Mario Kart World


Se há série que é grande sinónimo de Nintendo, é Mario Kart. São jogos que movem milhões, que durante décadas fizeram reunir grupos à frente da TV em longas sessões de jogo e que sempre fico curioso com o que será lançado quando há uma consola nova. Custa-me acreditar que foi há 11 anos que tivemos Mario Kart 8, o último jogo da série lançado na Wii U, que surge anos depois na Nintendo Switch com mais conteúdo e, ainda, um DLC que fez crescer o número de pistas para 96.

Durante este tempo todo pensava "bem... como será o próximo?", atendendo ter ali um jogo em que planamos, andamos debaixo da água e desafiamos a gravidade. O que quer que viesse teria de ser diferente, não imaginava como, sendo que a minha resposta estaria ali no primeiro trailer que apresentou a Nintendo Switch 2. A longa espera de uma década por um novo jogo da série terminou agora, com o lançamento de Mario Kart World!


Este é um jogo familiar, ao mesmo tempo que se distancia do resto da série ao modo como ela foi pensada. Logo no início somos enfrentados com esta mudança, poucos segundos após arrancar o jogo podemos de imediato entrar no jogo e conduzir Mario através do Modo livre, conduzindo pelo grande mapa que forma o mundo deste jogo. Esta foi a evolução que não contava, quando pensava há um par de anos: conforme o nome dá a dica, Mario Kart World explora o estilo de jogo open-world em que exploramos um enorme mapa à nossa vontade, onde tudo o que é pista está lá presente para a nossa livre condução. Mapa este que faz sentido, entre locais novos e outros icónicos é um mundo bem pensado, criado e, acima de tudo, bastante diverso.

Mas... não se preocupem. O Mario Kart tradicional continua bem presente, podemos a qualquer momento saltitar entre menus e dar as (geralmente) três voltas à pista e sagrar-nos campeões do momento, onde para tal escolhemos o modo Confronto, onde definimos as nossas próprias regras, escolhemos a pista e siga, umas voltinhas. Falei neste modo e não no Grande Prémio por um motivo bem simples: ele existe na mesma, contudo eles quiseram esfregar bem nas nossas caras que este é um jogo open-world, pois embora tenhamos quatro pistas em cada taça, elas estão todas interligadas. Ou seja, embora a primeira pista seja as voltinhas do costume, as que se seguem obrigam-nos a conduzir pelas estradas ou caminhos que nos levam ao destino, damos uma volta à pista em si e está a corrida terminada.

É algo bastante interessante, mesmo no modo Confronto podemos escolher correr por estes caminhos e cada pista, do nada, transforma-se em diferentes variantes fazendo com que hajam (tecnicamente) centenas de pistas diferentes, embora os resultados sejam semelhantes. No entanto... gostava mesmo de poder, simplesmente, ter um modo mesmo tradicional onde o foco está totalmente nas pistas, sem os entretantos que muitas vezes são linhas retas com alguns momentos sem o caos frenético que a série nos habituou. Há, ainda assim, algo que mantém a corrida bem viva! O número de pilotos subiu agora para 24, uma quantidade nunca antes vistas que propocionam um delicioso caos onde num segundo podemos passar do primeiro lugar para o décimo, ou até mesmo para o último lugar caso o caos não cesse. 


Graças a todas estas personagens na corrida o jogo não conta com grandes momentos mortos, mesmo quando pensamos que está tudo assegurado. Ainda assim há uma ou outra reta onde parece que nada acontece e levou-me a gostar menos do modo Grande Prémio como gostaria. Seja nele ou noutras partidas quaisquer, mesmo online, como a série nos habituou Mario Kart World conta com várias novas pistas e algumas que regressam de títulos passados, constituindo um bom número de 32 circuitos a enfrentar. Não, não chega perto do que Mario Kart 8 Deluxe conseguiu através dos DLCs, mas, quem sabe se no futuro também não teremos mais pistas adicionadas, com regiões novas a surgir no jogo. Há pistas que regressam que estão bem diferentes, como o caso do Mario Bros. Circuit muito retro, ao bom estilo da Super Nintendo que agora engloba 3 pistas numa só! E, por falar em pistas, a Rainbow Road que nos trouxeram a este jogo… bem. Digo apenas que é a melhor que alguma vez tive o prazer de correr na série!

A par de outros modos que regressam como Batalha ou Contrarrelógio, a grande novidade deste jogo é o modo Eliminatória, uma corrida onde temos de manter a melhor posição possível para não ser, bem, eliminados da competição. Aqui o que reina são os caminhos que ligam as diferentes pistas, levando-nos a correr uma grande extensão do mapa com seis checkpoints, entre alguma mistura das pistas que vamos encontrando pelo caminho. Honestamente? Diverti-me bem mais neste modo do que contava, principalmente online onde o caos reina facilmente e sinto a pressão do jogo, tentando ter a melhor prestação possível. Por falar em prestação, senti que Mario Kart World é mais desafiante que os anteriores, vi os meus adversários (controlados pelo CPU) a usar bem os itens, atalhos e ir propositadamente às caixas duplas de itens especiais, dando-me mais pica a jogar no modo para um jogador.



Novas técnicas, velhos hábitos

Como é habitual temos um leque de novas habilidades para usar (e abusar) durante a condução, dando-nos uma boa quantidade de truques para alcançar o primeiro lugar. Desaparece o modo antigravidade do jogo anterior, em prol de mecanismos em que, curiosamente, parece que desafiamos mesmo a gravidade! Em Mario Kart World podemos andar sobre carris, como se fossemos skaters, fazer truques contra as paredes e correr nelas durante breves segundos (ou até mesmo contra veículos!), mantendo sempre vivo o momentum da corrida. É um jogo muito mais técnico quando comparado com os anteriores, ao mesmo tempo que é mais físico com embates mais realistas que conseguimos recuperar facilmente, até porque regressou o boost de aceleração quando somos trazidos de volta por Lakitu, isto se premirmos o acelerador no momento certo.

Temos duas novas técnicas para o jogo e evolução de outras. Nas novidades temos o Salto carregado, que a qualquer momento ao premir o botão de drift o nosso kart (ou mota) carrega energia, resultando num salto, perfeito quando queremos saltar por cima de um veículo, para um carril ou parede, ou até mesmo contra adversários que podemos usar como plataforma. Podemos também rebobinar a qualquer momento, isto se estivermos a jogar sozinhos, seja para quando falharmos alguma coisa ou até mesmo para nos desviar das Blue Shells, uma mecânica que não usei assim tanto, até porque os meus adversários continuavam a corrida normalmente.


Há novos itens para usar (e abusar), como o Martelo que dificulta bem a vida aos outros condutores, tal como a Flor de Gelo que despista os adversários em parte semelhante à Flor de fogo, mas, com a vantagem de dificultar a vida a quem é atingido, durante algum tempo. Há a Carapaça de moedas e o Bloco ? que nos dão muitas moedas, bem necessárias, pois agora podemos ter até 20, extremamente valioso para mim porque não descansei até desbloquear todos os veículos, que recebemos à medida que as colecionamos. Temos o regresso de alguns itens como a Pluma para breves saltos, prático para ir a locais difíceis de alcançar ou para desviar de carapaças ou outros perigos na estrada, juntamente com o Megacogumelo, um dos meus itens favoritos que está de volta, podendo esmagar tudo e todos pelo caminho.

Desaparece também o planador, sendo trocado por um par de asas nos veículos que podemos executar troques enquanto planamos, ajustando-nos facilmente sempre que necessário. Com todo este arsenal de itens e truques senti que tive de reaprender a jogar Mario Kart, adaptando-me facilmente às novidades e a algumas surpresas. É um jogo mais técnico, físico até, com novidades como poder apontar itens contra os adversários com o analógico da câmara e disparando todas as carapaças verdes que quisermos, entre outros itens que normalmente seguem uma linha reta. Não é fácil, é mesmo uma questão de hábito, mas alterou o modo como jogo.



A beleza do mundo aberto

O open-world é, sem grandes dúvidas, o grande selling point do jogo, levando-nos a explorar Mario Kart como nunca antes! Aquilo que dantes eram apenas corridas pelos circuitos e pouco mais que isso, agora podemos explorar tudo ao nosso bel-prazer, o que muitas vezes resultam em ter muitas novas oportunidades de atalhos para a corrida. Continuamos "fixos" a um percurso, mas este pode ser explorado através de cortes ou andar a saltitar parede em parede, recompensados por breves boosts que nos aceleram, sendo que o modo Eliminatória é aquele onde usufruímos melhor desta liberdade de exploração, pois há mais caminho a percorrer para chegar à meta.

Mas, esta exploração é para tirar proveito mais no Modo livre, com um mapa recheado de surpresas que me fez jogar mais do que simplesmente vencer os Grandes Prémios ou as corridas online. Há blocos escondidos que nos desbloqueiam stickers (para podermos usar no veículo), moedas especiais e, principalmente, muitos interruptores P que iniciam breves desafiantes missões de alguns segundos, criando muito conteúdo que não vou descansar até obter tudo. Há um novo item, a comida, que praticamente nos dá um pequeno boost como se fosse um cogumelo, mas, na realidade desbloqueia fatos para algumas personagens, algo completamente estético que agradeço a sua adição.

O mundo em si, tal como o jogo, está belíssimo, muito com a ajuda da capacidade técnica da Nintendo Switch 2! A água (que há muita) ganha toda uma física onde usamos as suas ondas para efetuar truques, agora que não podemos ir para debaixo dela. O clima altera quando um relâmpago é usado, com consequências ao nível de jogabilidade como também estético, agora que as personagens e veículos ficam sujos ou molhados. A própria hora do dia muda, trazendo dinamismo ao jogo que é principalmente estético, não sentido grande alteração nos imensos carros, camiões e não só que percorriam casualmente o mapa. Algo que se adapta ao terreno são os nossos veículos, que agora os seus pneus aumentam imenso de tamanho, para quando saímos da estrada, ou se transformam totalmente para andar na água, em algo muito familiar para os fãs de Super Mario Sunshine.


Enquanto belo e fluído, o jogo desapontou-me num aspeto, porque pensei que fosse desta que o modo de ecrã dividido a quatro jogadores corresse finalmente a 60 frames por segundo. Esta fluidez cai para metade como nos jogos anteriores, acreditando eu que seja pela extensão do mapa, embora não dê para explorar o Modo livre com outros jogadores, gostava de poder ter um modo "performance" quando tenho ecrã dividido, tornando tudo mais fluído quando jogo no mesmo ecrã com mais 3 jogadores. O ecrã dividido a dois continua fluido, no entanto.

A beleza deste jogo é rematada com enorme, mesmo gigantesca banda sonora com dezenas (se não centenas) de músicas que são uma ode não só a Mario Kart, como à série de Mario como um todo! São músicas que tocam enquanto exploramos, quando jogamos no modo Eliminatória com vários remixes que ficam bem no ouvido, parecendo por vezes que o jogo é um leitor de música como vi ser descrito várias vezes pela internet, nos últimos dias. Há ainda o modo de fotografia, podendo alterar a posição e expressões das nossas personagens, captando momentos únicos que tem vindo a ser hábito nos jogos mais recentes, ao que este jogo está um pouco (muito) atrás daquilo que vemos em vários outros títulos.



Um bom presente com um futuro, talvez, promissor

O jogo é um pacote bem completo e recheado de conteúdo, tendo presente o modo Batalha logo desde o início, fugindo do drama que foi a sua exclusão quando Mario Kart 8 foi lançado na Wii U. Ainda assim há conteúdo que está em falta, levando-me a crer que o jogo pode ter atualizações e / ou conteúdos adicionais descarregáveis, algo que teve uma muito boa receção no jogo anterior. 

Em Mario Kart World temos um enorme leque de personagens, muitos NPCs que nunca na vida pensaria que seriam personagens jogáveis, desbloqueados quando somos atingidos pelo item de Kamek, que nos altera o aspeto… mas, há uma grande falta ali no meio: os Mii. Poder jogar com o nosso Mii foi algo que fiquei habituado desde Mario Kart Wii, com todas as particularidades do seu tamanho ter consequências na jogabilidade. Desta vez, até ver, não tenho como usar o meu Mii no jogo, levando-me a pensar se não teremos uma atualização com mais personagens ou até mesmo pistas, atendendo que correr pela Ilha Wuhu de Wii Sports foi algo que aconteceu em Mario Kart 7.


Há potencial para futuras atualizações, conteúdos adicionais que fazem surgir novas regiões no mapa ou além do mesmo, com novas ilhas ou continentes, que podem ver regressar mecânicas antigas como a antigravidade ou até mesmo navegar debaixo de água, em locais que assim o permitam. É um mundo que gostaria de ver ser expandido ainda mais, levando-nos a locais temáticas onde poderíamos ver novemente circuitos de F-Zero, Animal Crossing ou The Legend of Zelda, entre outros universos da Nintendo.

Mario Kart World é um jogo que me vai acompanhar na Nintendo Switch 2, tal e qual como Mario Kart 8 Deluxe o fez na consola anterior, um jogo que joguei habitualmente mesmo até nos últimos dias antes do lançamento da nova consola da Nintendo. É o jogo fácil de pegar quando temos amigos ou familiares em casa, ou até, quando queremos jogar umas partidas online que, com o GameChat, até as nossas caras podem aparecer durante a corrida!


Gostava de poder ter um modo "clássico", onde jogava apenas os circuitos com as típicas voltas até à sua conclusão, sem a adição dos caminhos que ligam os locais no mapa do mundo, algo que poderá ser possível através de uma atualização, restando apenas saber se o querem fazer. Desaparecem os 200cc que nem quero imaginar como seria o caos a essa velocidade neste jogo, mas regressa o modo espelho onde tudo está ao contrário, modo que não é assim tão fácil desbloquear como nos jogos anteriores.


Há muito que ainda tenho de explorar em Mario Kart World, fatos para algumas personagens que mal toquei, muitas missões por fazer e coisas tão bem escondidas que sei que existem, só que ainda não as consegui. É um jogo que continua incrivelmente bem o legado criado pela série, que abraça agora o estilo open-world com bastante sucesso, criando agora um novo mundo a ser explorado de novas maneiras!

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch 2, gentilmente cedido pela Nintendo.

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