Moroi
Moroi é um RPG de ação onde o absurdo e o grotesco ocupam grande parte da paisagem visual. Neste jogo acordamos num lugar sem memória alguma de lá ter estado, mas onde o cenário surreal se torna lentamente algo reconhecível, dando espaço a uma narrativa que explora temas como amnésia ou a paranoia.
Muito do apelo inicial em Moroi assenta na base do desconhecido, pelo menos para nós, jogadores. Todas as personagens neste mundo caótico conhecem-nos, o que seria sempre uma coisa boa, não fosse o facto da personagem com quem jogamos não conhecer ninguém inicialmente. Uma espécie de amnésia que se vai dissipando lentamente permitindo que o véu da narrativa se levante à medida que progredimos pelos momentos iniciais do jogo.
Todo este envolvimento psicadélico casa bem a construção do mundo medieval que foi criad, pelo menos ao nível estético e visual. O gore é a característica mais proeminente e de destaque deixando os aspetos mais mundanos do terror de fora. Aqui o intuito é provocar sensações de desconforto constantes sem que exista a necessidade de fazer o jogador mandar cinco jump-scares por minuto. Eu agradeço, lido melhor com javardice sanguinária do que com sustos.
O humor negro e o ridículo acabam por servir de cola que junta toda uma narrativa que por vezes não explica muito bem o que andamos por ali a fazer, mas que vai acompanhando com algum mérito as três, quatro horas de estadia que este universo criado pelo estúdio Violet Saint nos proporciona.
Chegamos àquela parte do texto onde sinto que tudo o que de bom ou de mais ou menos tinha a dizer sobre Moroi, está dito. O que é algo dramático tendo em conta de que se trata de um videojogo e ainda falta falar da jogabilidade, mecânicas e por aí fora...
No que toca ao ato de, efetivamente, jogar, Moroi é uma caldeirada de inconsistências, bugs e pobre design que deixa muito a desejar.
Os controlos meio com vida própria (aspeto em que falarei mais à frente) não ajudaram a que Moroi me conquistasse nas secções de maior ação do jogo. A pouca variedade de armas à disposição também não ajudou a enaltecer um combate que, por si só, é fácil de aprender, no entanto tem pouco mais a descobrir do que aquilo que nos é proposto logo nos momentos iniciais. A travessia no deserto continua com a parca dificuldade dos inimigos que faz com que o combate se torne super repetitivo muito rapidamente e a cereja no topo do bolo são os puzzles, que servem meramente de checkpoint que indica que o nível em questão está a terminar. Acontecendo, literalmente, em todas as secções do jogo e oferecendo muito pouca ginástica cerebral ao jogador, sempre. Eu não vi o que é que a "bula" na página de steam do jogo diz sobre ele, mas se lá estiver o tag "puzzle" é publicidade enganosa. (fui ver, não tem... ao menos isso!)
No meio disto tudo, temos bosses que vão aparecendo, aqui e ali, e que acabam por ser o mal menor de todo um calamitoso desarranjo no que toca ao design apresentado, oferecendo desafio ao jogador.
Agora tenho mesmo que falar sobre alguns bugs que afetaram (e muito!) as minhas sessões de jogo com Moroi. Não existe um periférico que esteja acima de outro a jogar este jogo, ambos trazem dificuldade ao jogador; de teclado e rato o movimento pareceu-me mais fluído (especialmente usando armas brancas) embora, e com uma teimosia que é de louvar (ou não!), o jogo atirava-me o cursor para fora do ecrã sempre que imprimia algum rigor no movimento, quase sempre para o segundo monitor que tenho. De comando tal não acontecia, mas por vezes a minha personagem apenas e só se virava para um dos lados e tinha de usar o rato para compensar esse movimento. Isto no meio dos combates intensos que Moroi tem, deu acesso a uns quantos laivos de raiva. O que nada ajudou a travar tais ímpetos foram as quebras de frames que, sem razão aparente, teimavam a aparecer sem serem convidadas.
Moroi é, no mínimo, estranho. Se por um lado nos cativa com a sua construção de mundo, humor negro e arte visual, em tudo o resto desaponta como videojogo exibindo falhas estruturais na sua jogabilidade, puzzles cuja dificuldade é não existente e uma progressão muito pouco satisfatória à exceção de um momento ou outro digno de registo.
Quem conseguir tapar os olhos a uma quantidade considerável de apontamentos negativos que se estendem a quase todos os aspetos deste jogo, ainda conseguirá divertir-se quanto baste. Infelizmente não faço parte desse lote e facilmente Moroi se perderá na bruma do esquecimento.
Moroi saiu no dia 30 de abril de 2025 para PC (Steam).
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PC, gentilmente cedido pela Cosmocover.