Scott Pilgrim vs. The World: The Game - Complete Edition


Artigo por Jorge Salgado.

A quantidade de informação que aprendi nas últimas semanas sobre Scott Pilgrim é absolutamente assoberbante. Sabia apenas que era um filme com Michael Cera que desapontou bastante na bilheteira quando foi lançado nos cinemas, tornando-se mesmo uma das grandes desilusões de 2010; no entanto, sei agora que, para além de se ter tornado um filme de culto altamente adorado por fãs de todo o mundo, existe também uma série de comics onde o mesmo é baseado e até mesmo dois videojogos: o original e remake. Está quase no limiar de um império mediático!

Como já deve dar para perceber por esta altura, este artigo diz respeito a Scott Pilgrim vs. The World: The Game - Complete Edition, o remake do clássico de 2010 que foi agora remasterizado pela Ubisoft. Sou sincero: não joguei o original, pelo que estabelecer comparações com este novo remake será praticamente impossível, obrigando-me a olhar para ele como se fosse uma obra inteiramente nova. A única preparação que fiz pré-análise foi, admito, assistir ao filme - e ainda bem que o fiz, caso contrário estaria completamente perdido!

Para quem não viu o filme, aconselho a que sigam com precaução já que terei de enveredar um pouco pela narrativa do mesmo. De uma forma resumida, Scott Pilgrim vs. The World conta a história de Scott, um rapaz canadiano, que se apaixona perdidamente pela irreverente e charmosa Ramona Flowers, acabando mesmo por namorar com ela. No entanto, esta relação provou ser mais complexa e árdua do que o esperado: existem 7 obstáculos que Scott precisa de enfrentar para conseguir conquistar de vez o coração de Ramona, nomeadamente os seus ex-namorados (conhecidos como a League of Seven Evil Exes).

Somente com esta informação de antemão o jogo fará mais sentido, já que a narrativa toma por completo um segundo plano. Dividido em 7 capítulos, um para cada ex-namorado, Scott terá de enfrentar dezenas (e dezenas) de inimigos, uns atrás dos outros e com diferentes graus de dificuldade, por vezes empilhados de tal maneira no ecrã que criam batalhas 1vs10. No fim de cada nível, o ex-namorado de Ramona estará à espera de Scott em batalhas claramente mais complexas que obrigarão os jogadores a darem tudo o que têm, sem nunca perderem o foco. Assim sendo, os jogadores que procuram uma narrativa emocionante ficarão certamente desapontados com aquilo que o jogo oferece e, caso queiram saber um pouco mais sobre o contexto, o melhor mesmo é seguirem as comics ou o filme.

Este é um daqueles jogos que se insere claramente na categoria “fácil de aprender, difícil de dominar". Tens essencialmente 4 mecânicas chave: ataque fraco, ataque forte, posição de defesa e salto, e terás de ser rápido e eficaz caso queiras sair bem-sucedido – a curva de dificuldade de Scott Pilgrim é bem acentuada, algo que me apanhou completamente desprevenido, e erros serão severamente punitivos, obrigando a recomeçar o nível desde o início se o contador de vida chegar ao fim. Tendo em conta que são apenas 7 níveis, esta é a forma da Ubisoft prolongar ao máximo a longevidade do jogo, sendo que não é certamente o título certo para quem procura apenas algo casual.

Felizmente, sempre que se derrota um inimigo ele deixa cair moedas (tal como acontece no filme), que podem ser colecionadas e usadas para comprar produtos que irão ajudar Scott na sua jornada – por norma, comidas e bebidas que lhe dão benefícios extra. Ainda assim, este é um jogo que requer algum grind para subir de nível, fortificar a personagem e obter novos poderes essenciais: ter paciência e fazer o máximo de combos é a chave para o sucesso! Há uma aura subtil de estratégia subjacente ao jogo que é, provavelmente, uma das razões que o torna tão envolvente. Ao contrário de muitos outros jogos de luta semelhantes - onde muitas vezes parece que estamos apenas a premir botões ao calhas - aqui é preciso ser um pouco mais cuidadoso na forma como abordamos os inimigos. Eles não terão piedade alguma de Scott e, na maior parte das vezes, o melhor mesmo é não nos precipitarmos.

Para além disso, o jogo é difícil e carismático em igual proporção. Apesar de ter apenas 7 níveis, os mesmos são relativamente longos e exalam carisma em cada frame: o clássico estilo pixelizado é absolutamente adorável e, por diversas vezes, dei por mim a apreciar os belíssimos cenários e as subtis animações das personagens. Quer sejam as ruas de Toronto, um bar, um estúdio de cinema ou um eléctrico, todos os mundos receberam o máximo de atenção por parte da produtora, ao mais ínfimo dos detalhes, com NPCs por toda a parte que tanto realismo conferem à cena, mesmo enquanto Scott está envolvido nas batalhas mais absurdas de sempre. A música é igualmente exemplar, conferindo a motivação necessária para seguir caminho e derrotar os ex-namorados de Ramona: é frenética, estimulante e repleta de uma nostalgia retro.

O jogo tem ainda uma opção multiplayer, dando a possibilidade de enfrentar a League of Seven Evil Exes com outra pessoa – algo que soa inteiramente bem em teoria mas, infelizmente, não fui capaz de experimentar. Por várias vezes tentei entrar no modo online da versão Stadia do jogo, que foi onde joguei Scott Pilgrim, mas em todas as vezes recebi uma mensagem de erro que me trazia de volta ao ecrã principal. Foi realmente uma pena mas, felizmente, o modo single-player é divertido o suficiente por si mesmo!

Scott Pilgrim vs. The World: The Game - Complete Edition foi uma boa surpresa. Aliás, todo o universo caótico, surrealista e estapafúrdio de Scott Pilgrim - onde incluo também o filme - é realmente um regalo tanto para os olhos, como os ouvidos. Recomendo que, para quem ainda não conhece a série, se informe um pouco antes de jogar o jogo, já que o mesmo não tem qualquer diálogo ou outro tipo de indicação sobre o que está a acontecer. Poderão ainda haver momentos sérios de frustração, especialmente nas fases iniciais, mas o jogo oferece realmente um grande replay-value e, assim que a personagem sobre de nível, o combate fica efectivamente mais fácil. Por isso, toca a ajudar o Scott a ficar com a Ramona!

Nota: Artigo efetuado com base em acesso ao jogo através do serviço Stadia, gentilmente cedido pela Google.

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