Yomawari: The Long Night Collection


Os japoneses têm muito que se lhe diga quando conseguem transformar objectos mundanos em assombrações. Mas se formos a ver, isso não torna as coisas piores? A possibilidade de algo na nossa casa ou no local de trabalho ficar possuído e com desejos de vingança… Nem quero pensar nisso!

Tive alta sorte com a Nippon Ichi; depois de um morno Labyrinth of Refrain, de um bom Disgaea 1, calhou-me este Yomawari: The Long Night Collection que reúne os jogos Yomawari: Night Alone e Yomawari: Midnight Shadows. Dois joguitos que se acabam em cinco horas, que se melhoram um ao outro e com leves ligações entre si. Se me perguntarem, recomendo começarem pelo Night Alone.


No primeiro jogo, controlamos uma menina sem nome, a Protagonista, em busca do cão Poro e da irmã chamada… Irmã. OK, só o cão tem nome. No segundo jogo, somos a Yui e a Haro e jogamos à vez. Ambos os tutoriais introduzem as mecânicas com uma chamada e, depois do choque, lá vamos nós. As narrativas envolvem encontrar alguém que se perdeu porque é assim que funcionam os clichés, mas o resultado final pode não ser o que esperam. Exploramos duas cidades numa perspectiva isométrica à procura de pistas e de itens importantes para avançar nos capítulos. No primeiro jogo, o mapa dá-nos dicas convenientes para seguirmos e, no segundo, a primeira personagem com que jogamos dá uma pista visual à segunda personagem – uma mecânica mais interessante e que nos obriga a pensar um bocadito e analisar o mapa à lá CSI sobrenatural.

À medida que desbravamos o mapa, ficamos a conhecer a cidade e os seus pontos de interesse, desde as lojas, os apartamentos, as escolas (aquele marco em jogos de terror orientais), os cemitérios, etc. Vá, é uma cidade normal ou não? Mas não estamos sozinhos… As avantesmas estão espalhadas pela cidade, surgem quando menos esperarmos e vêm de todas as formas e feitios: mulheres que se suicidaram que caem quando passamos por varandas, pneus de acidentes automóveis, crianças, etc – não quero dizê-los a todos para não tirar o suspense.

Mas digo já: não há armas! O que podemos fazer é: esconder ou fugir. Para esconder, basta correr para um vaso, arbusto ou cartaz nos quais a personagem se esconde atrás. O ecrã fica negro, só com a presença dos espíritos a passar e a desaparecer. É uma medida que come um bocado de tempo, mas se forem como eu vão fugir mais vezes. Fugir consome estamina, uma barra enorme no fundo do ecrã que se gasta bem devagar se andarem na boa, mas rapidamente na presença de inimigos, isto porque o coração começa a bater mais rápido (vão sentir) e cansam-se mais. Se forem regrados e correrem em pequenos impulsos, safam-se. Se quiserem uma abordagem mais heads on, há umas pedras ou aviões de papel (sequela) que servem para distrair os fantasmas e fugirem em segurança.


A luz e o som são bastante importantes nestes jogos. Com a lanterna iluminamos o caminho, mas podemos atrair presenças indesejadas ou manter afastados aqueles que odeiam a luz. O som dos passos é inquietante porque como quase não existe banda sonora, estes são ampliados e ecoam pelas ruas vazias, o que faz com que venham atrás das meninas… Não corram, andem em bicos de pés…

Se acabarem por morrer, voltam a casa. Para se livrarem dessa chatice, apanhem as moedas de ienes e visitem os vários templos Jizo. Fazem um Quicksave maneirinho e sempre que morrerem voltam lá com os itens e percurso até então. E falando nisso, este jogo é um casamento perfeito para aqueles que adoram apanhar loot. Não bastam os itens para avançar no enredo, a cidade é um depósito de objectos curiosos para colecionar: há puzzles, notas, brinquedos e livros, etc. Muitos deles acabam expostos no quarto, que podemos ver em tempo real.

Assim num espectro geral, depois de ter jogado o The Count Lucanor com o seu estilo pixelizado, mas assustador q.b., este Yomawari traz à Switch um estilo fofo, querido e adorável, a antítese de um ambiente de terror, o que só piora a situação e as nossas personagens super novinhas passam por tanto e vêem pior. Mencionei a banda sonora, mas esta é mínima, quase zero e nestes jogos não consigo ver isso como algo negativo, mas como parte integrante da tensão porque todos os outros sons estão mais destacados: os passos, as lâmpadas a piscar, a vegetação e os próprios inimigos.


Para concluir, esta coletânea está a um preço convidativo e é perfeita para o Halloween! Comecem pelo Night Alone e passem para o Midnight Shadow, as evoluções são notórias e mais satisfatórias. E quem sou eu para vos mandar fazer alguma coisa? Eu sou só o tipo que escreve análises e dá uma nota aos jogos… Esperem, o que é isso atrás de vocês?

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela NIS America.

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