There Is No Game: Wrong Dimension


There Is No Game: Wrong Dimension quer apresentar-se como não sendo um jogo, uma tarefa impossível e redundante. Por muito que nos tenta avisar que não existe nada para jogar, somos enviados para uma aventura gráfica tradicional do género point-and-click, cheia de enigmas, com imensas surpresas que nos deixam curiosos com o que se segue. O seu criador Pascal Cammisotto e o estúdio francês Draw Me a Pixel entregam assim uma nova versão do mesmo jogo lançado gratuitamente em 2015 durante um game jam: evento que reúne criadores de jogos.


Mal comecei o jogo fui cordialmente recebido por uma mensagem que, afinal, não existe ali nada para jogar. Aqui o jogo fala diretamente connosco, numa espécie de narrador com um sotaque muito próprio que nos tenta, a todo o custo, desligar o (não) jogo. Nós como o Utilizador não resistimos e começamos logo a “brincar” com o que nos aparece no ecrã, algo que irrita muito o jogo e tenta, a todo o custo, bloquear-nos o acesso ao mesmo.

Este diálogo constante do jogo connosco é algo que nos irá acompanhar durante a aventura, uma espécie de relação entre nós e o jogo que se vai desenvolvendo ao longo da história, dando-nos uma experiência bastante diferente ao que estamos habituados: afinal de contas, não é todo um dia que nós mesmos somos a personagem principal da aventura e o jogo fala diretamente connosco! Este é também um dos imensos pontos em que o jogo quebra por completo a fourth wall, momentos esses constantes, geralmente bastante únicos e surpreendentes.

 

Dividido entre vários capítulos, a história em si não é longa, mas os puzzles compensam muito por nos desafiarem a pensar "fora da caixa". Caso encalharmos num ou outro momento temos ainda dicas disponíveis que nos ajudam a desbloquear e progredir, pistas que não nos explicam exatamente o que fazer, mas quase. Houve momentos em que parei por completo a olhar para o ecrã sem fazer ideia o que tinha de fazer, mas quando conseguia finalmente resolver a situação a sensação de o conseguir era geralmente muito gratificante, com o próprio jogo a comentar o que tinha acabado de fazer, muitas vezes ficando até mesmo chocado.

A jogabilidade point-and-click não é o único ponto que nos faz transportar aos anos 90: muita da estética do jogo enquadra-se perfeitamente nessa década e, como se não fosse claro, um dos primeiros capítulos da história é, basicamente, um jogo point-and-click. O seu estilo artístico, as animações das personagens, os textos nos diálogos e até mesmo os menus, tudo me fez viajar no tempo. Não fosse o suficiente outro dos capítulos é inspirado em The Legend of Zelda, mais concretamente Link to the Past. Mas embora o género de jogo que nos é apresentado mude, a jogabilidade em si mantém-se igual aos restantes capítulos.


Infelizmente é um jogo curto, em poucas horas chegamos ao seu final e ao terminar ficamos a querer mais. Pode ser uma experiência breve, mas incrível, falhando talvez em não explorar ainda mais géneros de jogos diferentes para enquadrar com a temática da história. Tendo jogado na Nintendo Switch a experiência do modo portátil peca apenas por taparmos com os dedos os itens que estamos a usar sem perceber se estão, ou não, a interagir com os imensos enigmas. Já em modo TV é como se estivéssemos a jogar um jogo no PC.

Não quero descrever muito do que acontece nos capítulos, ou até mesmo o aspeto dos mesmos pois até mesmo imagens podem ser spoilers e destruir por completo a história do jogo. Se me dissessem que este era um novo jogo feito pelos criadores de World of Goo ou Little Inferno, acreditava facilmente pois segue muito o espírito desses dois jogos. Para quem os jogou, There Is No Game pega no tipo de mensagem e sensação dos finais de ambos os jogos e replicam-nos constantemente durante os vários capítulos do jogo.

 

Este é um (não) jogo que surpreende imenso, que nos deixa a pensar o que poderá acontecer e que coisas estranhas acontecerão pelo caminho. Disponível em várias línguas, entre elas português do Brasil, acaba por ser um jogo fácil de recomendar a muitos jogadores. Mesmo que seja um point-and-click diferente do habitual. 

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Draw Me A Pixel.

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