Bravely Default II


No meio de muitos RPGs que marcaram a Nintendo 3DS surge Bravely Default, um RPG cuja premissa era voltar à raiz da série Final Fantasy, mas com uma certa modernização tanto a nível técnico como de jogabilidade. O resultado foi bastante positivo, tornando-se um dos jogos a recomendar na consola, recebendo ainda uma sequela denominada de Second, ambos que exploraram a fundo todas as funcionalidades da consola.


Bravely Default II chega com um nome que pode confundir um pouco, uma sequela na íntegra com um mundo e história completamente novos, continuando a fórmula de RPG “à antiga” que nos faz voltar um pouco aos tempos da Super Nintendo. Muito da base deste jogo foi bem construída na 3DS e a sua transição para o HD e o ecrã da TV não conseguia estar melhor! Um dos pontos que mais me surpreendeu foram os cenários das cidades, autênticas ilustrações que evolui o efeito “livro pop-up” da 3DS, agora com mais detalhe e que me lembraram os visuais de Legend of Mana, um clássico da Square Enix que curiosamente será relançado dentro de meses. Já as personagens mantêm idênticas, agora com mais detalhe principalmente nas suas expressões e ganham mais vida em sequências animadas. Talvez dos pontos que menos apreciei foram os visuais das masmorras, que embora sejam na mesma ricas em detalhe, são menos interessantes quando comparamos com os lindos cenários ilustrados das cidades.

A fórmula do jogo mantém-se fiel, com algumas alterações que fazem com que este novo jogo seja algo distinto embora o seu enredo seja familiar. 4 cristais governam o mundo e caindo nas mãos erradas algo cataclísmico acontecerá, cabendo aos nossos 4 heróis prevenir que tal aconteça. Desta vez temos todo um leque de personagens novas e uma região completamente diferente sem ligações com os restantes jogos. No decorrer da sua aventura encontramos Asterisk Holders que nos dão novas classes (Jobs) quando os derrotamos e desta vez os Asterisks têm uma maior importância, estando bastante envolvidos na história, tal como os seus antigos donos que não desaparecem subitamente após serem derrotados.


Temos à nossa frente uma nova região a explorar mas com menor dimensão, quando comparado com o mapa do mundo dos jogos anteriores, um continente dividido por zonas que se vão desvendando à medida que avançamos entre capítulos. Desta vez os inimigos estão sempre presentes no ecrã e, dependendo do nosso nível, ou vêm a correr ter connosco ou fogem, desaparecendo assim a mecânica de gerir as random battles substituídas por um conjunto de itens que tanto nos ajudam a fugir dos combates como os chamam.

É possível focar apenas na missão principal, mas é nas missões secundárias onde muito, mas muito acontece! São ímensas e com ótimas recompensas que nos ajudam bastante e, pelo meio, há um grande desenvolvimento dos personagens (principais e não só). O próprio mapa conta com zonas completamente opcionais que podemos nunca ver, se seguimos apenas a missão principal. Dei por mim a encontrar locais belíssimos e a ser recompensado pela minha curiosidade, desde itens a novas regiões, resultando em bastantes horas de história que nunca veria sem ter explorado o mapa.

Provavelmente a maior diferença que surge é algo que afastou muitos jogadores dos anteriores jogos: desta vez não andamos a repetir capítulos passados, não lutamos contra os mesmos bosses ou andamos pelos mesmos cenários. Há boas surpresas pelo meio, mas que não entro em detalhes, convidando a desfrutarem da história do jogo até ao seu final. Deixo também a nota que, se nunca jogaram Bravely Default ou Second, não é imperativo que o façam antes de jogar este (embora o recomende, por serem ambos jogos memoráveis!). Sinto que a história se encontra um pouco entre o primeiro e o segundo, ficando aquém do nível de boas surpresas proporcionadas no primeiro jogo e falhou um ou outro momento chocante, mas ainda assim conseguindo cativar ao longo das várias horas que temos pela frente.


Pelo meio distraímo-nos e jogar “Bind and Divide”, um viciante minijogo de tabuleiro que usa cartas e estratégia. A minha primeira reação foi que se tratava do “Triple Triad” do jogo, mas há uma jogabilidade mais profunda e sem regras aleatórias, que nos leva a criar decks de cartas que combinam entre si. Outra funcionalidade extra é um barco que podemos enviar a explorar o mundo e, em troca, recebemos dinheiro, itens ou ainda objetos que nos dão experiência, tudo isto enquanto temos a consola desligada. Uma espécie de substituto ao StreetPass, onde podemos até ligar à internet, mas durante esta análise não consegui tirar o real partido da ligação.

Um dos pontos negativos a apontar são os vários soluços que senti durante o jogo, são imensos os loadings com quebras notórias, antes de entrar em cutscenes. Mesmo entrando em combate era normal ver os inimigos parados alguns segundos até decidirem finalmente atacar. Fora isso não senti outros problemas técnicos, apontando que o fast-travel entre cidades causava cadeias de loadings que, por impaciência, me fazia pensar se queria ou não viajar para cumprir missões secundárias.

O combate é bastante familiar, contando com uma ou outra novidade que resulta numa evolução positiva. Desde a presença de personagens convidados em certas ocasiões, uma espécie de quinto personagem controlado automaticamente, à ATB que nos indica quando é que o personagem vai agir. Dois pontos que me agarraram foram os Jobs que obtemos e a dificuldade dos combates. Quase todos os Jobs são novos e, mesmo os repetidos ou aqueles que parecem ir buscar uma forte influência noutros já existentes, as suas habilidades são bem diferentes dos 2 jogos anteriores. Há sempre uma forte curiosidade em ver o que cada Asterisk traz consigo, olhar para as habilidades que desbloqueamos em cada um e ver como conseguimos conjugar com outros, criando uma party bastante sólida.


Esta exploração dos Jobs tem um propósito, conseguir responder aos desafios que o jogo nos coloca! Não quero com isto dizer que é um jogo difícil, recomendo muito o modo Casual para os que não quiserem estar bloqueados em certos combates, mas há vários bosses que nos fazem suar bastante. "Todos" os combates acabam por ser importantes, são muitos os inimigos que contra-atacam os nossos movimentos e se simplesmente usarmos todo o nosso BP e atacar logo, damos pelas nossas personagens caídas no chão em poucos turnos. Houve combates importantes que me fizeram repensar a equipa, explorar outras habilidades e estratégias que conseguissem responder melhor às habilidades do inimigo. Batalhas em que o inimigo respondia a praticamente todos os nossos movimentos, mesmo a simples ação de curar ou aplicar algum boost, resultava numa reação do inimigo. E isto deu-me um gozo tremendo!

Um sistema rico em customização, onde até o peso do equipamento é um fator decisivo, onde cada estatística é considerada se quisermos tirar o máximo de partido das personagens. Claro que a qualquer momento podemos premir um botão que o equipamento recomendado é automaticamente colocado, mas acabei por andar a escolher peça a peça em cada personagem, num processo que até é bastante rápido. Decidir que uma personagem é mais focada em pontaria e ataques crítico, enquanto outra foca-se na defesa e protege a equipa, havendo bastantes habilidades que tiram partido dessa estratégia. Os fãs de RPGs com este tipo de desafio têm aqui um bom jogo para explorar e, ao mesmo tempo, os mais inexperientes podem-se focar apenas em diminuir a dificuldade a qualquer momento e focarem-se apenas num ou outro Job, que mesmo contando com alguns desafios pelo meio conseguirão avançar história fora.


Há atalhos que tornam o combate mais rápido, gastar Brave Points para ganhar movimentos extra ou usar o Default (defesa), repetir exatamente as mesmas ações de turnos anteriores da personagem, estão à distância de um botão. Cada Job tem uma habilidade especial designada que ajuda tremendamente no combate, e facilmente sabemos quantas ações faltam para as ativar. Do mesmo modo ao analizar os inimigos podemos facilmente ver as suas fraquezas, mas peca por não apresentar os danos que são imunes ou até mesmo absorvem.

Tudo isto está sempre embelezado por uma banda sonora incrível com temas impressionantes que nos ficam nos ouvidos durante bastante tempo. Não chega ao nível do primeiro jogo, não temos aqui uma música épica ao nível do combate final do primeiro Bravely Default, mas todas as músicas são excelentes. O voice acting, seja ele em inglês ou japonês também é bastante, enquadrando-se perfeitamente nos personagens todos. Ser acompanhado por músicas com pequenas alterações quer no mapa do mundo como nas masmorras, enquanto cortamos a relva presente à procura de itens ou dinheiro, ajuda imenso na exploração.


Em suma, Bravely Default II é um RPG exemplar, principalmente para os que procuram algo mais tradicional, que gostam de sistemas de combate que fazem pensar e explorar de tal modo que queremos “quebrar” a jogabilidade para aniquilar os inimigos. Um jogo que se tornou num dos meus RPGs favoritos da Nintendo Switch, que após o ter terminado (e foram precisas várias dezenas de horas), continuo a jogar até completar todas as missões secundárias, subir todos os Jobs ao máximo nos personagens e ver se existem pontos no mapa que deixei por explorar.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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