ROUTINE
Este jogo indie de terror e sobrevivência foi anunciado pela primeira vez em 2012, no âmbito do programa Steam Greenlight (sistema em que a comunidade Steam podia aprovar diretamente e democraticamente projetos para distribuição), ROUTINE foi um dos primeiros dez videojogos a serem aprovados neste sistema inovador que acabou por cessar atividade no ano de 2017.
Durante anos, ROUTINE foi sendo mais uma promessa do que outra coisa qualquer, pois o seu desenvolvimento foi tomado de assalto por revisões profundas de conceito, reestruturações e adiamentos, ou seja, aquele tratamento do costume quando as coisas começam a correr mal na indústria dos videojogos. Em 2020 o estúdio Lunar Software retomou o trabalho com o apoio da editora Raw Fury e refizeram tudo com o motor Unreal Engine 5.
A narrativa coloca-nos no papel de um engenheiro de software enviado para investigar uma falha num sistema numa estação lunar chamada “Union Plaza”. Logo percebemos que algo correu muito mal, a base aparenta estar abandonada e os robots que gerem a estação tornaram-se hostis.
A história é “contada” através da exploração e leitura de documentos apenas com o intuito de contextualizar os motivos e as vontades que levaram àquele momento em específico. Nada de transcendente acontece em ROUTINE neste campo e não seria de esperar outra coisa, pois desde muito cedo que o propósito apresentado aos jogadores é de explorar e sentir o momento e não de experienciar o desenrolar de algum tipo de melodrama. Não é esse tipo de jogo.
Apesar da simplicidade de processos neste aspeto em específico, ROUTINE mantém uma identidade muito própria e distinta que o faz ser algo mais do que o jogo de terror do costume, mesmo que seja por uma margem mínima.
No que toca às mecânicas, ROUTINE abraça sem pudor as inerentes à sobrevivência/horror em primeira pessoa em 2025, mas com algumas diferenças que merecem destaque.
A ferramenta principal e central de todo o jogo é o CAT (Cosmonaut Assistance Tool). Esta pistola é a peça fulcral da componente interativa deste jogo. Permite ao jogador interagir com terminais, resolver puzzles, diagnosticar falhas, aceder a dados e combater ou pelo menos defender-se de robots e afins que por lá habitam. Ou seja, andamos armados, mas não contem passar este jogo ao tiro e à facada. Isso não vai acontecer, de todo.
ROUTINE privilegia a tensão e a evasão, muitas vezes (para não dizer quase sempre) não somos fortes o suficiente para encarar diretamente os homenzinhos de metal que andam por lá. A mecânica de stealth ganha papel de destaque, ou pelo menos de evitar o combate, torna-se fulcral. No entanto, é de realçar que a fadiga e repetição nas mecânicas mais cinéticas é uma realidade neste jogo, até porque os movimentos padrão dos inimigos e a sua IA não são bem "crème de la crème", cumprem os mínimos olímpicos.
Em termos de puzzles a coisa também não foge muito do padrão; ligar terminais, restaurar sistemas e estar atendo às notas deixadas nas salas é o pão nosso de cada dia e isto não é propriamente algo de novo ou de interessante, mas o ambiente ajuda a amenizar alguma simplicidade a mais e a sensação de descoberta consegue existir, ainda que a espaços.
Já sabemos que em jogos deste género a componente visual e sonora carregam consigo a maior parte do peso no que diz respeito a criar o ambiente certo envolva o jogador e permita que a experiência seja o mais imersiva possível. ROUTINE faz isso de maneira imperial. As texturas, os cabos espalhados pelo chão, os monitores CRT defeituosos, a sujidade ou desgaste geral do cenário são narrativa visual que só por si quase que já vale o preço do "bilhete" que é, em muito, auxiliada por uma paleta de cores muito sombria e cinzenta que assenta que nem uma luva neste caos retro futurista inspirado nos anos 80/90. A juntar-se a este deleite visual, está uma sonoplastia que anda à volta do famoso barulho que o silêncio faz. O som (ou a falta dele) faz parte integrante de uma experiência onde cada som ambiental, por mais insignificante que seja, contribui para uma sensação de isolamento e executada com sucesso.
Resumir ROUTINE acaba por ser bastante fácil. Se forem fãs de ficção-científica, atmosferas tensas onde a acção é relegada para segundo plano, ocasionais jumpscares e não se importam de andar sempre com a sensação incomoda de serem observados e de que alguma coisa má vai acontecer a qualquer momento, ROUTINE é para vocês. Se estão à procura de combates frenéticos, uma história scriptada bombástica e derivados... não é por aqui o caminho.
ROUTINE oferece uma mecânica que encaixa bem no género e na vibe que pretende com foco total na imersão e no terror psicológico. Claudica na (muita!) repetitividade em alguns níveis do jogo, mas nada que retire totalmente a razão de uma existência muito assente numa excelente componente visual e sonora que cria na perfeição o ambiente que é pretendido.
Por norma videojogos que demoram muito tempo a serem desenvolvidos e estão pejados de eventos tumultuosos raramente tem um final feliz, não foi o caso deste ROUTINE e ainda bem.
ROUTINE foi lançado no dia 4 de dezembro de 2025 para Xbox Series X|S, Xbox One e PC e está também incluído DAY ONE no Xbox Game Pass Ultimate.
Nota: Análise efetuada com base num código final do jogo para PC, adquirido via Xbox Game Pass Ultimate.






