Somerville


Em 1898 H. G. Wells escreveu A Guerra dos Mundos e Orson Welles amplificou a obra através de um famoso episódio radiofônico que causou o pânico na população dos Estados Unidos da América em pleno Halloween de 1938, estavam ambos longe de saber que esta obra iria servir inúmeras vezes de inspiração nas mais diversas formas criativas desde essa altura.

Somerville é o mais recente caso. Desenvolvido pelo novo estúdio Jumpship de Chris Olsen e Dino Patti (co-criador Limbo/Inside), esta é uma proposta indie de aventura sci-fi com foco na narrativa que conta a história de um homem que procura a sua família perdida durante o caos instalado após uma invasão alienígena que tomou o mundo de assalto. 

Pedindo desculpa antecipadamente pelo pleonasmo propositado… temos de começar pelo começo e Somerville começa forte e muito competente na função de transmitir emoções ao jogador graças a uma sucessão de eventos visuais e sonoros que nos mantém 100% focados no que está a acontecer.

Chris Olsen e Dino Patti quiseram que o jogador estivesse na primeira fila a assistir aos acontecimentos que começam numa noite tranquila e pacata onde uma família aproveita para dormitar, embalada pelo ruído de fundo da televisão e terminando em momentos de pânico causados pelo ataque surpresa que provocam a destruição parcial da casa em questão e que levam ao início da viagem solitária deste homem que parte à procura de se reunir de novo com a sua família e pelo caminho encontrar-se a si próprio.

Com uma jogabilidade muito inspirada em jogos como Inside (ou não estivesse aqui envolvido Dino Patti), a mecânica principal acaba por ser a resolução de puzzles que na sua totalidade requerem interação com o que nos rodeia e que nos fazem dar uso aos poderes que vamos ganhando. Eles são tecnicamente três mas em 90% do jogo só utilizamos dois: um que liquidifica a matéria alienígena e outro que faz precisamente o oposto, solidifica. Todos os poderes são amplificados pelos focos de luz que nos rodeiam (lâmpadas, candeeiros, sinais luminosos etc..).

Gostava que tivesse havido mais alguma variedade e uma maior dificuldade neste campo, mas o jogo é muito curto e muito focado na sua narrativa, pelo que sinto que os puzzles são uma adição simpática e que apenas servem de complemento a uma viagem que tem vários momentos e varias emoções para contemplar.



Visualmente, Somerville é um dos jogos mais bonitos que joguei em 2022. A palete de cores e o contraste das mesmas são destaques numa direção visual irrepreensível que chega, na minha opinião, a rivalizar com a maior parte das experiências AAA da atualidade. A utilização das barras horizontais pretas permitem ao jogo ser apresentado num formato mais cinematográfico, que é aproveitado por uma câmara que na maior parte das vezes é fixa ou com deslocamento horizontal que permite não só ter o foco na personagem principal bem como dar a sua devida contextualização com o cenário que a envolve. O jogo de luzes e efeitos gráficos dos poderes que vamos ganhando ao longo da viagem e a sua interação com o cenário são a cereja no topo do bolo neste aspecto específico do jogo.

Toda a banda sonora acompanha bem a experiência e os efeitos sonoros em momentos de mais tensão amplificam a imersão principalmente na fase inicial do jogo. Recomendo o uso de headphones.

E problemas? Tem? Sim mas é mais uma inconveniência do que um problema. Juro que achava que este tipo de coisas já tinha ficado numa outra era dos videojogos, no entanto, em pleno 2022, interagir neste jogo com qualquer tipo de botão, portas, obstáculos ou outros NPC’s foi quase sempre um pesadelo. Foram muitas as vezes que não consegui interagir com o objeto que pretendia à primeira e isto torna-se aqui e ali um aborrecimento quando se trata de um jogo com puzzles que requerem, na maior parte das vezes, interação com o ambiente que nos rodeia.



Somerville é uma aventura sci-fi que nos transporta para o imaginário da Guerra dos Mundos de H. G. Wells, mas que deixa a invasão alienígena como pano de fundo estético e concentra-se numa narrativa mais pessoal e microscópica e leva-nos para uma viagem solitária e perigosa toda ela motivada pela esperança.

Visualmente irrepreensível, com uma jogabilidade muito inspirada em jogos como “Inside” (que surpresa…) e com uma narrativa forte e contemplativa apesar da inexistência de falas ou interações. Este jogo peca apenas pela pobre interatividade com o cenário que, sistemicamente, foi testando a minha paciência até aos créditos finais, mas que pouco diminuiu a experiência em termos globais.



Somerville está disponível para PC (Epic Store, Steam e Xbox Store), Xbox Series X/S e estará também incluído no Xbox Game Pass a partir do dia 15 de novembro de 2022.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PC, gentilmente cedido pela Plan of Attack.

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