Sagrada
Artigo escrito por Miguel Lourenço.
Se já estiveram em Barcelona, espero que tenham tido a oportunidade de visitar a obra-prima inacabada que é a Basílica da Sagrada Família, cuja construção foi iniciada em 1882, e ainda não se vê fim à vista.
Aqui, em modo tabuleiro, vamos ajudar a construir vitrais da Basílica, com a ajuda do posicionamento cirúrgico de dados, por forma a termos o melhor vitral e conseguirmos ganhar aos nossos amigos!
Sagrada é um jogo de 1 a 4 jogadores, na sua versão base, publicado em Portugal pela MEBO, cujo objectivo é precisamente construir um vitral da Sagrada Família no vosso tabuleiro, de forma a ganharem pontos. Como normal, quem tiver mais pontos no final do jogo ganha.
Mas esperem, que isto de construir vitrais tem que se lhe diga!
Primeiro, é preciso escolher um padrão para o vitral. O jogo traz uma imensidão de padrões disponíveis, com vários níveis de dificuldade, o que é perfeito tanto para jogadores mais experientes como para jogadores que nunca viram um vitral de dados à sua frente.
Depois de escolhermos o padrão que queremos, é só colocá-lo no nosso tabuleiro, e já está! A partir de agora é só começar as rondas, rolar dados, e let the good times roll! :)
Claro que nada é assim tão simples, e como podem ver nos exemplos dos padrões da imagem em cima, existem uns quadrados com cores, outros com números... isso são as restrições de cada padrão, ou seja, num quadrado azul só posso colocar um dado azul, e num quadrado com um "4", só posso colocar um dado com o valor "4".
Para ajudar à festa, não podemos colocar dois dados ortogonalmente adjacentes que tenham a mesma cor ou o mesmo número. Então, já não posso colocar aquele dado azul que me dava mesmo jeito, porque é um "3", e eu já tenho ali um "3" ao lado!!!
Mas esperem, que nestas situações há sempre mais uma ajudinha, e neste caso, como estamos em plena construção, há sempre umas ferramentas úteis:
O jogo traz cartas de ferramentas, que são coisas que nos ajudam a quebrar um pouco as regras.
Voltando um pouco atrás, mais concretamente ao início do jogo, dependendo do nível de dificuldade do padrão que escolhemos, ganhamos também umas peças translúcidas, e podemos gastá-las nestas cartas de ferramentas, para usar numa situação de "ai-ai-ai-que-não-consigo-fazer-nada".
Para ajudar também à estratégia, o jogo traz vários objectivos públicos que nos vão ajudar na estratégia, e um objectivo pessoal para cada jogador, que será o somatório do valor dos dados de uma determinada cor.
No final de 10 rondas, o jogo termina, contam-se os pontos, e tira-se uma foto ao vitral! :)
Avaliação D.I.C.E.
Dinâmica
Sagrada é um jogo em que não existe muito confronto directo entre os jogadores. Cada ronda é pacífica, no sentido em que cada jogador constrói o seu vitral sem grandes problemas causados por outros. Mas... especialmente a partir do meio do jogo, em que já começam a não existir tantas opções de selecção de dados e de posicionamento, podem haver situações em que o jogador anterior vai buscar exactamente aquele dado que eu queria, ou uma determinada ferramenta pode ser escolhida várias vezes, o que vai encarecer o custo de a usar novamente, e podemos já não a conseguir usar...
Integração Temática
Para um jogo abstracto como este, falar de integração temática pode não fazer muito sentido, mas continuem a ler :)
A produção do jogo dá a sensação que estamos a construir um vitral! Ao escolhermos o padrão que vamos fazer, é como se alguém nos dissesse, "aqui tem de ser uma peça de vidro vermelha, aqui uma amarela...". Para além disso, as cartas de ferramenta ajudam a dar a sensação de que preciso de uma ferramenta para me ajudar no meu trabalho.
Complexidade
Sagrada é um jogo bastante simples em termos de regras. Em cada uma das 10 rondas, escolhemos 2 dados, que são colocados no nosso vitral tendo em conta as regras de adjacência já referidas.
Estrategicamente, tem bastantes coisas para pensar. O padrão que vamos fazer pode aumentar ou diminuir a complexidade inicial, e em cada ronda, facilmente damos por nós a pensar se queremos este dado ou aquele, porque depois podemos já não ter acesso a ele.
E para os jogadores que gostam também de jogar com o jogo do jogador ao lado, há aí mais um nível de complexidade nas nossas escolhas!
Entretenimento, Design e Arte
A produção do jogo é bastante boa. Os tabuleiros de jogador são de cartão grosso, e têm uma saliência por onde entra o padrão que vamos fazer, o que faz com que seja difícil sair porque alguém deu um safanão na mesa.
Quanto aos dados, podem ser a melhor e ao mesmo tempo a pior coisa do jogo. São pequenos o suficiente para quase apetecer ter uns quantos na mão, translúcidos e lindíssimos, e isso é a melhor coisa do jogo! E o padrão final fica mesmo bonito e até apetece tirar uma foto só porque sim!
Mas há um pequeno grande problema. O facto dos dados serem translúcidos e lindíssimos faz com que pessoas daltónicas possam ficar completamente afastadas do jogo, uma vez que uma grande parte da estratégia de definição do vitral se baseia em cores.
Considerações Finais
Sagrada é, para mim, um bom jogo de entrada no hobby. Não é dos mais falados, como os Ticket to Ride, Catan, Carcassonne, etc, mas permite aos jogadores mais novatos em jogos de tabuleiro modernos perceberem que há mais para além de comprar hotéis no Rossio! :)
É também um jogo para aquelas alturas em que temos 45 minutos para "matar", e que tem uma jogabilidade mesmo muito boa, uma vez que permite juntar à mesa pessoas mais experientes, que podem escolher um padrão com dificuldade mais elevada, e pessoas menos experientes, que farão um padrão mais simples.
É um dos meus abstractos preferidos, com um modo solo interessante (estamos a jogar contra as nossas próprias decisões, vejam que vale a pena!), e que quando vai à mesa, normalmente acabo sempre por jogar 2 ou 3 vezes de seguida.