Luigi's Mansion 3


Podem umas férias de sonho tornar-se em pesadelo, e mesmo assim ser muito divertidas? Nada como perguntar ao Luigi, que acaba de chegar à Nintendo Switch em Luigi's Mansion 3. Afinal, mesmo que ele não se divirta assim tanto... diverte-se quem estiver a jogar!

Coisa rara, tudo estava bem no Reino Cogumelo. Tão bem, que a Princesa Peach nem pensou duas vezes quando recebeu o convite para umas pequenas férias num hotél de luxo, na companhia de Mario, Luigi e ainda alguns Toads. O problema é que rapidamente se descobre que isto não passa de uma armadilha e, na primeira noite de sono, todos são raptados por um grupo de fantasmas, aprisionados dentro de pinturas. Como assim, todos? Claro que não. Se há pessoa que não tem uma noite sossegada é Luigi que, ao mínimo ruído, acorda completamente assustado.

Assim começa a história de Luigi's Mansion 3, com o protagonista a descobrir que afinal está num hotel assombrado. A sorte dele é que, por coincidência, também lá tinha ido o Professor E. Gadd, o louco cientista obcecado por fantasmas, e com isso Luigi ganha acesso ao Poltergust G-00, o famoso aspirador que os pode capturar, agora com uma nova funcionalidade! Agora é possível criar uma cópia viscosa do Luigi, chamada Gooigi, e controlá-la por turnos com o Luigi, ou em simultâneo com dois jogadores em modo cooperativo, numa aventura recheada de "sustos" e muito sentido de humor.


Para quem jogou os títulos anteriores, se o primeiro Luigi's Mansion pecava por ser pequeno e ter pouca variedade de ambientes, mas no segundo faltava uma sensação de ligação entre os diferentes cenários, então este será uma surpreendente combinação do melhor dos dois... e muito mais.

Sendo este hotel um empreendimento turístico de luxo (embora assombrado), não pode faltar todo o tipo de experiências para se oferecer aos visitantes. A sua arquitectura tem um belíssimo estilo art déco, que vai desde a entrada e os quartos, até aos espaços de lazer incluindo o salão de refeições. Mas se o que se procura é algo mais diferente, que tal um piso totalmente dedicado à época medieval, ou o Antigo Egipto, por exemplo?

Com um total de 16 pisos para se visitar, é realmente impressionante a quantidade e variedade de cenários de jogo, da mesma forma que a experiência em cada um deles consegue ser totalmente distinta. Naquilo que parece ter sido uma festa de criatividade da equipa de desenvolvimento, o jogo oferece surpresa atrás de surpresa, trazendo a cada novo piso a mesma sensação de novidade.


Em cada piso existe uma temática própria e, em cada uma delas, elementos novos com os quais Luigi poderá interagir, tendo como ferramenta o seu aspirador e o companheiro Gooigi. A maior parte destes pisos explica a sua temática logo à saída do elevador, e se isto começar com uma pequena interação com uma nova mecânica, avançar pelo mapa irá tirar partido da mesma das mais variadas formas para resolver os diferentes puzzles.

Dito isto, nem assim há uma "fórmula" repetida de nível para nível. Se um piso tem um mapa recheado de salas e salas, outro pode ter apenas uma ou duas, outro pode até ter sub-pisos no seu interior. Por vezes, a história leva Luigi a revisitar um piso já anteriormente explorado, e mesmo assim consegue trazer consigo uma experiência diferente. Mas não é só a variedade de ambientes e mecânicas que impressiona, é também como tudo isto se liga de forma coesa.

Um dos "truques" que ajudam a ligar toda esta diversidade de ambientes está em toda a estética do jogo, o que vai para além da qualidade gráfica em si. Visualmente, tanto no modo TV como em portátil, o jogo tira todo o partido das capacidades da Nintendo Switch, cheio de efeitos de luz e partículas, texturas detalhadas, colocando-o ao nível de um filme de animação. Mas o que realmente impressiona vai para além disso, é mesmo a criatividade aqui apresentada. Um hotel nunca poderia ter um oceano no seu interior, pois não? Tal como muitas destas representações seriam falsas na vida real, aqui são igualmente recriadas como mera decoração.


Explorar e analisar este jogo podia bem ser um curso de game design. Mas se tudo isto é algo que passa ao lado de um qualquer jogador, o que não lhe será indiferente é a experiência de jogo em si.

Luigi's Mansion 3 é ao mesmo tempo um jogo de puzzles e de ação. Com o aspirador nas mãos, Luigi consegue tanto aspirar como mandar um bafo de ar. A lanterna, além de iluminar o caminho também consegue atingir os fantasmas nos olhos com um flash, deixando-os paralizados e mais vulneráveis a ser aspirados, sendo que quando estão agarrados pelo aspirador podem ser atirados contra o chão, ou contra outros fantasmas, deixando-os danificados. Além disso, é possível atirar uma ventosa com uma corda agarrada, seja contra um móvel do cenário como um escudo de proteção de um fantasma. Aspirando a corda, será possível arrancar fora o objeto em questão.

Para novos jogadores, controlar o Luigi poderá levar algum tempo de aprendizagem, utilizando um analógico para controlar a personagem e outro para a lanterna. A apresentação dos controlos é bastante simples e eficaz nesse sentido, mas haverá sempre um período inicial de habituação. Em alternativa, os controlos serão simplificados e também mais acessíveis jogando com apenas um Joy-Con, algo feito a pensar principalmente no modo Co-op para que, em qualquer momento, se possa partilhar a experiência com outro jogador. Já os mais experientes irão gostar de espreitar o menu com as opções de controlo, onde até poderão descobrir combinações de botões com atalhos úteis.


Se tudo isto são mecânicas para usar no combate, a resolução de muitos dos puzzles irá também depender das mesmas. Num exemplo básico, uma caixa poderá estar a esconder um interruptor. Atirando a ventosa, será possível arrancar a caixa do sítio e, assim, prosseguir com a aventura. Os puzzles, porém, são muito mais do que isto possa fazer parecer. Em cada piso há algo novo para descobrir, incluindo novas formas de interagir, o que por vezes dá mesmo muito que pensar.

Coisa rara: o jogo deixa pensar. Bloqueado numa sala? Só passado algum tempo virá uma mensagem a dizer algo simples, focado no cenário. Nem assim? Passado mais um pouco, aí sim o jogo dirá o que é suposto estar-se a fazer, mas somente e apenas nos puzzles que são precisos para se avançar na história principal. Pelo meio, ficam segredos e segredos para descobrir, incluindo uma coleção de cristais especiais escondidos pelos vários pisos, à espera de quem gosta de explorar. Esta última será uma grande fonte de "replay value", investigar os níveis passados até ao mais pequeno detalhe.

Em média, cada piso irá demorar uma hora a ultrapassar, cada um destes terminando habitualmente com o combate contra um boss, o espírito fantasma associado à temática em questão. Com isso, surge mais uma das surpresas deste jogo, a dificuldade que eles conseguem oferecer. Já que o jogo tem um sistema de "auto save" sempre que se entra numa nova sala, perder contra um boss não é tão frustrante como ter de voltar muito atrás. Sendo assim, porque haveriam eles de ser fáceis?


Os bosses são tão diferentes entre si como os diversos pisos do hotel, normalmente incorporando a temática dos níveis em que se encontram. Alguns poderão apenas ser uma versão mais complexa das mecânicas desse piso, mas a maioria será algo bem mais criativo e desafiante do que isso. Por exemplo, um boss fantasma musical fará do piano a sua arma, já um medieval colocará o jogador numa arena de combate. Cada um terá as suas próprias mecânicas e isso poderá levar a perder e voltar a tentar, estudar o comportamento e experimentar.

Para quem não gosta de perder, existem itens que podem ser comprados para ajudar a curar o Luigi e facilitar um pouco a experiência. O modo Co-op também poderá ser uma boa ajuda, já que dois jogadores pensam melhor do que um e poderão mais facilmente distrair os inimigos. Há ainda algumas áreas, sejam puzzles ou inimigos, onde será bem mais simples controlar em simultâneo o Luigi e Gooigi do que sozinho alternando entre eles, incentivando a convidar alguém para jogar.

Sendo um título cujo modo principal levará pouco mais de 15 horas a terminar, foram incluídas múltiplas razões para o revisitar. Encontrar e colecionar todos os cristais escondidos nos pisos, assim como os fantasmas Boo, que surgem depois de se ter passado o boss de cada piso, será mais do que razão para oferecer umas 10h adicionais de exploração neste hotel assombrado.

Mas nem só da aventura vive este Luigi's Mansion 3, oferecendo ainda dois grandes modos de experiências multijogador, desde minijogos numa só consola com o modo ScreamPark, até sessões de jogo com até 4 consolas em modo local ou online, no ScareScraper.

Minijogo Ghost Hunt, do modo ScreamPark
No modo ScreamPark, podem juntar-se desde 2 até 8 jogadores em frente à TV, para uma sessão de três divertidos minijogos, divididos em duas equipas para competir. Destes, o mais "normal" será o Ghost Hunt, onde todos estarão numa arena recheada de fantasmas para derrotar, e ganha a equipa que mais pontos conseguir. Quanto mais jogadores no ecrã, maior a confusão, e maior a surpresa do resultado final - afinal de contas, a piada dos minijogos está precisamente na diversão.

No minijogo Coin Floating, todos terão bóias gigantes para flutuar numa piscina cheia de moedas... e bombas! As bóias são controladas com o aspirador, sugando ou empurrando o ar de forma a movimentar tanto a bóia como os adversários, mas cuidado com as bombas pois rebentando a bóia também se perde todo o dinheiro. Um minijogo explosivo até ao último segundo, que foi inspirado num dos níveis do modo de história, pois esta mecânica flutuante era demasiado boa para não ser reaproveitada.

Finalmente, o Cannon Barrage será o ideal para colocar à prova toda a comunicação de equipa, exigindo a colaboração entre eles. Dentro de um forte, terão de colecionar bolas de canhão para depois serem disparadas de forma a acertar nos alvos de pontuação que vão surgindo ao fundo. Rapidez e pontaria serão importantes do lado de quem está a disparar, mas é importante que os colegas colaborem ao recarregar o canhão, até porque as bolas podem ser roubadas pelos adversários!

Apesar de serem apenas três minijogos, oferecem experiências bastante distintas e todas divertidas. A maior dificuldade, poderá ser mesmo explicar a jogabilidade a quem nunca tiver jogado Luigi's Mansion. Mesmo com controlos simplificados no caso de se controlar com apenas um Joy-Con, nunca é tão básico como o que se costuma encontrar, por exemplo, num jogo como Mario Party.

Modo ScareScraper
Para quem gosta de experiências multijogador, a grande longevidade deste título será encontrada no modo ScareScraper, que tanto pode ser jogado online como em modo local com quem também tiver uma consola com o jogo. Esta é uma espécie de "torre dos sustos" criada de forma aleatória para cada sessão de jogo, o que será bastante familiar para quem tiver jogado Luigi's Mansion 2 na Nintendo 3DS. A grande novidade é que, graças ao modo co-op para dois, será agora possível ter um total de 8 jogadores em 4 consolas.

Cada sessão de jogo tem uma boa longevidade, deixando escolher entre torres de 5 ou 10 pisos com um tempo limite de 5 minutos cada um. Piso a piso, os jogadores são colocados em partes diferentes do mapa, com o objetivo de capturar todos os fantasmas que se encontram por lá escondidos. Não será tarefa fácil e, muitas vezes já com todas as salas visitadas no mapa, alguns mais difíceis continuam bem escondidos. Ainda por cima, há armadilhas que podem prender os jogadores, fazendo-os perder tempo a não ser que alguém ajude entretanto. Conseguirá a equipa capturar todos os fantasmas e passar ao próximo nível?

Tanto em modo local como online, a colaboração entre todos os jogadores será importante, pelo que a aplicação móvel do Nintendo Switch Online será útil no sentido de oferecer a opção de "voice chat", como acontece noutros títulos da Nintendo. Isto porque, sem conversar, poderá ser mesmo difícil que os jogadores cooperem com apenas uns gritos de "ajuda" feitos ao premir de um botão. Além disso, embora a duração de 5 minutos por nível possa parecer bastante, não há mesmo tempo a perder, pelo que é pena que na vertente online seja necessário uma ferramenta extra para se ter uma boa comunicação.


Se houvesse uma só palavra a definir este jogo, seria certamente "surpresa". Luigi's Mansion 3 consegue surpreender a cada momento, desde a entrada do hotel até ao último piso, com uma enorme criatividade. Naquilo que é um grande exemplo de game design, nunca se torna repetitivo ou cansativo, deixando sempre o jogador com um sorriso graças ao seu sentido de humor inspirado nos filmes e contos de terror. Aqui está Luigi, no seu melhor.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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