Sakuna: Of Rice and Ruin


O que acontece quando misturamos Story of Seasons e Muramasa: The Demon Blade? Bem, isto são dois fortes nomes que passaram pelas mãos da Marvelous e que agora parecem ter encontrado uma espécie de fusão em Sakuna: Of Rice and Ruin. Um jogo que já aguardava imenso, que comecei com uma imagem bem vincada dele, mas acabei surpreendido por se revelar algo bastante diferente do que estava à espera.


Sakuna é princesa e filha do deus da guerra e da deusa das colheitas, algo que lhe concedeu um estatuto bastante elevado na Mihashira Capital mesmo quando os seus pais não são vistos há muito. É com a estranha chegada de um grupo de humanos ao reino dos deuses que o caos se instala e Sakuna vê-se envolvida nessa embrulhada. Como castigo a divindade governante decide enviar a princesa mimada para a Isle of Demons, onde juntamente com os recém-chegados humanos terão de proteger o reino enfrentando todos os perigos que por lá andam e, acima de tudo, sobreviver.

Começa assim a história e como deusa e mal chegamos à Isle of Demons temos logo perigos à espera que “facilmente” Sakuna consegue lidar, usando as suas habilidades como é capaz de usar as suas vestimentas divinas: uma espécie de cachecol mágico que se estica, extremamente útil para nos fazer chegar a vários pontos do cenário ou até mesmo agarrar inimigos. O sistema de combate é muito acessível e lembra-nos bastante do clássico Muramasa, não só por ser um RPG de ação 2.5D, mas muito devido ao modo como combatemos: passamos grande parte do tempo a saltar para cima dos inimigos, atirá-los ao ar e atacar rapidamente enquanto estão indefesos. 


Fora os ataques rápidos e fortes temos ainda um conjunto de habilidades especiais que desbloqueamos aos poucos, mas o sistema mantém-se simples. Por vezes o combate torna-se algo confuso, com uma quantidade absurda de inimigos no ecrã e vi-me várias vezes a ser “chateado” por pequenos coelhos que mandavam setas e bombas à distância, logo no início do jogo. Ao mesmo tempo sentia uma grande gratificação ao enviar inimigos disparados ecrã fora com ataques que os fazem ir aos encontrões contra outros ou até mesmo contra o cenário.

O conjunto de humanos que nos acompanham na aventura têm quase todos um papel fundamental. Tama é o grande conselheiro de Sakuna e é bem mais que uma simples mascote fofa. Tauemon é um samurai que além de nos ajudar a lidar com o grupo dá-nos dicas. O jovem Kinta cria armas e outras ferramentas, enquanto Yui nos faz armaduras. Myrthe é a responsável por nos cozinhar o jantar todos os dias que dependendo do menu e por último Kaimaru parece uma criança inútil incapaz de comunicar, mas ao comunicar com vários animais esses ajudam-nos imenso nas tarefas diárias.

Onde o jogo se torna mais complexo é, curiosamente, na parte das colheitas de arroz. É aqui que entra Story of Seasons (ou Harvest Moon) num sistema que acaba por ser bastante mais complexo que o de combate, onde cada estação do ano se divide em dias no jogo. Digo complexo pois existem imensos passos a fazer! É necessário escolher as melhores sementes e prepará-las para depois as plantar, lavrar e irrigar o terreno, eliminar ervas daninhas ou insetos. Além da colheita é preciso deixar o arroz a secar, debulhar e descascar o mesmo e só no final disto tudo é que vemos os frutos do nosso trabalho. Pelo meio foi ainda necessário fazer adubo e escolher os melhores itens para ele. 


A coisa torna-se séria quando praticamente todos estes passos têm estatísticas próprias associadas e cuidados a ter, juntamente com o clima e temperatura de cada dia. A distância em que plantamos os grãos influencia os resultados, existe uma altura certa de água para que as plantações não estraguem, o adubo tem de tornar o terreno rico e saudável, entre outros aspetos. Sakuna tem todo um conjunto de pontos e habilidades que vai desenvolvendo ao longo das estações, mas, se não nos quisermos chatear com todo este processo podemos deixar Tauemon trabalhar, mas os resultados ficam muito aquém das espectativas.

Ao começar o jogo pensei que o combate e a exploração seriam os pontos mais importantes do mesmo, mas em poucas horas de jogo dei por mim a ver esses 2 pontos como secundários. É um jogo de agricultura, que me leva a lutar e explorar ilha fora para adquirir os mais diversos materiais para criar melhores equipamentos para combater, mas principalmente para criar as melhores colheitas. Cuidar do terreno e a nossa plantação torna-se a nossa tarefa principal, no meio de tantas missões que nos levam a explorar todos os cantos do jogo. É certo que existem vários bosses e que é a conclusão das missões que nos faz progredir no jogo, mas no final de contas tudo parece um conjunto de missões secundárias com uma história pelo meio. A própria história não desenvolve muito bem e parece focar-se muito em torno da arte de plantar arroz, e só aos poucos é que se lembra de explorar Sakuna mas quando o fazem, fazem-no bem.

Não vos querendo assustar com todo um conjunto de tarefas, este é sem sombra de dúvidas um RPG com um combate frenético, onde não senti muita dificuldade a enfrentar as hordas de inimigos exceto numa ou outra ocasião onde bastou andar à procura dos itens certos para criar melhores armas e equipamento. Todos os detalhes no jogo acabam por ser fundamentais e se formos ao detalhe da otimização possível encontramos aqui imenso a explorar. Ao mesmo tempo não há barreiras e, se não nos preocuparmos, ter piores colheitas não nos estraga o jogo, apenas não temos tantas recompensas pelo esforço. 


Um dos pontos curiosos é, por exemplo, a criação do menu de jantar: dependendo dos ingredientes que adquirimos ao explorar e eliminar monstros podemos construir menus que nos ajudam bastante na exploração do dia seguinte, e devemos dar bom uso deles pois passado alguns dias eles estragam-se. O jantar acaba por ser ainda um ponto importante no decorrer do jogo pois, ao reunir Sakuna e os restantes personagens eles discutem vários temas que acabam por desenvolver imenso a mitologia e história do jogo.

Tendo recebido o jogo para analisar na Nintendo Switch, este não apresenta grandes sacrifícios face à versão PS4 ou Steam, comportando-se bastante bem e fluído grande parte do tempo (mesmo em modo portátil), principalmente nas partes de combate onde há mais elementos no ecrã, mas ainda assim consegue ser mais fluída que a exploração da nossa pequena cabana na montanha. Independentemente que versão escolherem, este é um jogo lindo de ver, onde a luz que cobre a montanha é incrível e os cenários são ricos em detalhe, mas infelizmente são bastante repetitivos e com algumas mudanças bruscas como passar de uma floresta em pleno Outono para um segundo depois estar recheada de neve. As músicas são grande parte completamente banais, mesmo que ajudem imenso a criar um bom ambiente japonês, acompanhando as vozes que podemos optar entre inglês ou japonês, este que usei sem pensar duas vezes. 


Resumindo, Sakuna: Of Rice and Ruin é um grande RPG que facilmente pode entrar na coleção de qualquer um, sejam fãs do género ou não. A ação é frenética, por vezes confusa, mas fácil no geral. Não é um novo Muramasa e diverge bastante em vários aspetos, mas ainda assim um bom “substituto” já que o clássico da Wii e PSVita parecem não ver nenhum relançamento à vista.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Marvelous Europe Limited.

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