Whispers of a Machine


Análise por Joana Maltez

Bem-vindos ao futuro, onde a realidade tem tons distópicos e existe uma sensação permanente de um amanhã idealizado por cumprir. Whispers of a Machine é o jogo que nos coloca nessa realidade onde a mistura entre a tecnologia e o medo da mesma convivem lado a lado, fazendo-nos questionar o que originou o estado actual daquele universo. As respostas vão surgindo de forma orgânica, ao mesmo passo que vamos deslindando a trama principal.

Em Whispers of a Machine vivemos na pele de Vera, uma agente especial que foi submetida a procedimentos cibernéticos para elevar as suas capacidades. É no papel da agente que conhecemos uma localidade aparentemente pacata onde fomos enviados para investigar uma série de homicídios. É no decorrer da investigação que as habilidades especiais de Vera brilham e destacam este jogo da aventura dos outros dentro do género.


As capacidades sobre-humanas da protagonista estão encapsuladas numa pirâmide que vai reger a abordagem ao jogo. Essa pirâmide é construída com três estilos diferentes: assertividade, empatia e sentido analítico. Em cada análise a uma cena de crime ou interacção com outros personagens, o jogador escolhe qual o estilo que prefere adoptar: será que deve falar de forma menos profissional mas mais simpática com uma testemunha? Ou prefere manter-se rigidamente dentro do protocolo e não descurar a importância dos factos?

Cada escolha irá aproximar Vera do lado da pirâmide com o qual o jogador mais se identifica, e isso irá afectar quais as próximas capacidades especiais a desenvolver. É possível ter uma mistura de capacidades e ferramentas ou mantermo-nos estritamente dentro do estilo que mais queremos. Tudo depende das escolhas que se fizer ao longo do jogo. E porque é que isto destaca de forma inteligente Whispers of a Machine de outros jogos da mesma classe? As capacidades e ferramentas desbloqueadas com esta personalização permitem diferentes soluções para os puzzles que vamos encontrando ao longo da história. Isto é especialmente interessante para aqueles jogadores que apreciam o valor da “replayability” e gostam de fazer diferentes abordagens à mesma história. Este é definitivamente um jogo que sublinha esse aspecto e é um grande trunfo a seu favor.

Um dos grandes factores a ter em conta num jogo de aventura é a qualidade dos puzzles, aqueles quebra-cabeças que podem ou não fazer-nos desesperar por respostas. Felizmente, Whispers of a Machine apresenta um conjunto diversificado de puzzles, com um grau de dificuldade que nunca é demasiado fácil mas também nunca entra no nível da insanidade ou do simplesmente absurdo. O jogo tem até o cuidado (por vezes até hilariante) de nos dizer que não, juntar o objecto A com o objecto B não faz nenhum sentido e que é contraproducente com a nossa investigação. Estamos afinal numa história com uma agente bastante sisuda e não numa ilha das Caraíbas com Guybrush Threepwood.


A história de Whispers of a Machine é justamente um dos seus pontos menos fortes. Ao longo de todo o jogo assistimos a uma dualidade na narrativa, dividida entre a história principal da nossa investigação e a vida pessoal da agente, e como ambos os fios se cruzam para motivar as nossas escolhas e definir a personalidade e caminho de Vera. Todo o mistério cativa-nos e deixa-nos a querer mais, especialmente graças a uma boa construção de personagens e de um ambiente sci-fi em decadência que estabelece o tom do jogo. Contudo, no final, permanece a sensação que esta história e universo podiam ter sido explorados mais a fundo, especialmente por terem uma premissa tão interessante.

Por último, não podemos deixar de falar do estilo pixel art que irá fazer certamente as maravilhas dos eternos apaixonados por clássicos de jogos de aventura. Este é um jogo onde a pixel art é desenhada à mão de uma forma rica e detalhada, com uma influência clara de ambientes nórdicos — algo que também se verifica em alguns detalhes do seu “world building”.


Esta aventura “point-and-click” é uma entrada bem-vinda dentro do seu género, não pretendendo revolucionar o mesmo mas que oferece várias horas de entretenimento aos nostálgicos e aficionados por jogos de aventura tradicionais.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para PC via Steam, gentilmente cedido pela Raw Fury

Latest in Sports