Sonic Racing: CrossWorlds
Depois de algum tempo à espera pela sua chegada, que pelo meio ainda tivemos umas primeiras impressões que podem ler aqui, chegou finalmente a vez de Sonic Racing: CrossWorlds lançar-nos para as caóticas corridas a todo o gás. Sonic, Dr. Eggman, Tails e Knuckles, entre outras personagens menos conhecidas como os vilões de Sonic Lost World ou o trio de aves de Sonic Riders enfrentam-se num bom conjunto de pistas que nos levam aos mais variados jogos, do histórico da série, desde os clássicos ao mais recente Sonic Frontiers. Falando em histórico, ao contrário do que tem sido habitual desta vez foi a Sonic Team responsável pelo lançamento deste jogo, e não a Sumo Digital que tanto nos habituou. Claro que, continua tudo na mesma casa.
A premissa é simples: este é um tradicional kart racing onde damos três voltas na ânsia de chegar primeiro e, pelo caminho, temos um arsenal de itens que nos saem aleatoriamente. Contudo, aqui há um twist que roda à volta da principal mecânica das corridas, sendo viajar por mundos diferentes! Ao contrário do habitual, onde repetimos a mesma pista várias vezes, aqui a segunda volta leva-nos para um nível completamente diferente, de um leque alargado de diferentes cenários de vários jogos de Sonic the Hedgehog. A escolha é feita por quem lidera a corrida, entre duas pistas possíveis e levando todos os jogadores ao mesmo destino.
Além das boas dezenas de personagens diferentes, temos alguns diferentes tipos de veículos à escolha, dos mais leves aos mais pesados e, ainda, um favorito dos fãs! Os Extreme Gears de Sonic Riders, uma espécie de prancha que flutua, estreiam-se nestes jogos de corridas, que me levaram a pensar ter mais saudades de Sonic Riders do que pensava. Não escolhemos só veículos, pois temos de personalizar cada um à medida que vamos comprando novas peças, customização essa obrigatória, pois não podemos simplesmente usar um veículo base. Há imensa personalização, desde as muitas combinações entre peças, ao escolher das cores e materiais para cada e ainda decals, tudo estético, mas que tornam o veículo em algo criado por nós, por assim dizer.
Há uma certa progressão do jogo, digo mais, as primeiras boas horas do jogo são uma espécie de tutorial até estarmos confortáveis, ter o máximo de coisas desbloqueadas e aí podemos realmente começar a jogar. Um dos pontos fundamentais do jogo são os Gadgets que também vamos desbloqueando, equipando os nossos veículos com propriedades que vão de mais e melhores boosts, poder colher mais anéis ou tirar partido dos embates contra outros jogadores, algo que estamos muito limitados de escolha no início, mas que, à medida que jogamos vamos desbloqueando mais slots para poder equipar mais Gadgets, e melhores.
Não contava ter uma espécie de grind até começar a jogar a sério, num jogo de corridas que emana o estilo arcade tão bem, mas aqui estamos. Vi-o como um tutorial de um par de horas, sem me focar muito a ter a melhor performance até ter tudo pronto para correr a sério, com um início algo lento que ainda não tinha as slots todas disponíveis e já sabia jogar na perfeição. Sim, as primeiras horas foram mais aborrecidas, mas podendo equipar estes preciosos itens, estava agora pronto para as altas corridas, encontrando a minha build de eleição com a combinação de peças no veículo que mais se adequavam ao meu estilo de jogo. Pensei que iria focar-me nos Extreme Gear, mas não: senti que o jogo não se enquadrava para um veículo com um foco em tricks, já que as pistas não ofereciam assim tantas oportunidades. Digo isto, mas estes skates especiais são veículos perfeitamente viáveis!

Estou para aqui a descrever o jogo e há uma comparação que é impossível negar, principalmente num ano em que saiu Mario Kart World. Mas… honestamente? São jogos bem diferentes e um não substitui o outro, até porque Sonic Racing: CrossWorlds preenche um espaço que está vazio, muito por culpa da SEGA. Este é um jogo que me levou aos tempos em que me agarrava a Dayonta USA ou Out Run, as pistas são simples, praticamente isentas de atalhos ou curvas impossíveis, sendo mais um jogo onde o foco é ir em frente o mais rapidamente possível. Não há muito perigo nas pistas, conto pelos dedos as vezes que saí delas, embora estivesse constantemente a ser interrompido, pois, usando a comparação do Mario Kart, neste jogo temos três tipos diferentes de "Red Shells" só para nos chatear.
Mesmo a velocidade nas primeiras horas do jogo ainda não estava no ponto, a diversão começou mesmo assim que terminei todas as cups e desbloqueei a Super Sonic Speed, onde já senti a adrenalina e uma experiência puramente arcade, com itens à mistura! Dos drifts em curvas agora apertadas que me obrigavam a tirar o pé do acelerador, a desviar-me dos condutores adversários enquanto colhia anéis, entre cruzar terrenos impróprios para a condução, sendo o máximo que pude chamar de atalhos… aqui sim, veio a adrenalina. É que por muito que hajam várias pistas, elas acabam por ser semelhantes em vários aspetos, mudando apenas o cenário e um ou outro eventual gimmick. Ainda assim, são vários os momentos espalhados no jogo com referências aos jogos da série, que deixam qualquer fã de Sonic com um sorriso na cara.

A adrenalina e a diversão só me eram interrompidos com um par de coisas que não gostei tanto, sendo uma delas haverem três itens a que chamei Red Shells, por serem objetos teleguiados que facilmente nos atingiam, sem ter grandes defesas disponíveis. Outro ponto faz parte do ADN do jogo, pois além das corridas normais tínhamos momentos a surfar nas ondas e outros a voar pelos céus, este último que deixa bastante a desejar por ser mais monótono e com controlos não tão bem afinados. Mesmo a seleção da pista que define a segunda volta é meio que irrelevante, escolhemos aquela sendo a nossa favorita e não há vantagens nem numa, nem noutra escolha, pois as pistas que aqui surgem são em muito semelhantes. O mais grave é bem capaz de ser a última volta em cada cup: esta resume-se a percorrer novamente as três pistas que já havíamos corrido minutos antes, agora todas seguidas, que me levava a suspirar "porquê" quando tinha de correr em pistas que nem há poucos minutos havia passado.
Coisas que não estragam o jogo, atenção, mas que vivia bem sem elas, ou talvez a seleção das pistas realmente tivesse um impacto, levando-me a escolher as pistas ideias para a minha combinação de personagem e veículo. Apesar disso, voltar a visitar locais como Galactic Parade, Roulette Road, Dragon Road ou Golden Temple dos respetivos jogos do histórico de Sonic, onde talvez gostava que fossem mesmo pistas "a sério", mas aí desaparecia a brincadeira do tema de CrossWorlds, que apesar de pouco impacto na condução, não deixa de ser divertido. Não tão divertido eram os diálogos entre personagens, que embora pudessem trazer alguma personalidade saltava os seus banters porque não tinha mesmo paciência. Digo isto, mas a mecânica dos rivais é mais que bem-vinda, ao trazer um desafio adicional a cada corrida!
Com muita coisa para desbloquear, que, na realidade são coisas que compramos através de tickets que vamos recebendo ao longo do jogo, tinha sempre algo que me dizia "só mais uma pista". Mesmo desbloquear Super Sonic é um feito que ainda não fiz, exige derrotar todos os rivais e estamos a falar de mais de 20 personagens, algo que hei de fazer com tempo. Há algum grind também para poder comprar todas as peças dos veículos e Gadgets, com alguns a serem bem caros que pedem muito do nosso tempo, algo que faço de bom grado sabendo que tenho aqui a desculpa para correr na Radical Highway, Ocean View ou Mystic Jungle, tal como outras pistas que o jogo inclui. Há ainda conteúdos adicionais pagos que vão prolongar a vida ao jogo, convidando personagens não SEGA como PAC-MAN, Mega Man ou de Minecraft para as corridas. Há outros, como Ichiban de Yakuza, Hatsune Miku e Joker de Persona 5, que tem de aparecer em literalmente tudo o que é jogo, estes adicionados sem custos adicionais, mas também sem pistas associadas.
Aquilo que me trouxe repetidas vezes ao jogo, entre partidas online ao típico "só mais uma corrida" não foi por ser um kart racer, mas sim por trazer de novo uma condução muito aos jogos de arcade clássicos da SEGA que tantas saudades deixam, e falta fazem no mercado. Uma corrida presa ao asfalto (ou outros exóticos materiais), com drifts arriscados e recompensadores, a estar sempre colado aos veículos que estão à nossa frente. Se pudesse alterar algo no jogo, talvez retirava a perda de anéis que acontecem ao mínimo toque nas barreiras das pistas, ou trabalhava melhor na banda sonora do jogo: por várias vezes tinha um remix do tema do jogo que meio foleiro, vá. Ou loops demasiado curtos quando jogávamos na terceira volta, que nos berram aos ouvidos.
Sonic Racing: CrossWorlds é a evolução de Sonic & SEGA All-Stars Racing que muitos pediam, em muito superior a Team Sonic Racing, o último jogo de corridas que tão depressa caiu no esquecimento. Não só é feito (e obrigatório) para fãs do blue blur como para os fãs das corridas ao bom estilo arcade, principalmente aqueles que, como eu, cresceram a meter trocos nas máquinas para jogar mais uma ou outra partida de Daytona USA com os amigos!.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PlayStation 5, gentilmente cedido pela Ecoplay.