Ghost of Yōtei

Cinco anos depois do sucesso de Ghost of Tsushima, é finalmente altura de jogarmos a sua sequela e, sem qualquer dúvida, um dos jogos mais antecipados de 2025, Ghost of Yōtei. Enquanto que muitos fãs do jogo original certamente esperavam voltar a jogar como Jin Sakai, a Sucker Punch tomou a corajosa decisão de contar uma história totalmente nova em Ghost of Yōtei, pouco ou nada ligada à de Ghost of Tsushima. Trezentos anos depois da história do samurai que se transformou num fantasma, Atsu vagueia pelo extremo norte do Japão em busca de vingança contra os homens responsáveis pela morte da sua família há dezasseis anos.
Talvez controversamente, este afastamento da história de Ghost of Tsushima foi o aspeto que mais entusiasmado me deixou para jogar Ghost of Yōtei. Isto porque, ainda mais controversamente, eu não acho que a essa história original pela qual tantos jogadores se apaixonaram seja assim tão interessante. Não me interpretem mal, eu adorei jogar Ghost of Tsushima, simplesmente nunca foi a sua narrativa ou personagens que me moveram; nunca o conflito na base da história captou-me verdadeiramente. Não espero que concordem comigo em relação a Ghost of Tsushima (saibam apenas que terminei o jogo e cheguei a conquistar a sua platina ao fim de 55 horas, por isso estaria a mentir se dissesse que é um mau jogo ou que não gostei dele), mas espero que não levem a mal quando vos digo que Ghost of Yōtei é um jogo confortavelmente superior.

À primeira vista, a premissa de Ghost of Yōtei pode parecer algo simples e banal. Dezasseis anos após ver a sua família ser assassinada pelos Seis de Yōtei em criança, Atsu regressa a casa como uma guerreira impiedosa, vingança personificada, com uma lista de nomes que aprenderão a temer a sua katana. Mas há muito mais para lá disso, principalmente no que toca a Atsu, uma personagem pela qual desenvolvi uma empatia e carinho que nunca tive realmente para com Jin. E enquanto que ambas as personagens partem numa missão de vingança, as diferenças entre as duas são interessantes. Jin valoriza a sua honra, como samurai, e o conflito principal nasce da sua necessidade de adotar a personagem do fantasma para poder proteger o povo japonês da invasão mongol.
Por outro lado, a missão de Atsu é estritamente pessoal e ela não tem qualquer problema em fazer o que quer que seja preciso para livrar o mundo dos homens que destruíram o seu. Ainda assim, isto não impede que as suas ações inspirem e deem esperança ao povo de Ezo, que vê Atsu como um onryō, um espírito vingativo, o que não está totalmente errado. Atsu parece verdadeiramente uma força imparável da natureza e o facto de, ao visitar a sua casa, podermos reviver momentos da sua infância, permite-nos sentir a profundidade da sua dor e motiva-nos a perseguir a sua missão.

Em termos de jogabilidade, Ghost of Yōtei não se afasta muito daquilo que foi Ghost of Tsushima, usando o original como base para construir algo ainda mais impressionante e satisfatório. Com uma maior variedade de armas e outras artimanhas, Ghost of Yōtei é uma versão aperfeiçoada do seu antecessor. Parece-me importante salientar que esta variedade não existe simplesmente para proporcionar uma ilusão de escolha ou desafio; ao contrário de tantos outros jogos, existem diferenças significativas entre cada arma que Atsu aprende a dominar. Por exemplo, contra um inimigo que use uma lança, o poder duplo de usar duas katanas permite a Atsu ser mais rápida e anular a vantagem de uma arma maior.
Por outro lado, se esse mesmo inimigo trocar a lança por uma katana, será mais preciso do que Atsu, pelo que as duas katanas já não serão tão vantajosas. Esta dicotomia está presente em todas as armas e em cada duelo, dotando o combate de Ghost of Yōtei de uma profundidade que nos obriga a conhecer verdadeiramente cada arma, sem nunca ser tão complexo que deixe de ser divertido. Verdadeiramente, não há nada mais satisfatório do que pegar na arma de um inimigo que acabamos de derrotar e atirá-la ao próximo; esta é, sem dúvida, a minha novidade preferida.

Tal como Ghost of Tsushima, Ghost of Yōtei é melhor quando jogado sem pressa, e crucial para isso ser possível é o mundo aberto criado pela Sucker Punch. Não há escassez de coisas para fazer em Yōtei, desde a história principal, a missões secundárias — ou contos —, mitos para desvendar, criminosos para caçar, senseis para conhecer e tantas outras atividades, algumas novas, outras já presentes em Ghost of Tsushima. Principalmente nas primeiras horas do jogo, quando encontramos um grupo de inimigos, Atsu pode interrogar o último sobrevivente para descobrir mais sobre os seus alvos; cabe a cada jogador escolher sobre que alvo quer interrogar cada inimigo, bem como a ordem pela qual segue as pistas que encontra. A melhor forma de jogar Ghost of Yōtei é sem qualquer objetivo em mente, simplesmente cavalgando pelas planícies de Ezo em busca da próxima aventura.
E não só há uma grande quantidade de atividades espalhadas pelo vasto mapa de Ghost of Yōtei, mas há qualidade também. Talvez o meu aspeto preferido são os senseis que vamos encontrando ao longo da nossa viagem. Ao contrário de outros jogos, em Ghost of Yōtei, aprender a usar uma nova arma não é tão simples quanto acumular xp suficiente para desbloquear uma nova habilidade. Atsu começa a sua aventura apenas com uma katana, mas vai encontrando mestres que dominam a técnica da lança ou do odachi e que não estão dispostos a ensinar os seus segredos a qualquer viajante. Atsu tem de se provar digna do conhecimento e, uma vez conquistada a confiança de um mestre, segue-se um treino intensivo, que por vezes dura dias. Apreciei bastante a importância que é dada à aprendizagem de uma nova técnica, o que nos permite não só valorizar a nova arma que recebemos, como também familiarizarmo-nos verdadeiramente com esta.

Semelhante a Ghost of Tsushima, existe a possibilidade de jogar tanto com as vozes inglesas como as japonesas, sendo, para mim, esta última, a única forma correta. Adicionalmente, está de regresso o modo Kurosawa, inspirado pelos clássicos filmes de samurais do lendário realizador japonês, mas existem também dois novos modos, um que homenageia o estilo dos filmes de Takashi Miike, colocando a câmara mais próxima de Atsu e aumenta a quantidade de sangue e lama, e outro desenvolvido em conjunto com Shinichiro Watanabe, realizador de Cowboy Bebop que permite ouvir músicas lo-fi compostas por Watanabe.
Não há um único aspeto de Ghost of Yōtei que não me deixe impressionado, seja a sua história que rapidamente me agarrou, o combate que é tão fluído quanto é frenético e satisfatório, o vasto mundo aberto que contém belas planícies, montes nevosos e pântanos lamacentos e a maravilhosa banda sonora, cuidadosamente composta por artistas incrivelmente talentosos. Este é, sem qualquer dúvida, um dos melhores jogos que vamos receber este ano e será certamente um dos preferidos desta geração para muitos jogadores.