Judgment
Dos criadores da série Yakuza, chega-nos Judgment, um novo título com o mesmo estilo de jogo mas com os papéis invertidos. Aqui jogamos na pele de Yagami Takumi, um detetive privado outrora advogado e que agora vai enfrentar uma data de problemas com os famosos mafiosos japoneses Yakuza.
Este é um spin-off da série Yakuza pois tudo se passa em Kamurocho e os cenários são perfeitamente reconhecíveis para aqueles que já jogaram a série. Pode-se dizer que é uma mistura da saga com L.A. Noire ou Ace Attorney pois, embora a maior parte das mecânicas sejam iguais às de qualquer outro jogo da série Yakuza, inclui a temática de investigação. Na prática até consegue ser mais interessante e divertido, pois para além de tudo que um jogo dessa série oferece, este tem essa particularidade de o jogador investigar casos de polícia ao ponto de ter de perseguir criminosos em corridas pelas ruas de Kamurocho, seguir um suspeito até ao seu destino e fotografá-lo na cena do crime, questionar cidadãos para obter informações relevantes como também visitar cenas do crime. Tudo isto conta também com alguns "quick time events" mas nada do outro mundo, até porque principalmente nas corridas em perseguição dos suspeitos já tínhamos QTE em Shenmue.
Embora tudo isto seja básico e não exija muito do jogador, não deixa de ser interessante e até viciante pela história ser tão envolvente, coisa que já estamos habituados pelos produtores da série original. O bom é Judgment apresentar um elenco à parte, criado de raíz para este jogo, mesmo sabendo que toda a gente adora Kazuma Kiryu. O protagonista tem pinta e é na verdade um cantor japonês famoso na vida real. Takumi tem ao seu dispor utensílios para todas as ocasiões, desde abrir fechaduras com arames e clips, fotografar com o telemóvel para obter provas do crime e até usar um drone para tirar fotos onde o jogador não consegue alcançar.
Para adicionar a tudo isto e como um verdadeiro detetive, Takumi terá de usar vários disfarces para progredir em certas missões, fatos estes que podem ser usados a qualquer momento após serem adquiridos. Isto dá uma lufada de ar fresco ao próprio jogo. É claro que todos estes elementos se aplicam às missões principais e às chamadas "side cases" que são as secundárias. Por exemplo, existem missões secundárias apenas para participar com o drone em corridas legais por Kamurocho. É até possível fazer upgrades ao drone com vários materiais que o jogador vai adquirindo nas ruas. Como seria de esperar, podem contar com um enorme leque de missões secundárias, das mais sérias às mais bizarras. Uma delas é encontrar os gatos vadios e tirar fotos, para mais tarde efetuar a sua recolha.
Takumi tem o seu smartphone equipado com tudo o que necessita. Desde à gravação de jogo e opções como também o uso do drone, upgrade aos skills, itens, o “Google Maps”, a câmara e a opção de rever os casos os quais está envolvido, ou seja, as missões todas em lista. Passo a passo, o smartphone toca e o jogador deve atender para obter informações para progredir, embora as missões principais são sempre facilmente localizáveis, o que ajuda a manter o ritmo e progredir sem qualquer quebra no jogo.
Cada capítulo é contado como se isto fosse uma série, ao iniciar um novo capítulo temos um “Previously” apresentado para relembrar o jogador dos acontecimentos do capítulo anterior. Mas falando em mudança de capítulo e gravações, é um pouco frustrante o sistema de gravação de Judgment. O jogo contém auto-save sim, no entanto a maior frustração nesta análise foi o carregar em continuar e aceitar o loading, sem reparar que estava no ficheiro antigo e não poder selecionar o auto-save automático, basicamente tendo de iniciar um capítulo inteiro.
Já se sabe que os diálogos e cutscenes ocupam bastante espaço, pois trata-se de um jogo com uma narrativa de excelência e como tal, existem vídeos para ver e uma leitura de diálogos enorme ao qual os fãs estão habituados e aceitam perfeitamente, principalmente com a opção das vozes originais. Aqueles menos fãs da versão japonesa podem sempre optar pelo áudio em Inglês, que não está nada mal. De referir que as cutscenes são mesmo ao estilo nipónico, loucas como andar de skate e lutar ao mesmo tempo.
Falemos do sistema de combate onde, tal como em qualquer um dos jogos Yakuza mais recentes, o jogador é livre de lutar ou de efetuar um lock-on. Até aqui tudo igual, no entanto o mais espetacular é poder variar entre dois dos estilos de luta de Takumi. Um deles, destina-se a combate 1 vs 1, enquanto o outro se destina a um estilo de luta múltiplo. Cada um deles é accionado durante as lutas, contendo movimentos diferentes, sendo fácil distinguir pois a música altera, e a aura em redor de Takumi igualmente. A novidade é poder correr contra uma parede para ganhar lanço e efetuar golpes surpreendentes aos adversários, num estilo completamente acrobático, o que dá outra vida ao gameplay, mas é claro que os itens à volta continuam a ser possíveis de agarrar e arremessar aos adversários. O jogador vai encontrar alguns bosses mais difíceis que conseguem ser um desafio. Até porque Takumi pode sofrer as “Mortal Wounds”, ferimentos que só podem ser curados com Medical Kits, pois a barra de saúde quebra. No entanto os outros itens de saúde fazem todos parte da série Yakuza, pelo qual os jogadores da velha guarda já conhecem.
O foco do jogo são as investigações, ou o jogo não se chamaria Judgment, no entanto é pena que nos diálogos que temos com os suspeitos e temos ao dispor as provas do crime, não há forma de falhar mesmo que se apresente uma prova que não a real: o jogador pode selecionar as evidências todas até acertar na correta para apresentar. A falar em tudo isto, não podia deixar de referir o “Objetcion” que Takumi grita numa missão, prestando homenagem evidente ao Ace Attorney. Mas bem, as cenas do crime são facilmente inspecionáveis e também não há como falhar. O jogador apenas tem de explorar estas zonas, entrar numa perspetiva de primeira pessoa, e usar o R2 para focar. Assim que a verdadeira prova do crime é encontrada, o jogador pode seguir caminho, embora existam pontos bónus no caso de recolher uma outra informação menos relevante.
Judgment é uma espécie de sandbox como todos já sabem, assim sendo, é possível ir até às máquinas arcade e jogar Puyo Puyo, Space Harrier, Fighting Vipers e etc… Agradecemos por estes mimos SEGA! E claro, não podiam faltar as amizades que se fazem com certas personagens para adquirir um bónus extra para efetuar os upgrades ao quer que seja. Sem esquecer de referir que a banda sonora é excelente e principalmente aquele tema das lutas contra os bosses que anda na minha playlist desde que escutei pela primeira vez, é arrepiante.
Judgment não é perfeito mas, tal como um Yakuza, é estrondosamente espetacular, viciante, grafismo de fazer cair o queixo especialmente quando a noite cai em Kamurocho e as luzes brilham pelas ruas e ainda por cima com conteúdo que levará horas e horas para o jogador terminar. Um dos jogos a não perder em 2019. em exclusivo para a PS4.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay.