Starlink: Battle for Atlas


Depois dos Skylanders da Activision e da febre das figuras amiibo da Nintendo, da ascenção e declínio do mercado "toys-to-life" em geral, foi uma surpresa ver a Ubisoft a apostar neste conceito e com uma proposta tão inovadora: em Starlink: Battle for Atlas, é possivel pilotar naves completamente customizadas através da junção de peças físicas que surgem no ecrã em tempo real.

Este é um jogo open-world situado no espaço onde uma equipa de terrestres e alguns alienígenas se aliam para proteger Atlas de uma força malévola genericamente chamada Legion. Na versão para a Nintendo Switch, utilizada para esta análise, há ainda um convidado especial: Star Fox, acrescentando uma personagem jogável e algum conteúdo de história exclusivo. A grande questão, no entanto, é se ainda haverá espaço no mercado para um jogo baseado em figuras colecionáveis.

Há duas formas possíveis de adquirir o jogo: em formato físico, numa caixa que inclui uma personagem, nave completa e armas (com diferentes configurações conforme a consola), ou em formato digital, dispensando por completo os colecionáveis. Isto significa que é possível apreciar o jogo, quer se goste das figuras de plástico, quer se prefira uma experiência mais tradicional. Tendo a versão física, é também possível jogar em modo "digital", utilizando os materiais desbloqueados como se tivessem sido adquiridos digitalmente. Bastante útil, pois nem sempre os jogadores quererão jogar com a nave montada no comando, resolvendo também a problemática que haveria em jogar com uma Nintendo Switch em modo portátil, por exemplo.


As figuras em si são uma parte importante da experiência. As naves têm um design espetacular e o facto de serem modulares e permitirem trocar asas e armas entre elas faz desta uma experiência muito divertida. Os modelos são de qualidade e representam fielmente o que é visto dentro do jogo. Já dos pilotos não se pode dizer o mesmo, pois as figuras são pouco detalhadas e têm uma aparência de baixo custo. Os materiais que vêm incluídos com o jogo são sempre suficientes para se concluir a história, mas alguns puzzles e segredos irão recomendar (ou até exigir em alguns casos) a compra de armas adicionais de diferentes elementos. Alguns upgrades também só ficarão disponíveis com a aquisição de certas personagens e, mesmo assim, podem ser vistos como um incentivo aos colecionadores e não são algo essencial. Quem gosta de naves e figuras de coleção irá provavelmente gastar um bom dinheiro à conta deste jogo. Por outro lado, quem dispensar o formato físico poderá adquirir todos os materias digitalmente na forma de DLC, sendo que o custo total será mais baixo desta forma.


A história de Starlink: Battle for Atlas acompanha a tripulação da Equinox após o rapto do seu comandante pelo exército da Legion. Planeta a planeta, os vilões estão a tomar conta do sistema solar e, por isso, será importante criar uma vasta aliança nos diversos planetas de forma a repudiar o avanço das tropas inimigas. A mecânica central do jogo, à medida que se vai avançando na história principal e missões secundárias, consiste em derrubar os extratores que convertem a massa planetária em energia para alimentar as suas naves, assim como converter e construir bases para a aliança. Cada planeta tem um indicador do equilíbrio de forças e novos ataques inimigos indicam qual será o melhor local a visitar em seguida para travar os seus avanços.

Há vários tipos de bases para construir, cada uma com as suas vantagens, que vão desde a exploração planetária para descoberta de pontos de interesse até à extração de recursos e criação de melhorias. O processo é sempre o mesmo: encontrar no mapa um local adequado, construir uma base de uma certa especialização, entregar materiais ou investir dinheiro para melhorar a base até ao nível máximo. Em cada base é possível oferecer ajuda, recebendo assim uma missão secundária bastante simples em torno de uma recompensa. Para mecânica central de um jogo destes, é pobre e repetitivo, o que poderá afastar certos públicos mais exigentes, mas funcionará bem com um público mais juvenil.


De planeta em planeta, explorando e construindo bases, o jogo bebe muita inspiração de No Man's Sky, embora seja bem mais contido nas suas ambições. Ainda assim, há imenso para fazer, mesmo que com pouca variedade, havendo aqui uma interessante vertente de "time waster". Aproveitando a portabilidade da Nintendo Switch, a possibilidade de ir aos poucos conquistando cada um dos planetas é uma excelente forma de entretenimento nos tempos mortos.

Poderia ser um jogo bastante razoável só pelas mecânicas de jogo, mas em cima dessa camada há uma boa história de camaradagem e confiança entre povos alienígenas. A história principal e os conteúdos adicionais do Star Fox incentivam à mobilidade entre os planetas, oferecendo aventuras e puzzles interessantes. O resto do conteúdo são os frequentes ataques da Legion aos planetas, que permitirão prolongar bastante a longevidade de um título muito além das 20h estimadas para a campanha. E o Star Fox? Apesar de ser uma participação especial e não ter um papel direto na história principal, encontra-se muito bem integrado neste universo. A sua posição é de alguém externo à Starlink que se tornou aliado e, jogando com ele, vive-se a aventura dessa perspetiva, ao mesmo tempo que também se persegue o famoso vilão Star Wolf.

Jogando na TV, é possível experimentar o modo co-op, onde dois jogadores partilham o ecrã em split-scren. Infelizmente, não é possível conectar duas consolas para que cada um jogue no seu ecrã, o que daria uma experiência mais conveniente. É no co-op que salta à vista uma das melhores caraterísticas deste formato "toys-to-life", pois a nave, armas e piloto do segundo jogador trazem consigo os dados de gravação relativos aos upgrades feitos a cada componente. A nave colocada no segundo comando é, efetivamente, a nave do segundo jogador. Se não se soubesse como funciona a tecnologia, pareceria magia.


Este é um jogo bastante colorido e vibrante, com um estilo artístico que seria também perfeito para um filme de animação no espaço. Os diferentes planetas oferecem paisagens por vezes surrealistas, sendo fascinante explorá-los e visitar as suas várias regiões. Aqui se vê a vantagem de ter mundos pensados e desenhados por um humano, em oposição a um processo de geração automática. São poucos planetas, mas todos eles interessantes.

O melhor de Starlink é a liberdade com que se pode fazer o que bem apetecer no jogo. Havendo, naturalmente, áreas mais fáceis e outras mais difíceis onde um ataque inimigo pode ser fatal, pode-se ir para qualquer lado e explorar livremente, deixando a história principal para quando se lá quiser voltar. Todos os planetas já visitados ganham "fast travel", pelo que não há o risco de se ir muito longe e custar a voltar.


Com um mundo envolvente e boas personagens, Starlink: Battle for Atlas é um bom jogo de mundo aberto que peca por ser repetitivo e assente em muitas rotinas que poderão cansar alguns jogadores. A sua vertente "toys-to-life" irá fazer as delícias dos colecionadores mas é também opcional para quem se quiser focar somente no jogo propriamente dito. A versão para a Nintendo Switch destaca-se pelos conteúdos adicionais do Star Fox e também pela portabilidade, mas este Starlink será certamente um excelente presente para os mais novos em qualquer plataforma.

Nota: Esta análise foi efetuada com base numa cópia do "Starter Pack" do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedida pela Ubisoft

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