A Plague Tale: Innocence


Se no ano passado joguei pela primeira vez Hellblade Senua’s Sacrifice e foi na minha opinião uma experiência completamente única, tenho a dizer a todos os leitores que o meu jogo do ano vai para A Plague Tale : Innocence. É assim que tenho de começar com a análise a esta obra de arte que chegou às nossas mãos assim do nada.

Esta é a história mais comovente e bela do ano, isso é garantido. O jogo passa-se na era da inquisição, em França. Curiosamente o estúdio por detrás do jogo é francês. Jogamos na pele de Amicia, a protagonista oriunda de uma família nobre e poderosa com o nome De Rune. Amicia tem um pequeno irmão, o qual a narrativa gira praticamente toda em torno do rapaz. No entanto a relação entre os dois irmãos não é a mais amável, ou pelo menos nas primeiras horas de jogo, ora estão bem, ora estão mal, faz-me lembrar as pequenas brigas entre mim e o meu irmão, como todos aqueles que têm irmãos, correcto? No entanto o amor de irmãos geralmente é profundo e aqui não é exceção.

No fundo eles ajudam-se entre si ao longo da campanha toda, o que significa que na maior parte do jogo vai ser necessário dar ordens ao Hugo (irmão da protagonista) para passar por baixo de muros, abrir portas, puxar alavancas e etc. É verdade, estes pormenores já vimos em mais jogos mas, a relação entre os dois durante a campanha relembra a relação que existe entre Kratos e o seu filho ou Joel e Ellie, mas melhor. Tenho a dizer que tocou muito mais a história destes irmãos. Enquanto Kratos é um Deus, Amicia é uma miúda sem super poderes, sem armas de fogo, inofensiva como qualquer outro ser humano, ela nem sequer foi treinada para lutar ou sacar de uma espada, o que a torna frágil nesta realidade brutal. Ao contrário de qualquer outro jogo, as personagens usam armas, sejam espadas, facas, pistolas, como nos é apresentado em God of War ou The Last of Us, já A Plague Tale : Innocence prima pela originalidade e principalmente o sentimento do que é ser humano. A primeira vez que Amicia é obrigada a matar um outro ser humano, consegue chocar a nossa protagonista e deixar o jogador boquiaberto, sente-se na espinha um arrepio. Não por ser brutal, mas sim porque qual é o ser humano que tem coragem de tirar a vida a outro a sangue frio? Normalmente existem motivos para tal e cada morte que o jogador tem de executar, fará pensar se seria realmente necessário. Algo belo de assistir é a pura inocência de Hugo, a questionar-se por tudo e por nada acerca da humanidade, das alternativas, o amor que ele tem pelos animais e muito mais… O jogador vai ser atingido no coração pelas palavras ternas de Hugo, é impossível ficar indiferente.


O que significa que a morte e o perigo estão por todo o lado. Não é spoiler algum se mencionar a quantidade de cadáveres e animais espalhados completamente dissecados que vão encontrar pelo jogo fora. É horripilante, a quantidade de sangue, a comida putrificada e a contaminação que se expande por cada território. É uma terra doente, tal como o nome indica, praga. No entanto, a maior propagação desta praga é, tal como nos factos verídicos da peste negra, as ratazanas. São aos milhares, elas comem tudo aquilo que estiver a sua passagem com o odor a carne suculenta tal como se fossem piranhas. A única forma de evitar as ratazanas é com luz, seja ela natural, artificial ou tochas de fogo. Uma secção curiosa no jogo faz com que o jogador tenha de usar a luz dos relâmpagos para atravessar um caminho estreito infestado de ratazanas, um momento de cortar a respiração pois como todos sabemos, a luz dos relâmpagos tem uma duração curta. Estes pormenores fazem o jogador sentir a pressão. Para atravessar estes caminhos é necessário existir sempre luz, é crítico, a ajuda de qualquer engenho como lanternas para afastar as ratazanas dos caminhos.

Se a narrativa é extraordinária, a jogabilidade está igualmente fantástica. Como os jogos anteriormente mencionados, a câmara encontra-se no ombro da personagem. O jogador passará uma grande parte do jogo a evitar o perigo de mão dada com o seu irmão Hugo. Correr, escalar, resolver puzzles e usar a sua única arma, uma fisga. No entanto, o mais surpreendente são as habilidades que vão desbloquear ao longo da campanha. No início o jogador terá apenas pedras ao seu dispor para atirar contra a cabeça dos inimigos mas, progredindo pelo jogo, as pedras não vão servir apenas para isso mas também abrir portões, objetos, partir lanternas e não só o uso de pedras como as habilidades de acender e apagar tochas, usar ácido e outros recursos, tudo efetuado com o uso da fisga. É impressionante como os responsáveis desta obra-prima se lembraram de tanto detalhe para uma só arma que é capaz de funcionar contra tudo e todos. E não se fica por aqui, seja a arma como a quantidade de itens para construir, o jogo conta com uma banca onde se realizam os upgrades, algo que nem eu estava à espera. A alquimia farás as maravilhas para o uso de habilidades especiais como um fragmento que se atira ao chão para as ratazanas correrem atrás por exemplo. Também acerca do gameplay, para além de correr muito o jogador terá muitos elementos stealth para não ser apanhado pelos guardas. Neste jogo, um ataque de um guarda significa morte certa, afinal de contas, são meros seres humanos. E não se trata apenas de Amicia e Hugo, a campanha conta com personagens que se vão juntar ao longo da campanha na luta contra a praga e em busca da cura para o pequeno Hugo que se encontra doente, coisa que vão aprender mal começa o jogo.


Quanto ao grafismo é impressionante, especialmente quando surgem as cut-scenes, sejam cenários, expressões faciais e outros detalhes. Ainda por cima, o jogo passa-se numa grande variedade de cenários diferentes, com climas variados e cores surpreendentes. Sem falar no voice acting que é um dos melhores até à data na indústria dos videojogos, é incrível como o jogo parece um autêntico filme de cinema. Se por um lado nos trailers, dava para entender que o jogo teria muitas sequências assim, podem ter a certeza absoluta que de gameplay tem muito mais. A banda sonora é outro ponto extremamente positivo e inesquecível, que acompanha o jogador numa das jornadas mais brilhantes da história dos videojogos. Vão também recolher itens colecionáveis que fazem parte da narrativa para uma experiência ainda mais maravilhosa.


Este deve ser o jogo mais humano que alguma vez joguei em toda a minha vida, fez-me acredita que a indústria dos videojogos ainda pode fazer muito pela criatividade e originalidade, se os estúdios se empenharem, não vão ser necessários remakes ou remastered's a todo o tempo como tem vindo a acontecer, ainda há esperança para criar obras de arte. Se julgam que já viram tudo nos videojogos, não imaginam o que está preparado em A Plague Tale : Innocent. Este é o jogo que ficará nos corações e irá ser recordado por décadas pelos melhores motivos, completamente obrigatório.


Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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