Turrican Flashback


Nunca pensei que iria ter a oportunidade de jogar o Super Turrican novamente numa consola Nintendo, quanto mais a essa experiência adicionar os outros três jogos da popular série que fez a sua estreia na Commodore 64, no agora distante ano de 1990. Felizmente, graças à acção conjunta da Factor 5 (responsável pelo port para a Amiga) e da Ratalaica Games, tive essa oportunidade de o fazer nesta magnífica colectânea para a Switch, apropriadamente denominada de Turrican Flashback. 

Flashback apresenta-nos as versões originais de Turrican, Turrican II: The Final Fight, Mega Turrican e Super Turrican, com algumas actualizações mais contemporâneas no gameplay, como é o caso dos Save States, que nos permitem salvar o nosso progresso em qualquer zona do jogo e a mecânica do Rewind (muito similar ao que pode ser encontrado nas recentes entradas na série Fire Emblem, por exemplo). Este modo permite ao jogador rebobinar qualquer acção que tenha tomado durante o jogo e com isso evitar perda de vidas desnecessárias. A juntar a isso temos ainda cheat codes que nos são disponibilizados no menu inicial, para cada um dos quatro jogos, e que vão de 99 vidas, até à escolha dos níveis. 



Relativamente aos jogos propriamente ditos, comecemos por falar um pouco do progenitor da série, Turrican de 1990. Um jogo de acção e aventura, com muitas plataformas e algumas secções de shooter horizontal, Turrican coloca-nos na pele do herói biónico que dá o nome à série, no seu esforço por resgatar o mundo devastado de Alterra da tirania da inteligência artificial chamada A.I.MORGUL. O herói terá pela frente uma variedade de inimigos que vão de outros guerreiros biónicos, a robôs voadores ou formas de vida alteradas drasticamente por MORGUL de forma a servirem os seus propósitos destrutivos. Para além disso, muitas armadilhas (no formato de poços sem fim, picos, etc...) e desastres naturais (trovoadas repentinas e queda de pedras) aguardam o nosso herói e testam a sua resiliência. A juntar a isso estão gigantescos bosses que nos surgem pelo caminho e que podem ir de mãos metálicas enormes, a anfíbios monstruosos ou nacos de carne disformes).

Para conseguir ultrapassar grande parte dos níveis (carregados de plataformas), o jogador deve fazer uso da capacidade de salto de Turrican, que é bastante elevada (aos níveis do Luigi em Super Mario Bros II, diria mesmo), de forma a conseguir navegar nos extensos e labirínticos cenários que o jogo oferece. É certo que teremos uma pequena seta a indicar o ponto de saída do nível, em algumas situações, contudo na maioria dos casos, a nossa progressão depende muito da nossa exploração, rapidez e reflexos. Tirando forte inspiração do Metroid, Turrican está repleto de áreas secretas, blocos escondidos, caminhos mais rápidos e múltiplos power ups para serem encontrados. Para se proteger, o nosso protagonista possui um vasto e generoso arraial de armamento. Como Samus, também Turrican pode assumir o formato de uma bola (no seu caso espinhosa), que lhe aumenta drasticamente a velocidade e dá-lhe invulnerabilidade em relação a ataques inimigos. Contudo, nesse formato a muito necessária capacidade de salto está negada e mesmo o gameplay de Turrican fica mais errático. Existe um power up de invencibilidade, que envolve a nossa personagem numa aura de estrelas, mas cuja duração é extremamente curta. A juntar a isso temos um raio contínuo que serve para devastar certas partes do cenário e atacar inimigos, assim como uma arma regular, a qual servirá como a nossa main na maioria do jogo. Tanto uma, como outra não têm limite de munição, se bem que só a segunda pode ser alvo de power ups. Estes power ups, recolhidos durante os níveis podem ir de um devastador Straight Shoot, até ao muito útil Spreader. Para além destas armas, temos ainda acesso a um conjunto de armas finitas, na figura de detonadores (colocados no solo), ondas de choque (uma espécie de ataque especial que limpa dos os adversários que estejam à esquerda e direita da nossa personagem) e balas explosivas (muito úteis nas batalhas com os bosses).



Para além de power ups e de energia, temos cristais para recolher e alguns 1UP's para encontrar. Os níveis, bastante longos, são coloridos e detalhados, indo da superfície do planeta, a áreas aquáticas, espaço sideral e bases mecanizadas, entre outros. A juntar a isso está a banda sonora excepcional desenvolvida por Christopher Hülsbeck. Em Turrican, existem três formas de sermos derrotados. Se perdermos toda a energia (o que não é muito difícil para os mais distraídos), cairmos numa armadilha fatal (ex: poços) ou se o tempo chegar ao fim. Em qualquer um dos casos, o jogo coloca-nos exatamente no sítio onde perdemos, a menos é claro que tenhamos esgotado todas as vidas. Nesse caso, teremos que começar no início da área, fazendo uso de um dos inúmeros continues do jogo. 


O segundo jogo desta colectânea, Turrican II: The Final Fight, é de 1991(também para a C64) e coloca-nos na pele de Bren McGuire, um sobrevivente da nave Avalon-1, que visa vingar a morte dos seus companheiros às mãos da criatura conhecida como The Machine. Num jogo cuja acção de passa agora no espaço sideral de Aldebarran 42, Bren utiliza a armadura conhecida como Turrican, como forma de enfrentar o temível ser e os seus múltiplos aliados. Turrican II faz regressar grande parte dos elementos do seu antecessor, introduzindo melhorias significativas a nível gráfico e sonoro, assim como alguns tweaks no equipamento do protagonista e na estrutura dos níveis. A banda sonora é ainda melhor e o jogo conta com vozes, que se podem ouvir quando a nossa personagem apanha um power up.

Com níveis ainda mais longos, cheios de cor e detalhe, Turrican II mantém o mesmo nível de acção e acrobacias, ao mesmo tempo que amplia a parte da exploração. Bren conta com a capacidade de saltar em certos adversários, assim como mais power ups para a arma normal. Para além dos encontrados em Turrican I, aqui temos também uma bola de fogo que pode ser lançada e o fantástico Bouncer, que faz os nossos disparos balançarem pelo ecrã. A juntar a isso, foi dada uma maior flexibilidade ao nosso raio contínuo e um maior alcance à onda de choque. A capacidade de se transformar em bola regressa, desta feita com maior controle, capacidade de largar pequenas bombas e efetuar um ataque especial com esta. O resto das armas secundárias finitas desaparece e a dificuldade sofre um ligeiro incremento, embora continue em níveis bastante aceitáveis. 



O terceiro jogo, Super Turrican, foi lançado originalmente em 1993 para a SNES e é ele todo uma espécie de remake/mistura dos dois títulos originais da série. A história é diferente e consiste em salvar o planeta de Katakis da ameaça da The Machine. Uma vez mais cabe ao nosso protagonista vestir a armadura de Turrican e combater este adversário. Este jogo é mais pequeno que os anteriores e junta cenários e bosses dos dois títulos originais, mantendo contudo a sua natureza exploratória e gameplay relativamente intacto. Grande parte dos power ups presentes em Turrican II mantêm-se, com a excepção do disparo contínuo, que é substituído por um Ice Beam, com funções semelhantes às daquele visto na série Metroid. Grande destaque é dado aos detalhes nos níveis. A música continua absolutamente fenomenal, embora grande parte das vozes do segundo jogo tenham desaparecido. 


O quarto e último jogo, Mega Turrican, foi lançado em 1994 para a Mega Drive e, de todos os aqui presentes, é aquele no qual o foco incide mais sobre a acção, do que na exploração. Os níveis são mais curtos e lineares, com uma forte incidência a ser feita nas plataformas. Para guiarmos um regressado Bren na sua batalha contra o regressado The Machine, devemos fazer uso do novo grappling hook, de forma a conseguirmos aceder a plataformas de outra forma inacessíveis e ao mesmo tempo navegarmos por cenários repletos de perigos. Os níveis aquáticos em Mega são particularmente interessantes, com a mecânica a ser um pouco diferente da vista em Turrican I. Apesar destas diferenças, o jogo continua a manter uma maravilhosa banda sonora, gráficos bem elaborados e coloridos, assim como uma enorme variedade de inimigos e desafios. O nível de dificuldade continua bastante aceitável, com uma quantidade inicial de vidas e continues a ser bastante generosa (um staple nestes quatro jogos).



Em suma, e para quem quiser experimentar a génese de um dos melhores títulos lançados para a C64 e para a Amiga, assim como as suas versões Sega e Nintendo (numa altura em que a guerra das 16 Bits estava no seu auge), nada melhor que experimentar Turrican Flashback. Banda sonora fantástica, gameplay que decerto irá agradar fãs de jogos arcade e de Metroid, este quatro títulos em um é uma excelente adição à livraria de títulos da Nintendo Switch. 


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela PR Hound.

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