: havia muita confusão, muitas pessoas arrastadas e cabeças separadas de corpos. Enfim, tudo à grande e à francesa.

Em We. The Revolution, do estúdio Polyslash, controlamos um juiz do Tribunal Revolucionário e, durante três actos, teremos de julgar as várias pessoas que nos aparecerem à frente: revolucionários, criminosos e/ou inocentes e figuras importantes no panorama francês de então. Posso dizer que o jogo é o filho de uma relação entre Phoenix Wright e Papers, Please, o que nem é uma coisa má, mas – e porque há sempre “mas”, podia ser melhor.


A ver, eu gostei do jogo e fiquei bem impressionado logo na abertura. A sequência de introdução em banda-desenhada, com um estilo que combina o velho (um estilo clássico, inspirado nos trabalhos de Jacques-Louis David) com o novo (uma arte com bastantes polígonos) prendeu-me de imediato e puxou-me para a época. A arte é dura e sabemos que estamos perante algo sério. Ao mesmo tempo, é viva e estamos a ver as pinturas a ganhar vida. A narração do juiz e a banda sonora eleva a atmosfera e guia-nos por um França tumultuosa, mas muito interessante.

A arte é vital para a narrativa, mas a jogabilidade e o enredo completam esta santa trindade. O enredo é fixo, existe um fio condutor desde o primeiro dia, do primeiro acto, até ao último dia, do último acto, mas alguns julgamentos são aleatórios para que nenhum jogo seja igual. Pessoalmente, não sou fã da mecânica porque prefiro algo personalizado e assim só estão a encher chouriços. Ao longo da história iremos julgar várias pessoas e controlar, ou influenciar, o sistema e o país. Para tal, podem ser boas pessoas, pessoas assim-assim ou maus – é como quiserem, mas depois terão de lidar com as consequências. Eu fiz de propósito para perder uma vez e… perdi a cabeça. Que raio se passa com os franceses e as decapitações…

Explicar esta parte da história requer um mergulho na jogabilidade, portanto vamos a isso.


We. The Revolution tem imenso para ler! O melhor do jogo é também o seu ponto mais fraco… porque, bem, se vamos passar 85% do jogo a ler, convinha que o tipo de letra fosse maior ou, sei lá, desse para ajustar. O que tivemos neste port foi um tamanho formiga que vai custar um bocadinho a quem tiver problemas de vista (eu); depois, o ecrã táctil não foi aproveitado no modo portátil, o que é uma pena. Há partes onde temos de arrastar documentos, mexer nisto e aquilo, mas nada – apenas os analógicos que funcionam q.b. Atenção, apenas joguei na Nintendo Switch em modo portátil, daí o foco neste modo.

Não obstante, ultrapassada esta parte menos boa, a restante jogabilidade está bem conseguida com os questionários aos arguidos e respectiva manipulação das massas. Passo a explicar porque demorei a entender também…

Quando analisamos uma acusação, temos logo algumas pistas do sucedido e é com elas que vamos desbloquear as questões. Para tal, temos de fazer corresponder algumas palavras-chave (diluir água no vinho → motivo/testemunha/etc). Quando tivermos a lista de perguntas, não temos de esgotar as opções como julgava, mas escolher as mais convenientes. Por exemplo, se estivermos a jogar como um juiz justo, escolhemos as perguntas mais brandas que vão fazer com que o público seja mais brando com o acusado; as perguntas mais neutras não irão mexer com as emoções, mas a mais violentas irão agitar o público, que irá pedir a cabeça da pessoa numa bandeja.


Não é tudo preto, branco e cinzento; escolher a que tem mais piada e já está. Há que ter cuidado com as alianças, se quisermos que o povo goste de nós ou os revolucionários. Por vezes, até para salvar o nosso pescoço, há que tomar decisões contrárias à nossa consciência. A verdade está algures na sala do julgamento, mas chegar até lá não é assim tão fácil e o processo podia ser mais divertido, mas os julgamentos acabam por ser mais do mesmo e um pouco aborrecidos. Este jogo é bom para ser jogado em pequenas doses ou fartará rápido.

Fora do tribunal, também temos de gerir a nossa vida pessoal com pequenos eventos com o filho, esposa ou amigos. Passar tempo com um e não com outros terá consequências. Para além disto, temos um pequeno mini-jogo para ganhar influência na cidade. We. The Revolution não pára de nos dar coisas para fazer. Pode ser um pouco cansativo quando já nos estamos a habituar a uma coisa, mas está tudo interligado.


A duração deste jogo pode ser curta se preferirem voar durante as audiências ou longo para cacete se quiserem esmiuçar tudo, mas é garantido que se gostarem, vão ter jogo e jogo. Além do Unity, não conheço outros que se passem neste período histórico interessantíssimo, portanto eis uma boa oportunidade para aprenderem algo novo.

O juiz decidiu e está decidido, dou-lhe um…

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Klabater.

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