Pokémon Scarlet e Violet, o pior melhor de toda a série


Já muito foi dito em torno dos novos Pokémon Scarlet e Pokémon Violet para a Nintendo Switch, tanto aqui no Meus Jogos, como em vários meios, comunidades e redes sociais. Agora que finalmente cheguei aos créditos finais, também eu tenho muito a dizer sobre estes jogos que, na minha humilde opinião, são o "pior melhor" Pokémon de toda a série.

Há toda uma contradição que foi acompanhando a minha jornada neste mundo de Paldea, jornada que iniciei no dia de lançamento já com o pé atrás por todos os defeitos e problemas revelados, mas totalmente livre de spoilers tanto a nível da história como das criaturas que lá iria encontrar. Uma contradição difícil de explicar, que pode até ser considerada como um conflito entre o racional e o emocional. Mas vamos a isso, evitando naturalmente potenciais spoilers para quem ainda não tenha jogado.

A expectativa

Quando foi anunciado, o jogo teve logo um misto de emoções da parte dos fãs que, depois do Pokémon Legends Arceus teriam agora um jogo 100% open world mas, em contrapartida, os cenários pareciam ficar atrás dos ambientes criados para os anteriores Pokémon Sword e Pokémon Shield (excetuando a única de exploração que esses tinham). Para dizer a verdade, a Game Freak nunca foi conhecida pelo aspeto gráfico dos seus jogos e foram raros os lançamentos que realmente tiraram partido das capacidades do hardware, mas há sempre aquela esperança de que o próximo seja melhor. O facto é que, depois do trailer inicial, de cada vez que o jogo nos era mostrado, era também possível reparar que ainda estavam a trabalhar e melhorar os visuais.

Assim que saíram as reviews, a poucas horas do lançamento, uma coisa era unânime: o jogo tem vários problemas de performance, renderização e variados bugs que, provavelmente, teriam sido resolvidos com mais uns meses de testes e desenvolvimento. Neste momento, é bastante comum ver os jogadores a partilhar imagens estranhas provocadas por bugs e até a partilhar dicas sobre como evitar o jogo "crashar" quando a renderização tem demasiados soluços... algo que, vá, poderia ser expectável se o jogo estivesse em "Early Access" com um preço especial, não numa versão final ao preço "normal".



No momento em que este artigo é escrito, não há sequer uma resposta ou comentário oficial, nem da parte da The Pokémon Company, nem dos developers da Game Freak, sobre se haverá ou não algum trabalho planeado para melhorar o desempenho do jogo.

A jornada

E assim cheguei à região de Paldea, uma região inspirada na Península Ibérica, para uma nova aventura de Pokémon. Já tinha escolhido há bastante tempo que iria optar pela versão Scarlet e ter o Fuecoco como parceiro inicial, que me acompanhou até ao final de uma jornada que eu estaria longe de imaginar.

Neste jogo, somos estudantes de uma gigantesca escola situada na maior cidade da região, onde nos é atribuída uma missão muito especial. Cada aluno terá de encontrar o seu "tesouro" pessoal, aquilo que será realmente precioso, que lhe dará energia e motivação. Ao início, pode parecer até bastante genérico, mas é algo que se enquadra perfeitamente num mundo de exploração livre, e que conta com três histórias distintas que se adaptam à ordem em que vão sendo encontradas. Não deixam de existir certas restrições no avanço, mas são muito folgadas em comparação. Há apenas dois elementos a considerar: o número de ginásios derrotados afeta o nível até qual os pokémon podem ser facilmente capturados e obedientes, e as habilidades do pokémon lendário que, conforme são desbloqueadas, permitem aceder mais facilmente a novas áreas.

O mapa conta com uma impressionante diversidade de áreas, acompanhadas por imensas criaturas dos mais diversos tipos e feitios, com uma óptima dose de novos pokémon e até novas evoluções, dando sempre um efeito de surpresa para além de o mundo parecer realmente vivo... não fossem os problemas de performance. Há uma certa ironia, provavelmente não intencional, quando se encontra uma placa turística a informar que aquele local tem uma das melhores vistas da região, mas aquilo que realmente se vê parece apenas um esboço do que eles gostariam de fazer. Importa dizer que ninguém esperava, neste jogo, os visuais de um Horizon: Forbidden West nem nada parecido, mas estamos a falar de um jogo para a mesma consola onde temos o The Legend of Zelda: Breath of the Wild e toda a saga do Xenoblade Chronicles...



Foi esta liberdade de exploração que me incentivou a desafiar até onde podia chegar e o que poderia encontrar até sentir a necessidade de fazer algum upgrade e, com isso, avançar um pouco mais das histórias. O jogo ganha imenso pela sensação de liberdade que nos dá, por deixar encontrar e resolver mistérios sem nos espetar com a resposta ou o caminho que se deveria seguir. Se encontramos um ginásio muito avançado para o nosso nível, não há mal: podemos sempre voltar lá depois. Na prática, para quem gosta de explorar e ir combatendo e colecionando, é um jogo bastante fácil no que diz respeito aos combates.

Pelo meio, ao avançar na história, aprofunda-se a ligação com este mundo e as suas personagens, algo bastante diferente do habitual em Pokémon. Nunca um jogo da série principal fugiu tanto do estereótipo do protagonista e seu rival contra um grande vilão que é a encarnação do mal. Aqui, há uma grande diversidade de personagens que vão crescendo à medida que vamos interagindo com elas, e com as quais se acaba por criar uma forte relação. Ora aqui está algo que não esperava deste jogo!

O tesouro

Se há coisa a valorizar neste jogo, é a forma como toda a aventura vai crescendo até ao grande final, que me deixou realmente envolvido na história, num jogo onde as personagens têm mais "vida" do que nunca (apesar de continuarem sem voice acting...). A acompanhar, para além das novas criaturas, todos os pokémon aqui presentes receberam novos modelos, ficando muito mais detalhados do que em qualquer outro jogo da série, e com excelentes animações não só em combate, mas também no piquenique. Antes que me esqueça, há também que referir a fantástica banda sonora que vai variando conforme os ambientes, com alguns temas realmente surpreendentes pelo meio!

Mas não há bela sem senão, e realmente não faltaram momentos onde o que podia ser impressionante e pedir uma captura de ecrã acaba arruinado por um bug numa textura, uma câmara mal posicionada, ou um péssimo frame rate... o que na prática torna tudo o resto ainda mais espantoso. Uma história envolvente, um mundo cheio de segredos e surpresas fizeram deste um jogo que não consegui largar até ao final... e continuar a jogar depois dos créditos... uma contradição?



Por tudo isto, não deixa de ser triste ver que um jogo que pode muito bem ser o melhor de toda a série em quase todos os aspetos, levou com um dos piores tratamentos a nível de desempenho, sem qualquer informação sobre se irá ou não receber alguma atualização. Talvez seja a altura da Game Freak e da Pokémon Company darem um maior intervalo entre os seus lançamentos, dando o tempo necessário para o seu desenvolvimento.


Nota: Artigo efetuado com base numa cópia do jogo Pokémon Scarlet, adquirida pelo próprio.

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