NEO: The World Ends With You


Não sei como, mas nos 13 anos que se passaram desde o lançamento de The World Ends With You na Nintendo DS, consigo lembrar-me perfeitamente dos dias que passei agarrado à portátil até devorar por completo o jogo. Sem dúvida um dos meus jogos favoritos da consola, que não larguei até ter todas as missões completas e todo o catálogo do jogo completo. Pelo meio o jogo foi lançado para dispositivos móveis e até mesmo para a Switch, versões cuja jogabilidade não é a melhor, mas que a história continua a ser bastante atual. Quase do nada surge uma série de animação e, o que mais me deixou entusiasmado neste renascer da série, uma sequela que há muito andava a pedir!

Em NEO: The World Ends With You regressamos às movimentadas ruas de Shibuya em Tóquio, onde os seus habitantes parecem formar uma única rede humana, mas com as suas dúvidas ou dramas pessoais. Entramos num novo Reapers’ Game com todas as suas regras e missões que ou cumprimos com sucesso, ou algo trágico nos acontece. Tal como no primeiro jogo o mundo à nossa volta é uma espécie de realidade paralela conhecida como Underground (ou UG) onde podemos ver tudo normal mas não conseguimos interagir nem tocar nas pessoas, nem elas nos conseguem ver. No entanto, somos capazes de ler as suas mentes, o que geralmente serve apenas para enriquecer a história do jogo.


Desta vez temos Shiba como Game Master: espera ver o máximo de competição possível no jogo que criou, gosta de ver tudo “a arder” e delicia-se não só com a rivalidade entre equipas, como um bom espetáculo criado por elas, mesmo quando as suas vidas correm perigo. Com ele surge toda uma equipa de Reapers que observam e nos assistem nas várias missões, criando um leque vasto de personagens superior quando comparado com o jogo original. Mas não é só uma questão de quantidade, pois a maioria das personagens estão bem desenvolvidas, com surpresas que vamos desvendando aos poucos. À semelhança do Reapers’ Game do original, temos novamente 7 dias para cumprir as missões que nos são dadas e tentar chegar ao topo, pois se estivermos no fundo somos punidos severamente.

Aqui coloco um parêntesis: são vários os elementos que ligam este jogo ao primeiro, sendo que um conjunto de coisas estão apenas presentes no Final Remix para a Switch. Não é que seja obrigatório o ter jogado antes de partir para esta sequela, já que os eventos principais, tal como as suas personagens, são devidamente explicadas no decorrer desta nova história. No entanto recomendo mesmo, mas mesmo muito jogarem-no antes de partir para este, de modo a terem uma ligação mais forte com o mundo da série e as suas personagens.


Enquanto que no primeiro controlamos Neku e um parceiro, que ia alterando ao longo do jogo, agora temos uma equipa com mais elementos, o que não só muda a jogabilidade como também enriquece a história, com mais personagens ao barulho e uma forte química. Batizada de Wicked Twisters, a nossa equipa é liderada por Rindo, sempre preocupado com quem o rodeia e esforça-se ao máximo em cumprir os objetivos que recebe. É acompanhado por Fret, o seu melhor amigo e fã de moda, tentando estar sempre dentro dos estilos mais recorrentes e, logo nos primeiros dias conhecem Sho Minamimoto, que quem jogou o original irá reconhecer facilmente, e conhecem também Nagi, uma fã de jogos principalmente de Elegant Strategy, do género otome, uma aventura gráfica romântica.

O trio Rindo, Fret e Nagi acabam por ter mais destaque, tal como habilidades especiais únicas que tiramos partido fora do combate. Fret consegue relembrar a todos em seu redor de certos temas, através de um puzzle simples mas bastante chato de executar. Por sua vez, Nagi consegue entrar dentro do consciente das pessoas, onde temos de eliminar Noise que as consome por dentro. Já Rindo tem uma habilidade bastante importante, mas evitando spoilers, convido-os a descobrir por vocês mesmo.

Por ser uma equipa a jogabilidade muda também imenso e, agora, cada personagem tem um Pin equipado que controlamos através do botão a que está associado. Alternar entre ataques, e por sua vez personagens, é chave para um melhor desempenho no combate: esta troca constante de ataques aumenta a barra de Groove que, quando cheia, resulta num devastador ataque. A jogabilidade foi dos pontos que mais me prendeu no original e isso mantém-se aqui, adorei explorar o sistema de combate, analisar os diferentes Pins e possíveis combinações, ajustar a dificuldade do jogo, colecionar e evoluir Pins através de longas cadeias de Noise. O jogo não nos exige muito grind para melhorar as personagens, mas dei por mim a investir horas seguidas em combates só por adorar o sistema!


Mesmo com uma jogabilidade incrível, TWEWY marcou-me pela sua história, criando uma tarefa difícil desta sequela o superar e, muito resumidamente, não o faz. Ainda assim é memorável, ao ponto de me preocupar bastante com as suas personagens. A narrativa continua a ser apresentada através de algo que se assemelha a uma banda desenhada, algo que mesmo passado estes anos todos continua a funcionar e, mesmo sendo imagens estáticas, as personagens exprimem-se perfeitamente ao ponto de sabermos o que se está a passar com elas. Pelo meio surgem sequências de animação em 3D em pontos chave da história, algo que gostaria de ver em maior quantidade.

Outro dos destaques do original foi o estilo visual do jogo e a banda sonora, que tão perfeitamente acompanhou tudo. A adaptação ao 3D em NEO: TWEWY foi executada na perfeição, mantendo o estilo urbano do original em que os altos prédios de Shibuya estão inclinados, transmitindo a ideia que vão colapsar em cima de nós, todas as áreas estão habitadas por pessoas sem rosto, presas nas suas vidas, levando-nos a uma réplica de Tóquio. Quanto à banda sonora é bastante boa e recomenda-se! Talvez não tanto como a original e muitas das músicas são novas versões das antigas, mas ainda assim acompanham muito bem todos os momentos do jogo.


As personagens que vamos conhecendo alimentam uma rede social que desvendamos à medida que avançamos no jogo, permitindo desbloquear novas mecânicas ou melhorar as já existentes. Mudar a dificuldade do jogo, aumentar a cadeia de combates ou poder equipar Pins com o mesmo input em personagens diferentes são coisas que nos permitem customizar ainda mais, e melhor, o jogo. É este controlo “absoluto” do jogo que me leva, mesmo após ter o terminado, a voltar vezes sem conta aos combates frenéticos, a explorar todos os cantos de Shibuya, descobrindo coisas que não apanhei à primeira ou outras que só é possível após concluir o jogo.

Com tantas mecânicas podíamos achar que eram coisas a mais, mas nunca senti que havia um exagero de elementos a explorar, até porque não somos forçados a nada, excepto nas missões. Há novidades do início ao fim da história e, logo nos primeiros dias, desbloqueamos as lojas de roupa, música, os restaurantes e bares que foram icónicos no original. Novamente temos pontos de estilo por usar determinadas marcas de roupa, ou estatísticas que melhoram para sempre as personagens, sendo que é preciso combater entre refeições para gastar as calorias consumidas. Locais que agora também estão inseridos na rede social, que após várias visitas desbloqueamos novas coisas. É como se estivéssemos mesmo em Shibuya, que mesmo repetindo os mesmos locais surgem coisas novas a descobrir.


Há ainda imenso que gostaria de falar de NEO: The World Ends With You, sentimentos que me provocaram este regresso e vários pontos da história que quero comentar, mas tal é impossível sem dar spoilers. Aliás, se forem fãs do original recomendo vivamente que joguem o mais rapidamente possível esta sequela pois a internet é cada vez mais um campo minado de spoilers, mesmo através de trailers oficiais. Nunca imaginaria estar perante de uma sequela de The World Ends With You, mas aqui estamos, e valeu bem a pena esta surpresa!

Nota: Análise efetuada com base numa cópia para a Nintendo Switch, adquirida pelo autor do artigo.

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