Oddworld: Soulstorm


A primeira vez que vi o escravo fugitivo conhecido por Abe foi no agora distante ano de 1997, numa aventura que via este nosso invulgar protagonista tentar resgatar outros escravos de uma fábrica onde eram forçados a trabalhar non-stop. 25 anos depois do chamado Abe's Oddysee (lançado para a primeira PlayStation), eis que me surge novamente a oportunidade de guiar o peculiar Abe naquilo que é uma nova missão de resgate, mas desta feita adaptada e optimizada para a Nintendo Switch.

Oddworld: Soulstorm "Oddtimized Edition" é um remake de Oddworld Exoddus, numa experiência que junta gameplay de diversos jogos da série, assim como adiciona algumas novidades. No que à história diz respeito, uma vez mais temos Abe como protagonista. Para quem desconhece, Abe é um Mudokon, um alienígena humanoide de cor azulada, que servia, juntamente com outros membros da sua espécie, como escravo numa fábrica de processamento de carne pertencente a outro grupo alienígena, os capitalistas Glukkons. Perseguido por um desses aliens, Molluck, o dono da chamada RuptureFarm, Abe deve não apenas escapar à captura (ou extermínio, dependendo das situações), ao mesmo tempo que tenta resgatar e salvar outros Mudokons. Esta é uma aventura com uma forte componente de crítica social e política, ao mesmo tempo que usa diversas analogias religiosas. Toda essa crítica é feita de uma forma alegórica, embora não seja de todo subtil. Toda esta história é contada via os diálogos entres Abe e os NPC's durante os níveis e através do uso de belas cutscenes antes dos níveis propriamente ditos.


Abe é um protagonista passivo e cuja força ofensiva deixa bastante a desejar. Um pacifista no coração, Abe aborda os desafios com o recurso à stealth, em algo que me faz lembrar jogos como Metal Gear e Tenchu. Perante adversários armados, e sem grande armamento à sua disposição numa fase inicial, Abe deve tentar esgueirar-se pelos níveis, evitando as luzes de busca e o fogo inimigo, ao mesmo tempo que tenta fazer uso do ambiente como forma de contra-atacar. Abe tem acesso a garrafas de água (que usa para apagar pequenos fogos), garrafas de cerveja (que usa para iniciar fogos e com isso não apenas imobilizar adversários, mas também quebrar certas portas de madeira que bloqueiam o caminho) e um pouco mais para a frente pedras (usadas para atordoar inimigos). Mais para a frente e mediante o que conseguirmos encontrar espalhado pelos níveis, teremos mais itens, com maior capacidade ofensiva. Estes podem ser encontrados, mas em muitas ocasiões também podem ser forjados, através da combinação de materiais. Esses mesmos itens podem depois ser utilizados pela personagem principal ou atribuídos aos nossos seguidores, de forma a que estes se possam defender individualmente.

Para além dos itens, Abe conta com uma "arma" bem mais poderosa e divertida de usar. Abe consegue projectar o seu chi, numa espécie de experiência fora de corpo, na forma de uma bola de energia e usar isso não apenas para abrir portas muito específicas, mas também para possuir os seus inimigos. Embora tenha um período de utilização curto e não possa ser usado em longas distâncias, esta habilidade é fundamental para livrar o caminho de Abe de ameaças que possam surgir, quer seja através da eliminação dos adversários (com friendly fire ou via um gruesome self explosion) ou usando estes para livrar o percurso de minas terrestres ou outros perigos. De salientar que em certas áreas dos níveis e devido à existência de estranhos mecanismos circulares que flutuam no ar, esta nossa habilidade estará bloqueada, pelo que apenas podemos recorrer ao bom e velho stealth. Aqui, e em virtude da fraqueza de Abe, o jogo assemelha-se mais a Tenchu, uma vez que um passo em falso normalmente resulta num game over instantâneo. Contudo, o chi não se limita apenas a possuir ou eliminar adversários. Através dele podemos deixar os inimigos inconscientes e com isso passíveis de ser capturados, usando a duct tape, e eventualmente pilhados. Essa é também uma forma de obter itens, para além de garantir pontos positivos para o chamado Quarma. Este conta não apenas os adversários eliminados, mas também os Mudokons resgatados. Um Quarma negativo é simbolizado por uma cara de Mudokon vermelha e furiosa, ao passo que um Quarma positivo mostra-nos numa face muito mais simpática e de tons mais claros. O Quarma será essencial para o desfecho final do jogo, nomeadamente para o fim obtido, uma vez que é possível bater este título com o mínimo de Mudokons salvos (contudo, o fim será bastante sinistro).


Do ponto de vista físico, e como já foi referido anteriormente, Abe é bastante frágil. A sua barra de energia inicial é baixa e qualquer hazard o eliminará depressa. Mais para a frente, e via as royal jellies, usadas para expandir a barra, ou através do salvamento de outros Mudokons, Abe tornar-se-á mais resistente. Capaz de duplo salto logo desde o início, de efetuar um rápido sprint ou de rebolar como forma de passar através de túneis mais pequenos, Abe tem todas as ferramentas necessárias para navegar em níveis lineares, mas repletos de áreas secretas, com muita, mas muita plataforma à mistura. De facto, a nossa destreza vai colocada à prova, devido às múltiplas plataformas e perigosos a evitar. Rapidez de pensamento é fundamental, se quisermos evitar uma morte prematura. Como nos restantes jogos da série, também aqui Abe deve guiar as ações dos resgatados, podendo direcioná-los para uma vertente mais ofensiva ou defensiva. Independentemente disso, o essencial é sempre manter os restantes Mudokons vivos a todo o custo, uma vez que estes são ainda mais fracos do que o nosso protagonista.

Como já referi acima, os níveis são lineares, mas compensam essa natureza com múltiplas zonas secretas para descobrir e com um nível bastante grande de desafio. Com cenários bastante desoladores (cavernas, zonas industriais), que combinam com a música lúgubre e temática pesada, Oddworld Soulstorm não é um jogo fácil e sabe disso, uma vez que existem inúmeros checkpoints nos níveis, o que ajuda a diminuir um pouco a frustração de contínuos game overs. 

Contudo, a dificuldade não é propriamente um problema, uma vez que o design dos níveis é bastante bem feito. O problema principal Soulstorm reside em certos glitches que vão surgindo de tempos a tempos e que muitas vezes provocam mortes desnecessários. De igual modo, o uso e selecção de equipamento podia ser mais intuitivo. Inicialmente estava a ter dificuldades em conseguir escolher o item para o poder usar, mas eventualmente (e quase que por acidente) lá que descobri como fazê-lo. 

Fora esse pequeno e ocasional defeito, Soulstorm é um belo jogo, muito desafiante e estimulante, que me enviou de volta (ainda que com melhor gameplay) para a experiência que tive brevemente em 1997.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Redner PR.

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