Dinosaur Island



Artigo escrito por Marco Silva.

Venho-vos falar de mais um jogo que nasce no Kickstarter e este envolve Dinossauros 😊. Estamos a falar do Dinosaur Island, um dos grandes sucessos da Pandasaurus Games, criado por Jonathan Gilmour e Brian Lewis.

O Dinosaur Island é um jogo de tabuleiro que fez um grande sucesso no Kickstarter em março de 2017, com mais de 5.600 apoiantes dessa primeira versão, e que relança a campanha novamente em abril de 2018 e consegue mais 18.300 apoiantes, ao lançar a expansão, com possibilidade de voltar a adquirir o jogo base. Desde então, já foi lançado o jogo em retalho normal e continua a vender e a conquistar os corações e mesas de jogadores por este mundo fora.



O jogo é enorme, mas quando digo enorme é mesmo enorme, principalmente a versão do Kickstarter que tem figuras de dinossauros que fariam o Steven Spielberg muito orgulhoso 😊. É uma das primeiras coisas que vão reparar no jogo, é que o jogo é incrivelmente vistoso na mesa. Se virem este jogo num evento de boardgames, primeiro quem o está a jogar, ou juntou 2 mesas ou está na maior mesa do evento, depois tem imensa cor e montes de peças em cima da mesa e essa combinação é altamente chamativa.

Em Dinosaur Island, vestimos a pele de um empreendedor de um parque de diversões que entre outras coisas tem dinossauros (e sim, isto é muito parecido com um certo filme de dinossauros que correu um pouco mal para os visitantes, continuem a ler que vão gostar 😉). O nosso objetivo é ganhar prestígio no nosso parque, para atrair mais pessoas que vão deixar mais dinheiro no nosso parque, e nós vamos converter isso em mais atrações que trazem mais prestígio, etc... No final, algumas destas ações dão-nos pontos, outras tiram-nos pontos e assim vamos gerindo o nosso império de parque de diversões jurássico.

 


É notória a inspiração temática do jogo em Jurassic Park, mas de todo não é um jogo sério ou negro, muito pelo contrário é cheio de humor e muito colorido, com uma arte muito berrante e com traços muito característicos, que para muitos até poderá ser dissuasor e não agradar graficamente, mas que para outros como eu, adoro e acho que lhe dá muita personalidade.

A nível de mecânicas, é um jogo muito engraçado pois mistura mecânicas de worker placement, com tableau building/set Collection e Tile Placement... é uma loucura mesmo. O jogo tem fases em que, em diferentes zonas do tabuleiro, estamos a jogar uma das mecânicas e usamos as coisas que conseguimos conquistar na fase anterior para construir a fase seguinte e seguinte, até à última fase onde entram os visitantes e pontuamos.

 


Uma mecânica muito interessante e que é não só muito temática, mas também uma peça essencial de construção de jogo e de estratégia é a gestão de recursos de ADN. No fundo, temos de andar na primeira fase a lutar por conseguir ADN, que depois mais tarde vamos usar para criar dinossauros para os quais temos de conseguir arranjar receitas e colocar no nosso parque. É uma loucura toda a estratégia com o ADN, e transformar ADN simples que podemos combinar para criar ADN mais complexo, e ADN complexo que pode ser dividido em mais simples. Também é um ponto muito único a nível de componente do jogo, pois o ADN aparece em dados que são rolados no início de cada turno, e que determinam um mercado de ADN para todos os jogadores competirem na primeira fase. Os dados são numa cor âmbar incrível, a fazer lembrar o âmbar que no Jurassic Park era referido como a forma que tinham de encontrar os insetos que mordiam os dinossauros, e que depois ficavam preservados lá juntamente com o ADN do dinossauro que tinha sido mordido.

 


Todos os tabuleiros, as mecânicas de mercados e as fases competitivas no centro do tabuleiro no início da ronda, e depois as fases simultâneas e independentes que cada jogador toma no seu tabuleiro de jogador, aplicando tudo o que conseguiu conquistar no início da ronda ao seu tabuleiro, por forma a pontuar o máximo possível. Tudo isto faz o jogo ser muito interessante e cativante. 

 


Contudo, o jogo é mesmo muito grande, e no início, como não vão tirar partido das partes simultâneas, o jogo vai ser lento, muito lento e demorado. E, pelo tamanho e quando se fala em “cada ronda tem 5 fases” e olhamos e vemos lá 1 tabuleiro para cada fase, muitos jogadores vão ser afastados por medo de ser demasiado complexo. A verdade é que sem dúvida que isto não é um jogo de entrada no hobby, contudo não é um jogo complexo também. Sinto que tem muitas fases, e um grupo pouco experiente irá necessitar de seguir o manual, fase a fase, para não se perder. Contudo, como o que podemos fazer numa fase está confinado a uma parte do tabuleiro maior, isso reduz o jogo a momentos e pequenas iterações focadas, em que nenhuma individualmente é complexa. O complexo é seguir o fio condutor até ao fim e montar a estratégia. O que pode ser também confuso são as mecânicas diferentes em diferentes tabuleiros, mas a disposição recomendada dos componentes e das fases ajuda muito a tornar as coisas mais simples e rápidas.

Uma mecânica muito gira e que dá um toque de humor muito interessante ao jogo é a do nível de risco/segurança que temos no parque. Durante o jogo, sempre que adicionamos dinossauros mais perigosos, o nosso prestígio normalmente aumenta mais do que os menos perigosos, mas também aumenta o nível de risco, e se não investirmos em segurança para compensar isso, então no final da ronda, antes de contarmos os pontos, vai haver visitantes que vão ser comidos pelos dinossauros, custando-nos pontos. Mas mesmo quando temos o risco controlado em cada ronda, o risco pode ainda subir para todos os jogadores por um valor determinado pelos dados de ADN que não foram comprados. Isto é muito bem feito e alinhado tematicamente, e cria momentos muito divertidos durante o jogo.

Um outro pormenor de jogo engraçado é o de terem criado 2 tipos de meeples de visitantes, os normais e os hooligans. Os hooligans passam à frente nas filas, e pior do que isso, não pagam bilhete de entrada. Ainda por cima, quando os dinossauros comem pessoas, os hooligans são os últimos a serem comidos. No final, quando contamos os pontos, estes hooligans não valem pontos.

 


Umas características que tenho a realçar da versão Kickstarter é a qualidade dos componentes que foram melhorados na versão 2 do jogo, à parte da quantidade puramente absurda de tipos diferentes de dinossauros, todos em plástico rosa-choque e cada qual com o seu recorte a simbolizar uma espécie diferente. Já para não falar nas moedas metálicas do dinheiro, que são incrivelmente detalhadas, e até o marcador de primeiro jogador é uma daquelas pulseiras metálicas que batemos com elas no pulso e elas enrolam-se à volta do pulso. Até os tabuleiros de jogador são de uma qualidade incrível, com 2 camadas de cartão e indentações para colocação dos marcadores de ADN e Níveis de Segurança e ameaça. Só lamento os meeples que são muitos, mas poderiam ter sido um pouco maiores, e o saco (também esse de elevada qualidade e detalhe), mas que é tão grande que eles quase se perdem no próprio saco.

 


Opiniões finais

Como opinião final, irei basear-me no sistema D.I.C.E., onde irei tocar os tópicos de Dinâmica, Inovação, Continuidade e Entretenimento.

Dinâmica

Este é um jogo muito único, com montes de mecânicas diferentes em diferentes fases, e que enche a mesa. O facto de ter fases simultâneas quando passa para os tabuleiros de jogador faz com que o jogo acelere um pouco se os jogadores já estiverem mais habituados ao jogo. Como todos os worker placements, se o vosso grupo tem muito AP, então possivelmente o jogo vai-se alongar um bocado. Mas o jogo dá gozo de jogar, e como tem uma condição de terminação determinada por um conjunto de objetivos que estão em baralhos separados que determinam a duração do jogo (temos objetivos para jogo rápido, médio e longo), podemos usar isso para nivelar a duração ao grupo e manter o jogo interessante e dinâmico.

Inovação

Eu adorei a forma como as mecânicas se encadeiam neste jogo. Para jogadores menos experientes, estas fases quase todas independentes e com mecânicas únicas, vai parecer que estamos a jogar 3 ou 4 jogos diferentes, e isso pode tornar o jogo estranho e até confuso. Contudo, existe uma capacidade de planeamento muito boa e bem feita, em que estamos na fase 1 a comprar ADN e depois vamos comprar atrações e converter ADN, para depois usar os nossos trabalhadores para construir o parque e ganhar imensos pontos. Vemos e sentimos mesmo o encadear de decisões, mas sem ser demasiado pesado.

Continuidade

O jogo é incrivelmente recheado de componentes. Já o joguei imensas vezes e ainda sinto que os próximos jogos vão ser diferentes, entre as cartas de objetivo que são todas diferentes e que combinadas fazem um jogo por si, as cartas de especialistas que, como são únicas e todos concorremos para as ter, nem sempre conseguimos ser nós a usá-las na nossa estratégia, e claro também são muitos e não saem todas em todos os jogos. E claro, temos as receitas de dinossauros que também não as conseguimos normalmente ver todas numa partida nem em duas, e muito menos sermos nós a usá-las. Por isso facilmente o jogo volta à mesa para repetirmos a experiência de uma forma nova e diferente.

Entretenimento

É sem dúvida um jogo muito divertido, com uma componente de humor muito particular, mas bem colocada, com um esquema de cores muito único e que convida à sua forma divertida e muito pouco séria. Por ter todas estas fases, é um jogo que obriga a planeamento e isso pode trazer um pouco de AP nos grupos e retirar alguma da diversão do jogo, mas ainda assim, com a componente simultânea nas últimas fases, isso volta a acelerar.

 


Em resumo, Dinosaur Island é um jogo que merece ir à mesa muitas vezes, tem uma quantidade e qualidade de componentes incrível, e é mesmo muito jogo para uma caixa daquele tamanho (literalmente quase não fecha a caixa com tanto componente). Sem dúvida que não é um jogo de entrada, mas também não é um jogo ultra complexo, apesar de parecer pelo número de componentes e fases. Não se deixem assustar e deem uma oportunidade que acredito que não se vão arrepender.



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