"É tipo Monopólio?"



Artigo escrito por Bruno Maciel.

Todos nós tivemos contacto com jogos de tabuleiro na nossa infância. Para uns as experiências mais marcantes foram as passadas em família, para outros na ludoteca da escola, mas quem nunca jogou um Monopólio, Quem é Quem?, Risco, Mikado, etc?

Também eu vivi essa experiência e durante anos, os jogos de tabuleiro passaram a ser um evento anual, uma vez que outras atividades acabavam por me despertar mais interesse.

Já com a licenciatura terminada, a iniciar a minha atividade profissional, deparo-me, nas habituais conversas de almoço com colegas, num tema que persistia às 2ªs feiras, em que um dos meus colegas falava do que tinha feito no fim-de-semana. Invariavelmente falava de um jogo de tabuleiro que dizia  ser diferente de tudo o que já tinha jogado. Eu, por etiqueta, fingia-me interessado e acaba por lhe fazer algumas perguntas, mas confesso que o meu interesse era quase nulo...

Já diz o ditado que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” e assim foi. Decidi ir à loja de que tanto me falara e quando entro na mesma, os meus olhos brilharam! Foi como se, de repente, tivesse sido transportado para uma realidade paralela. Jogos e jogos, com capas muito atrativas, um mundo que desconhecia existir e que me despertou um fascínio imediato, tal foi o impacto daquelas caixas empilhadas umas nas outras.

Lá perguntei pelo jogo de que o meu colega tanto me falara e lá estava ele. Um jogo de aventura, fantasia, que dava para 6 jogadores, com ilustrações muito sedutoras e até havia a edição portuguesa! Decidi comprar: “vamos lá ver no que isto vai dar” pensei eu. O título a mim pouco me dizia, “Talisman”, o tema muito menos, mas quem era eu na altura para falar de temas quando também eu era um dos que olhava para o jogo e pensava “será que é tipo Monopólio?”.

 


Desconhecendo onde procurar informação sobre o jogo, que vídeos explicativos já circulavam na internet, decidi abrir o livro de regras e fui lendo... Resultado? Cheguei à 2ª página e pensei “Nah! Assim não dá! Não estou a perceber nada do que aqui está escrito... fica para depois”. Passaram-se 3 meses, com férias do Verão pelo meio. O jogo? Ficou na prateleira onde o deixei.

Até que em grupo decidimos colocar o jogo na mesa e ir lendo o manual de regras. Meia hora depois, cansámo-nos. Não! Não estava fácil! O jogo era demasiado complicado, muito diferente do que estávamos habituados. Caixa arrumada, venha a PlayStation.

Na semana seguinte, grupo mais reduzido, tentámos novamente. Não estava mais fácil que na semana anterior, mas fizemos progressos. Uma ação aqui, outra acolá e de forma muito insegura, julgámos ter terminado um turno. Olhámos uns para os outros e “mas... afinal era só isto?” e rimo-nos que nem uns perdidos. E fomos explorando, fizemos mais 2 ou 3 turnos, supostamente para ver como o jogo funcionava e passada 1 hora e meia, estávamos a terminar o jogo que decidimos continuar, uma vez que estávamos a adorar.



No dia seguinte, foi à mesa novamente. Nesse mesmo dia, deveremos ter jogado umas 3 vezes. Sim, uma tarde inteira e noite a jogar. Encomendámos pizzas e continuámos. Não iria ser um jantar a interromper o jogo.

Um mundo novo se abriu. O desconhecido passou a ser tentador. Como é que nunca tinhamos ouvido falar daquele jogo? Como? Como é que as pessoas jogavam aos “Monopólios desta vida”, quando jogos como o Talisman e outros estavam disponíveis? 
 

Completamente viciados! De 3 a 4 jogadores, passámos a ser 6. Expansões vieram e durante uns bons 6 meses, a rotina de fim-de-semana era esta. Tardes inteiras a jogar, de forma incessante um jogo de tabuleiro. Trolls, Goblins, Feiticeiros, Guerreiros, etc, um mundo de fantasia que nos deixava imersos. Um mundo que nos transportava para dimensões fictícias e que nos fazia esquecer do tempo.

 

O jogo foi explorado até a caixa não aguentar mais. O desgaste vísivel de quem muito uso teve.
Entretanto, já vendi o jogo e tudo aquilo que o jogo representa a nível de tema e mecânicas é o que menos procuro em jogos de tabuleiro. Os meus gostos mudaram naturalmente e fujo daquele tipo de jogos, mas... as lembranças, as memórias ninguém as apaga! Foi o jogo que me fez entrar neste hobby e mais de 10 anos depois, estou cada vez mais dedicado ao mesmo.

Para vocês que desconhecem esta realidade, não temam. Hoje existem recursos que permitir-vos-ão quebrar ou ultrapassar as barreiras que eu encontrei. E se as encontrarem, não desistam. Faz parte da magia desta atividade. A descoberta, a frustração! Mas não temam. Façam-no ao vosso ritmo, procurem o que vos interessa e verão que a partilha de experiências que este hobby proporciona vale a pena.

E se um dia vos apresentarem um jogo de tabuleiro desconhecido, façam a pergunta habitual “é tipo Monopólio?”, sem receios. Provavelmente, a resposta será um “nim”, provavelmente a pessoa irá fazer uma expressão de quem quer dizer algo, mas não diz. O jogo não será, certamente, como o Monopólio (felizmente), mas acreditem... se se deixarem levar, só poderão ser mais felizes!

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