Devil May Cry 5


Deixem-me só dizer isto: estou a escrever sobre Devil May Cry! E a Capcom está de volta, baby!

Sabem aquele amigo que se mete na má vida, afastamo-nos dele, passam anos, o gajo deixou-se de tretas, organizou a vida e está melhor do que nunca? É a Capcom!, que depois de uns tempos miseráveis com polémicas atrás de polémicas e lançamentos medianos, voltou com uma cara nova e apostas vencedoras.

O que aconteceu? Ouviram os fãs e o novo motor RE Engine é um mimo. Depois de uma estreia bem-sucedida com o Resident Evil 7, é normal que voltassem a usá-lo para o remake do Resident Evil 2 e para o Devil May Cry 5. Os jogadores só têm a ganhar.

As personagens confundem-se com pessoas reais com todo o tipo de detalhes, desde as tatuagens às rugas, sem esquecer a barba por fazer do velho Dante. É tão bom e estranho ver como esta gente envelheceu e manteve o charme. Depois há todo o resto a colorir o mundo, a carrinha, as armas e a roupa foram criadas com um detalhe microscópico e quem tem uma boa televisão é um sortudo por estar imerso. A arte dos inimigos, os demónios da praxe, é variada e vêm de todas as formas e feitios – nojentos, horripilantes com o único propósito de serem desfeitos com ataques de espadas, matracas, misseis e… mota? Para acompanhar a sinfonia de destruição desenfreada, o ecrã enche-se de partículas de luz, explosões, raios, sangue, partes de monstros e esferas vermelhas sem perder a qualidade dos seus 60 FPS. Tive zero problemas e zero queixas em termos de desempenho. Os únicos soluços aconteciam quando ganhava troféus.


A música de DMC V é uma injecção de adrenalina com uma banda sonora bem esgalhada para cada momento. Os temas de combate pulsam durante as batalhas, aumentando de intensidade consoante os combos e a classificação. Com tanto Rock, Metal, Dubstep e Screamo só consigo recomendar a baixarem o volume se jogarem de noite como eu – mas é contagiante, agarram no comando com mais força e lançam-se contra grupos de demónios como se fossem as próprias personagens. Mal posso esperar pela banda sonora estar disponível para ouvir durante o dia – enquanto não acontece, ouço em loop a Devil Triger. Foi óptimo voltar a ouvir os mesmos actores a dispararem piadolas e discursos magnânimos. Gostei do sotaque da Nico, da voz melancólica do V e quando o vilão fala, hum, a Capcom sabe agradar, se sabe.

Depois as explosões e os rugidos e o metal contra metal, uma cacofonia que não foi descurada.

No entanto, um jogo não vive só de festa e para eu afirmar o que disse nos primeiros parágrafos, convém analisar o bolo pela soma de todas as fatias.

História? Bem, passaram-se dez anos – DEZ – desde o Devil May Cry 4. Tivemos uma espécie de reboot (não joguei), mas que não fez muito pela série. A fome por mais Dante e companhia era negra, os ports para as novas consolas enganavam-na, mas o anúncio pela verdadeira sequela demorava. Foi um segredo mal guardado e os rumores faziam a panela de pressão chiar pela Internet. Até que… em 2018 finalmente anunciaram a quinta entrada – V, para ter mais estilo. Foi dos trailers mais vistos e abafou muito do que foi anunciado na feira. Quer dizer, tinha o Nero, uma miúda gira, demónios, sangue, one liners e muita adrenalina! Claro, o final com o avô Dante. E um ano depois, cá estamos a analisar essa mesma bomba!


O facto de a Capcom ter anunciado o jogo e lançado no ano seguinte é outro bónus para o seu regresso triunfal! Não é a outra companhia nipónica que anuncia jogos para os lançar dez anos depois.

Ninguém esperou muito tempo e o jogo também não foi apressado. Nota-se que houve muito amor na produção e que os fãs foram ouvidos porque tiveram o que mais queriam – fanservice!

O enredo é o sabor tradicional da saga Devil May Cry, uma novela mexicana sem muita lógica que serve de fio condutor para porrada e mais porrada. Sem revelar muito, o jogo começa cinco anos depois do 4, quando uma figura misteriosa arranca o braço ao Nero e desaparece para a casa da mãe do Dante. Nero, que se juntou a Nico, uma mecânica, parte para o recuperar. Ao mesmo tempo, o trio Dante, Trish e Lady chegam a Red Grave para acabarem com um demónio que promete partir o destruir o mundo ao meio. Uma terça-feira, portanto.

Com as peças no tabuleiro, o jogo avança com revelações, suspense, comédia e momentos dramáticos. As novas personagens adicionam outra dinâmica às conhecidas e tornaram-se favoritas do público. A Nico é linda e a voz dela derrete-me. É um fartote quando entra em cena e dava muito para que tivesse mais protagonismo, mas fica encarregue de nos vender armas e atributos; a outra é V, um tipo misterioso, com sandálias e que anda de bengala a ler poesia. O estilo de combate de V é radicalmente diferente do que estamos habituados, apostando em ataques à distância através de três criaturas que invoca.

Pessoalmente, gostei muito de jogar com ele e tive vários SSS, o que não tive com os outros dois.
Infelizmente, a Trish e a Lady foram relegadas a cameos, com zero utilidade para a narrativa e que apenas serviram para aparecerem nuas em duas partes do jogo. A maneira como foram tratadas foi triste, mas o “final secreto” promete mais destaque às miúdas dos clássicos e cá o esperamos!
DMC não é Shakespeare, portanto abro uma excepção muito grande para a rule of cool, onde vale tudo, menos ser careta. Apenas não apreciei a forma fragmentada como contaram a história: começaram a meio, foram ao passado, futuro, ainda mais ao passado, presente novamente. Não era confuso, mas este pára-arranca prejudica uma narrativa se não for bem feito e não foi, mas lá se deixaram disso a meio e o jogo seguiu a eito até ao final.

O grosso – o sumo – do jogo está no combate e não só temos três personagens como temos vários estilos de luta diferentes.


Dante regressa com os seus quatro estilos, Trickster, Gunslinger, Royal Guard e Swordmaster. Nero tem um estilo mais básico, cuja rotatividade está ligada ao braço mecânico. E V que opta por um combate à distância – estava com receio que fosse o piorzito de todos, mas foi o estilo que mais adorei porque é tão diferente do que conhecemos e implica mais estratégia. Não vou perder muito tempo a descrever as mecânicas de combate porque terão vinte capítulos para se habituarem e decidirem qual gostam mais, mas deixem-me dar os meus dois cêntimos: jogar com o Dante é diversão pura! Não só temos mais estilos como mais armas para trocar. Não são todos os dias que usamos uma mota como serra eléctrica; achei o estilo do Nero mais chato por causa das mecânicas do braço. OK, cada braço tem uma característica diferente como chicotes, choques, míssil que podemos montar, etc, mas não dá para trocar a meio do combate. Para passarmos para o braço seguinte, temos de o destruir…
Se quiserem passar as batalhas do V a ler poesia, ora, à vontade! O homem saca do seu poemário e lê enquanto comanda os seus familiar - Shadow (curta distância), Griffon (longo alcance) e Nightmare (misto, mas mais poderoso). Depois é só carregar no O para aquele golpe final gostoso e ver a pontuação a aumentar.

O combate em DMC 5 é uma evolução na direcção certa. O jogo é acessível, mas tramado se quiserem ser mestres. Em nenhum momento me senti estúpido a jogar no modo normal, mas para uma ajuda extra, podem activar o Auto Assist que permite encadear vários golpes e combos sem termos de os memorizar. É fixe e o jogo faz-nos sentir fixe!

Lá para o final houve um pico de dificuldade, mas nada que trinta tentativas não dessem conta do assunto. Aliás, podiam ser menos se o jogo fosse um bocadito mais justo. Passo a explicar: não há itens curativos, portanto quando morrerem ou gastam esferas vermelhas para recuperar energia (aumentam a cada uso) ou esferas douradas. Se as usarem todas e acabarem por desistir para ir ao menu ou desligar a consola, ficarão sem elas. Descobri isso bem tarde no último boss. Obrigou-me a repetir um nível anterior para ganhar esferas vermelhas (porque nem pensar que vou aderir às microtransacções!)

Fora este pequeno osso que estive a roer, o jogo é fantástico! É uma tijela de massa cheia de queijo, recheada de deixas pirosas, chavões, bailes, piscadelas meta a outros jogos DMC e muita coisa ridícula – quanto mais melhor. É garantido que se o jogo começa com níveis de adrenalina a cem, só vai aumentar. Dito isto, a longevidade curta joga a seu favor porque não enjoa.


DMC V é aquela refeição que convida a várias repetições. Há tanto para fazer, pontuações para ultrapassar e dificuldades para testar e, em breve, irá sair o DLC com o modo Bloody Palace, oh boy!
Acho que fica muito para dizer, mas escrever sobre DMC não é justo e explicá-lo é quase como explicar uma piada até deixar de a ter. Explicar que o herói é trespassado em todos os jogos, enquanto come piza, ao som de alta metalada, para acabar a fazer surf em cima de demónios é de loucos, mas é impossível não ficar excitado e empolgado porque tudo o que acontece em vídeo é possível ser feito por nós e quando conseguimos aquele combo docinho Smokin' Sexy Style!! sabem que tudo está bem no final.

Ficamos à espera do VI! Já agora, do Remake do Resident Evil 3 e do Dino Crisis também.


Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay.

Latest in Sports