Final Fantasy IX

Lembro-me bastante bem do dia em que joguei pela primeira vez Final Fantasy IX: corria eu de manhã cedo para a velha loja de jogos Prameta com o dinheiro que tinha guardado desde o Natal, correndo depois de volta para casa. As minhas expetativas eram altas, do pouco que sabia do jogo (a Internet não era o que é hoje) tinha a promessa de ser um jogo que nos levava às raízes da série e mal comecei o jogo dei por mim passar dias seguidos à volta dele, acabando por se tornar num dos meus Final Fantasy favoritos. Este viria a ser também a despedida de Hironobu Sakaguchi, criador de Final Fantasy, pois este foi o último jogo da série que produziu.


Viajamos para o mundo de Gaia, um planeta repleto de criaturas fantásticas dentro do estilo medieval-futurista que a série nos havia habituado, onde colossais castelos e barcos voadores estão lado a lado mas em ponto algum é estranho. Como protagonista temos o mulherengo Zidane, um ladrão cuja missão é raptar a princesa Garnet, também ela membro da equipa de heróis que, sem darem por ela, se vão encontrar numa missão para salvar o mundo. Esta é uma premissa genérica (ou clássica), mas vemos a história do jogo desenrolar de tal modo, com tantas surpresas pelo caminho, que se acaba por se tornar um dos pontos mais fortes do jogo. Não é por acaso que hoje ainda é visto como um dos melhores jogos da série, mesmo que face ao seu lançamento em 2000 tenha sido chamado de infantil devido ao seu look, um caso onde as aparências iludem.

Em 2016 o jogo é remasterizado em HD para dispositivos móveis e PC, seguindo-se de uma versão PS4 no ano seguinte e agora lançado também na Switch e Xbox One, tornando-se possível jogar numa TV HD sem ter um festival de pixeis, sendo notório um aperfeiçoamento dos modelos 3D (principalmente nos personagens principais) que contam agora com mais detalhe. O mesmo já não se pode dizer dos cenários pouco otimizados ou do frame-rate lento no mapa do mundo, um problema do jogo original mas que podiam ter trabalhado. Mesmo a interface chapada da versão mobile, os loadings longos ao entrar em combate que podem ser reduzidos retirando a "intro" dos mesmo nas opções ou ter um ecrã quadrado no jogo podiam ter sido trabalhados. São coisas que afetam um pouco o jogo mas ainda assim estamos perante um jogo único que hoje em dia ainda tem muito a ensinar a muitos outros RPGs nos dias de hoje, até mesmo outros jogos da série lançados posteriormente que parecem ter perdido a alma pelo caminho. A banda sonora (ainda) é incrível, os cenários são fantásticos e com imensa imaginação e todo a aventura está recheada de momentos inesquecíveis.


Voltando atrás no tempo lembro-me do seu lançamento assombrado com o aparecer da PS2 e pelas críticas ao estilo artístico que fugia ao estilo mais realista e futurista de Final Fantasy VII e VIII, fazendo com que muitos fãs descartassem a "bonecada". Ironicamente este novo jogo viria a ser mais adulto que muito do que a série nos havia habituado. Coisas como guerra e morte são comuns na série e neste jogo são uma constante, com mortes impiedosas e uma destruição que nos acompanha desde o início, mas onde encontramos uma grande maturidade é no desenvolvimento dos personagens, com questões como crises de identidade que surgem em todas as personagens e acompanhamos de perto. Entre eles destaca-se Vivi, aquele que ainda hoje é visto como dos personagens mais adorados da série, uma simples criança que não só lida com a possibilidade dele ser apenas um "boneco", como pode parar a qualquer momento, implicando a sua morte. Sendo adolescente quando o joguei pela primeira vez foi uma experiência única seguir estes personagens, mas 19 anos depois é bom ver como o elenco ainda mexe comigo.

Nota-se bem que o jogo é uma grande homenagem à série, desde ver representados os Jobs tradicionais ao uso e abuso de Summons em que alguns têm momentos simplesmente épicos. Toda uma quantidade de monstros tradicionais e também imensos Moogles, que não só servem de Save Points como têm uma side-quest dedicada que nos acompanha o jogo todo. Os combates são os tradicionais por turnos com 4 personagens, em que facilmente conseguimos definir estratégias para cada um deles: roubar itens de bosses com Zidane, destruir grupos de inimigos com Vivi ou focar o dano num só deles com Steiner ou Freya, são coisas que iremos usar até aos últimos combates. Não é um jogo difícil, pelo contrário, mas ainda assim há muito para explorar dentro do combate, principalmente contra bosses. Em várias ocasiões a equipa separa-se em grupos, muitas vezes em partes diferentes do planeta, mas seguimos sempre todos os seus passos e isso ajuda a desenvolver uma forte ligação, não só com os personagens principais como também os secundários, muitos deles que pareciam inúteis ou irrelevantes.


Existem alguns extra nesta versão, um conjunto de cheats que nos colocam logo no nível máximo, permitem normalmente matar inimigos com um ataque só ou retirar os random encounters de todo, ter todo o dinheiro e mais algum, matar inimigos com um ou aprender rapidamente as habilidades que são uma mais valia em combate. Não há assim nenhum motivo aparente para os ativar, a não ser que queiram obter a mítica espada Excalibur II que só poder ser conseguida chegando a um ponto específico do jogo em 12 horas, desafio esse praticamente impossível originalmente mas que se torna bastante viável nesta versão. Mas enquanto que a maioria destas opções tiram a piada ao jogo, aumentar a velocidade ajuda-nos imenso quando queremos fazer algum grind e damos por ela a dar bom uso deste boost.


Resta saber se vale a pena comprar Final Fantasy IX nos dias de hoje e, sinceramente, a minha resposta é sim reforçado, o jogo original é sem dúvida excelente e facilmente iria receber essa nota, mas esta nova versão podia estar bastante melhor. É certo que há problemas neste remaster, bugs de música e coisas que podiam ser muito melhor otimizadas, mas jogar isto de novo quer na TV ou em modo portátil na Switch não só é uma viagem à nostalgia como nos faz pensar que um jogo com 19 anos consegue ser melhor que muitos RPGs lançados hoje. É uma aventura que nos faz querer saber constantemente o que vai acontecer a seguir, mas que acompanhamos ao nosso ritmo, até porque muitas vezes acabamos por perder horas a fio a jogar Tetra Master e completar a nossa coleção de cartas.

Nota: Esta análise foi efetuada com base numa cópia digital adquirida pelo autor do artigo, para a Nintendo Switch.

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