Dragon Quest Builders 2
Análise por Diogo Ribeiro
Desde o anúncio do primeiro Dragon Quest Builders para a Switch que não lhe consegui ficar indiferente. Senti uma certa sensação de familiaridade ao ver o vídeo de apresentação, apesar de nunca me ter debruçado muito sobre a franquia Dragon Quest e por me passar completamente ao lado todo o sucesso do conhecido Minecraft (comparação fácil que nos salta à memória quando vemos as primeiras imagens deste jogo).
O que me despertou a atenção? Desde logo, penso que é inegável o carisma gigante que transborda da série Dragon Quest, seja através das personagens (criadas pelo Akira Toriyama, ao qual nenhum português que tenha assistido à série DragonBall consegue passar ao lado), da música (a música!!), passando pelas histórias relativamente simples, com a animação a fazer lembrar as séries japonesas dos anos 80-90. Se tivesse que definir esta sequela em duas palavras, diria: um clássico moderno.
Para quem nunca teve oportunidade de experimentar o primeiro, DQB é muito mais que um simples jogo de construção, que bebe do sucesso de Minecraft. Durante toda a campanha de um jogador, temos bastantes elementos de um RPG onde a construção é o motor principal de progressão. É aqui que temos a sensação deste ser um jogo “clássico”, na forma como é exposta a história (através de linhas de texto bastante longas, com um guião tradicional, cheio de humor e detalhes da série DQ), nas suas mecânicas de combate simples (onde derrotar os inimigos não é mais que carregar num simples botão várias vezes) e exploração de pequenas surpresas espalhadas pelo mapa, algumas das quais vão sendo desbloqueadas consoante o desenvolvimento do enredo.
O que faz desta sequela tão “moderna” vai ser a sua apresentação, e a evolução que tivemos desde o primeiro. Para quem jogou o DQB original na Nintendo Switch, vai notar de imediato uma grande melhoria gráfica. A resolução da imagem foi aumentada e os visuais e as cores são agora mais vibrantes que nunca. Infelizmente, esta melhoria foi alcançada à custa de alguma fluidez de jogo. Em não raros casos, especialmente nas partes finais de cada capítulo ou nas áreas maiores, quando a profusão de NPCs, blocos diferentes, efeitos gráficos, grandes estruturas e tudo mais, o jogo sofre uma quebra de framerate que é visível e algo acentuada. Dado o tipo de experiência do jogo nunca senti que este abrandamento fosse de tal forma que isso afectasse a minha satisfação, mas a inconsistência na fluidez poderá incomodar algumas pessoas. Em modo portátil este problema não acontece com tanta regularidade, tanto quanto notei.
Em Dragon Quest Builders 2 nós, o famoso builder, temos um poder há muito perdido: o poder da criação e da construção. Ao fugirmos das garras dos filhos de Hargon, cuja missão é destruir tudo e todos, a nossa função é ajudar a reconstruir o mundo, com a ajuda de Malroth, o nosso companheiro de guerra, que conhecemos na Isle of Awakening, uma ilha perdida algures no meio do oceano. É esta a zona central a toda a história e para onde vamos recrutando, enquanto exploramos o mundo montados numa pequena embarcação (quais portugueses nos Descobrimentos), novas populações, novos materiais, novos paladares, que traremos de volta para a ilha. É também esta a zona que podemos moldar de forma mais livre com outros jogadores através do modo online. Cada ilha principal que exploramos possui uma história a descobrir, mas existem também pequenas ilhas que podem ser desbloqueadas consoante vamos obtendo a pontos de gratidão dos restantes habitantes (sim, leram bem). Estas ilhas secundárias servem para angariarmos materiais e quando exploradas na sua totalidade, dão-nos alguns materiais infinitos, que permitem uma construção muito mais livre.
DQB2 é um jogo bastante mais prático e acessível que o anterior. Uma série de melhorias foram implementadas para que fosse mais fácil construir (pois afinal é esse o objectivo do jogo), navegar o mapa, teleportar para as várias áreas, aceder a receitas, e até ao inventário. Além disso, sempre que matamos criaturas vamos ganhando experiência partilhada com Malroth, que vai aumentando os nossos níveis dando acesso a novos ataques e habilidades. Desta vez as nossas ferramentas não possuem durabilidade, e o nosso inventário é gigantesco, sem necessidade de comprar grandes cofres para guardar o que vamos obtendo ao longo do tempo. Assim, todo o jogo é agora mais dinâmico, mais intuitivo, e mais divertido. É fácil perder horas à procura de materiais para terminar as missões que os vários NPCs nos vão dando, geralmente de construção de edifícios que estão integrados na história. É dessa forma que vamos progredindo na narrativa, muito como um RPG tradicional. Aliás, essa narrativa é bem mais consistente que no primeiro jogo e até melhor construída, com cada ilha a conter mundos completamente diferentes.
DQB2 é uma continuação directa do seu antecessor nas suas mecânicas de jogo, e em tudo (mesmo tudo!) melhora. É o que alguns chamariam de sequela perfeita. Os novos elementos de plantação quase o deixam comparado a outros farming sims, mas o foco da construção não se perdeu. É possível até construirmos uma cidade que funciona por si só, pois os NPCs têm vida própria, e além de ajudarem a construir grandes estruturas que planeamos, gerem toda a manutenção da cidade que construímos. Para quem gosta de jogos de construção e de gestão de NPCs e cidades, não há como dizer que não a este Builders 2. E como se não bastasse, temos embutido dentro do próprio jogo um hub social que permite a partilha das nossas construções, níveis, fotografias, ou até visitar os mundos de outros jogadores.
Há muitos anos que não tinha em mãos um jogo que se aproximasse tanto em qualidade e nostalgia do primeiro Harvest Moon da SNES. Tantos anos de farming e building sims clones passaram, mas sinto que este é o primeiro jogo que consegue captar a magia do primeiro Harvest Moon nos tempos actuais: o carisma, a “fofura”, a música, a simplicidade, o design, os gráficos… está tudo lá para nos deixar horas a fios a sorrir enquanto jogamos! <3
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.