The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III


Ao terceiro capítulo de Trails of Cold Steel, e com o último a sair, o que haverá de novo para dizer? Aparentemente alguma coisa e o suficiente para me fazer torcer o nariz.

Em primeiro lugar, este Trails não é um port como os anteriores, mas um exclusivo da nossa PS4 que saiu em 2017 no Japão, mas só agora por aqui. Foram só dois anos e uns trocos, coisa pouca. Depois, esta sequela é um pouco meta porque em vez de retomar o enredo das duas prequelas, serve como ponto de encontro de várias séries: Trails in the Sky, Trails from Zero, Trails to Azure. E adivinhem quem jogou todos esses jogos? Eu não! Mas se são importantes para entenderem o enredo? De todo, podem mergulhar à vontade, tendo jogado apenas os dois primeiros. E podem contar com o cliché dos RPG de ter alguém a expor o enredo e a explicar tudo e mais alguma coisa. E mesmo que quisessem jogar todos os jogos, teriam de esperar pela sua localização, portanto…


Cold Steel 3 começa um ano e meio após o fim do segundo. O nosso menino Rean está mais velho e agora é professor com direito a óculos falsos e tudo. A turma VII que tanto adoramos espalhou-se pelo mundo porque entrou no mercado trabalho, mas caberá a nós liderar a nova turma e explorar um novo enredo cheio de intrigas políticas, reviravoltas e muitas tropes de anime. Vindo de alguém que adorou os anteriores, deveria-me sentir na sete quintas, não? Bem, continuemos.

Os dois jogos acabaram bem e fecharam um enredo com início, meio e fim. O conflicto terminou, as personagens viram os seus arcos concluídos e o mundo caminhava para algo que não era perfeito, mas que era definitivo.

Esta sequela é o início de algo novo, a fechar no futuro IV, mas que podia bem não ter Trails of Cold Steel no título. Isto porque: ao começarmos um novo jogo, não nos pede para importar o progresso anterior; depois, somos bombardeados com guias atrás de guias que se torna chato. Bastante. Posso dizer, sem exagerar, que fiz dez horas de jogo e vi três intros. Depois deste início torto, o jogo até andou e começou a correr a um ritmo normal e a que já estava habituado dos anteriores.


O compasso deste jogo aproxima-se muito do primeiro com a desculpa de voltarmos à escola: temos um calendário, que divide em actos, e cada acto corresponde a uma visita de estudo/missão. Nessas missões, recebemos as sidequests misturadas com a missão principal e lá vamos avançando até ao Free Day ou folga. Aí aprofundamos as nossas amizades, fazemos favores aos colegas e desafiamos as pessoas para um novo minijogo, Vantage Masters. O nome não faz muito sentido, mas esta cópiazita de Magic: The Gathering é viciante! Estou a ter flashbacks de ter passado mais tempo no Gwent do que no The Witcher 3. Depois de terem refinado este sistema no segundo Cold Steel, senti que deram dois passos para trás. A sorte é que as novas personagens são bem interessantes e coloridas – também literalmente.

A nível técnico, há tanto de bom como de mau. Os gráficos desta sequela estão milhas à frente dos anteriores, mais polidos, detalhados e com um estilo mais próprio. Ao passo que os outros gritavam PS3 e limitações de tecnologia, estes gráficos quase que fazem lembrar o estilo cell shading. A mencionar que a arte é super genérica para quem acompanha a animação japonesa, mas se gostamos, mais do mesmo não é mau. As personagens estão bastante detalhadas e há variedade para não cansar a vistinha.

Já o som e banda sonora, se antes defendi as outras entradas, principalmente, a dobragem inglesa, agora irei por um caminho diferente: o da desilusão. Não estou a sentir aquela banda sonora como senti a do primeiro, safando-se apenas os temas principais da abertura. Se os jogos anteriores gabavam-se da quantidade de diálogo e do trabalho de tradução, este jogo foi um retrocesso. Os anteriores tinham vozes até para personagens secundárias. Todos falavam, todos tinham uma voz. Neste Cold Steel, há sequências onde ninguém fala; há sequências onde só uma personagem tem voz e as outras falam por escrito. Atenção, eu cresci com RPG e jogar um sem dobragem é o meu prato do dia, mas lidar com esta esquizofrenia é complicado. Sinto que fizeram o trabalho pela metade.


No geral, fiquei com uma opinião agridoce. Até as edições físicas dos dois primeiro eram simples, havendo uma especial de caixa metálica que fazia pandã com a outra, mas neste terceiro optaram pelo lucro fácil de lançar uma grande edição de colecionador com imensa palha. E sinto que este jogo tem bastante palha: muita parra, pouca uva, mas a uva que tem é saborosa. Gostei do jogo, mas demorei a gostar. Podia ser melhor, podia ser como os anteriores. Neste momento, tenho receio pela parte final da saga, mas estou ansioso para ver como tudo vai acabar. E estarei cá para vos dizer com toda a honestidade.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Reef Entertainment.

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