Game Builder Garage


Game Builder Garage é a mais recente proposta da Nintendo, que pretende desafiar os jogadores da Nintendo Switch a criar os seus próprios jogos e, pelo meio, aprender as bases da programação, quer já tenham conhecimentos sobre o tema ou não.

Não é a primeira vez que a Nintendo traz ao mercado produtos que são mais próximos de ferramentas de criação e entretenimento do que propriamente “videojogos” no sentido mais tradicional. Um bom exemplo disso é o Mario Paint, lançado para a Super Nintendo em 1982, onde todos podiam desenhar e criar músicas e animações, com um rato incluído para facilitar os controlos. Mais recentemente, Super Mario Maker e respectiva sequela para a Nintendo Switch, trouxeram aos jogadores a possibilidade de criar os seus próprios níveis de Super Mario para que os possam jogar e partilhar com jogadores de todo o mundo. Agora, Game Builder Garage apresenta-se como uma ferramenta que poderá ser o ponto de partida para um jogo - qualquer tipo de jogo. O que poderá sair daqui?



Com o mote de abrir uma janela para a forma como as mentes da Nintendo pensam durante o processo de criação dos videojogos, esta é principalmente uma ferramenta de “edutainment” com o objetivo de ensinar os conceitos base que estão por trás da criação de videojogos e a forma como eles podem interagir entre si. Um ponto importante é que, desde o primeiro ao último momento, não há uma única linha de programação. Tal como acontece a um programador na vida real, qualquer linguagem seria inútil sem se saber os conceitos fundamentais de programação, e é precisamente isso que este Game Builder Garage pretende ensinar, baseando-se em dois simples elementos: os diversos Nodon e as suas ligações.

Como assim, Nodon? Este é o nome dado a um vasto conjunto de criaturas digitais que, na prática, representam todas as ferramentas, objetos e funções em programação, todas elas com um símbolo característico e uma personalidade a condizer. Assim, à medida que cada Nodon vai sendo introduzido, o mesmo irá explicar qual é a sua utilidade e, logo a seguir, se poderá ver o efeito causado em prática. A introdução explica isso mesmo, começando pelos básicos de como, tendo uma personagem no ecrã, se podem introduzir controlos para a movimentar. A partir daí, passo a passo, outras e outras funcionalidades vão sendo apresentadas.



Em termos de estrutura, o sistema de aprendizagem de Game Builder Garage divide-se em 7 “aulas” distintas, cada uma com o objetivo de se criar um jogo completamente distinto dos anteriores, que poderão variar entre os 40 e os 80 minutos, divididas em várias etapas ou “lições”. Durante as aulas, tudo é explicado de forma minuciosa, tornando bastante fácil de acompanhar, especialmente porque os diálogos são bastante divertidos. Além disso, há uma grande liberdade na forma como estas lições vão sendo utilizadas pois, no fim de cada uma, os Nodos apresentados passam a ficar disponíveis no modo Free Programming - mas já lá vamos.

As aulas são, em geral, bastante restritas naquilo que se pode fazer, pois todos os Nodon e as suas ligações têm um objetivo concreto: há um vídeo inicial a apresentar o jogo pretendido, tudo o resto será uma aplicação passo-a-passo das várias ações a efetuar, com a exceção da última lição, onde se é convidado a personalizar diversos elementos do jogo, à escolha do utilizador. Depois disto, sim, é considerado que o jogo está “Gold”, uma expressão que significa que está concluído e pronto para que outros o possam jogar. Mesmo com "apenas" 7 aulas, há uma grande diversidade em termos de conteúdo e estilos de jogos, tanto em 2D como em 3D.

Antes de se poder começar a aula seguinte, porém, haverá uma espécie de “teste” em torno do que foi ensinado, que consiste em algo tão simples como fazer uma personagem apanhar uma maçã. Em cada teste, quase todos os elementos da programação estarão bloqueados, deixando alterar apenas os que se relacionam com o problema em questão, com base nos novos Nodon introduzidos na aula anterior. Os testes acabam, assim, por ser pequenos puzzles para garantir que os diversos conceitos ensinados foram assimilados.



Game Builder Garage é, na prática, uma boa ferramenta de aprendizagem, como se um curso de aproximadamente 8 horas se tratasse. A grande diversão, porém, está no que vem a seguir. Depois das aulas, todos os Nodon apresentados ficam disponíveis no modo de programação livre, assim como os jogos “base” realizados nessas aulas. É aqui que este título se torna numa verdadeira ferramenta de programação “no-code”, na qual todos os utilizadores poderão dar asas à sua imaginação. Não há aqui qualquer exigência, também: um novo projeto tanto pode servir só para experimentar diferentes interações, como para verdadeiras criações feitas do zero.

É também neste modo que a enciclopédia desta ferramenta se irá revelar bastante útil. Mesmo contando com uma enorme variedade de Nodon diferentes, todos eles contam com os seus próprios pontos de inputs, outputs, e diversas configurações, que vão bastante além do ensinado nas aulas standard. Felizmente, toda essa informação fica disponível numa enciclopédia interativa, como se fossem umas lições opcionais. Para dar um exemplo, o Nodon “NOT” parece algo bastante simples, servindo para dar um output contrário ao input que recebeu. Na prática, porém, ele poderá ser utilizado das mais diversas maneiras para diferentes finalidades, e a enciclopédia ajuda a explorar essas possibilidades.



O interesse e a utilidade deste Game Builder Garage irá, sem dúvida, variar bastante de pessoa para pessoa. Se a parte das lições é algo muito fácil de recomendar a quem tiver a mais pequena curiosidade acerca de como os videojogos são feitos, a componente de criação irá requerer tempo, criatividade e, acima de tudo, dedicação. Mais do que construir jogos completos (algo que certamente irá acontecer espontaneamente na comunidade), esta é uma excelente ferramenta para, em pouco tempo, se criar uma prova de conceito que se queira apresentar. Para os já experientes na área de programação, porém, o sistema de só se ir desbloqueando ferramentas conforme se avança nas aulas, pode não ser tão divertido como será para quem esteja agora a descobrir todos os conceitos e respectivas funções.

Embora o software não tenha um sistema de pesquisa de conteúdos publicados pelos seus utilizadores, todos poderão partilhar livremente as suas criações, quer em modo local como pela internet, através de um “ID” de utilizador e código do jogo em questão. Ao partilhar, é também gerada uma imagem apelativa sobre o jogo, incentivando à publicação nas redes sociais para convidar os amigos a experimentar. Isto poderá levar a vários tipos de partilhas e desafios, sejam eles entre amigos, colegas ou comunidades.


Quanto ao sucesso da ferramenta como plataforma de criação e experimentação, só o tempo dirá como corre em termos de adesão e, principalmente, partilha de conteúdos que levem os outros a jogar. Neste momento, há um claro potencial, tanto em termos de aprendizagem como de criação. Infelizmente, como já tinha sido referido quando este Game Builder Garage foi anunciado, o software não irá incluir o idioma Português, o que irá dificultar bastante a aprendizagem a quem não compreender Inglês. Há mesmo bastante texto ao longo das aulas, sem o qual não seria possível aprender muitas das funcionalidades dos diversos Nodon apresentados.


Nota: Análise efetuada com base em código final do software para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo. Artigo sem nota de avaliação atribuída, por decisão do autor.

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