Rage in Peace


Existem dois tipos de jogos difíceis: os simplesmente difíceis e os extremamente difíceis. Depois existe Rage in Peace que, para além de difícil, é apenas frustrante. Não se trata de um Dark Souls ou um Ghosts'n Goblins, onde existe de facto o prazer de jogar, simplesmente não tem sequer pés nem cabeça. Uma coisa é certa, depois de jogarem uns minutos de Rage in Peace, vão querer atirar o comando. No meu caso, e por razões de segurança, foi sair do jogo e não voltar a tocar nele.


Se ainda aqui estão, então é porque querem saber mais.

O jogo começa bastante interessante, um desgin belíssimo como se fosse o Alien Hominids ou até melhor, cartoonesco com diálogos cómicos e muito bem trabalhados. Jogamos com Timmy Malinu, um jovem de 27 anos que como todos, tem a sua rotina, acorda e dirige-se ao seu escritório para mais um dia aborrecido de trabalho. Ao chegar ao elevador que o leva diretamente ao piso onde a sua empresa está instalada, Timmy tem um encontro com um ceifador, onde este lhe conta que o protagonista vai morrer decapitado precisamente hoje. Seja pela manhã ou pela tarde, a única verdade é que hoje é o seu último dia de vida e disso não tem qualquer escapatória. Para ser cómico, o ceifador oferece a oportunidade de ele falecer em casa vestido de pijama, algo que Timmy tanto deseja que assim seja mas, para tal, ele terá de ultrapassar este dia de “trabalho”.

Coisas infinitamente ridículas acontecem a Timmy neste dia. É aqui que começa o jogo, um jogo simples de plataformas em 2D com um grafismo bastante caricato. Ainda devem estar a questionar porque razão fiquei com tão má impressão deste jogo. É tudo muito simples, quando um jogo vos ensina os básicos, estes devem ser postos em prática para os perigos que ao longo do jogo surjam, é esta a lógica de qualquer videojogo normal. Mas Rage in Peace não é o caso, esse é o maior problema em questão. Os tutoriais servem para ajudar a entender as mecânicas de um jogo, daí aprendermos a jogar e evitar as armadilhas que existem ao longo de metros percorridos, mesmo que o jogador tenha de ver o ecrã de game over umas vezes, tal como sucede em outros jogos mais hardcore, até aí tudo bem. O problema em Rage in Peace é aprender o tutorial, saber que (ou supostamente) se tem de evitar uma enorme variedade de armadilhas confusas.

É aqui que a experiência é totalmente arruínada. Se o jogador é avisado de que tem de saltar sobre charcos de água pois estes são ameaçadores, o jogador irá certamente evitar a todo o custo, qual o meu espanto quando tento evitar o terceiro charco de água e pisar o solo onde supostamente era seguro e morrer? Afinal, neste charco, já teria de o pisar. De seguida, após tentativas absurdas e completamente aleatórias (porque o jogo é todo ele assim), encontro-me a cair em alta velocidade do prédio e os problemas continuam. Não me foi possível controlar a velocidade da queda, mas podia mover-me para os lados. Eu até tenho jeito para estas sequências em jogos normais mas estamos a falar de Rage in Peace, onde até usamos as nossas habilidades e isso não significa rigorosamente nada se não perdem múltiplas vidas e tempo precioso para conhecer de onde são atingidos.


Pedras e todo o tipo de obstáculos incluindo até baleias surgem no ecrã para decapitar Timmy e isso meus amigos, é completamente inevitável. É aí que toda a piada perde, o jogo não depende de habilidades, o jogo depende de tentativas atrás de tentativas e de uma perfeita repetição que obriga o jogador a perder em todos os pontos do jogo e decorar todo o nível para o terminar, é impossível e sublinho o impossível bem sublinhado, conseguir escapar a qualquer armadilha criada no jogo, é obrigatório perder em quase cada passo dado para poder terminar um único nível e isso não é sequer um jogo jogável.

Engraçado que o jogo inclui bosses e é de facto a única parte em que tudo depende das habilidades do jogador para escapar aos ataques, fora isso, o jogo é uma tristeza de mortes previstas e impossíveis de escapar seja quem for o jogador, tirando claro, o facto de decorar todo o nível para o passar, que este jogo obriga o jogador a fazer, isso tem alguma lógica sequer? Na minha opinião, inequívocamente que não!

O melhor deste jogo são as cutscenes, as cores e as bandas indies que tocam ao longo destas sequências batante bem animadas mas, isso não é suficiente para o jogador ter o prazer de jogar, aliás é impossível ter prazer num jogo que vos obriga a perder a casa passo dado no cenário só para que o jogador seja obrigado a decorar o nível, não faz sequer sentido nem sequer é jogável.


O jogo tinha tudo para ser algo muito bom, pois a história cómica e o seu grafismo são realmente interesantes incluindo a banda sonora que se adequa perfeitamente no espirito do nosso protagonista, no entanto a parte que diz respeito ao jogador, é simplesmente horrível e com tanto jogo por aí, o melhor é mesmo evitar Rage in Peace.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Plan of Attack

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