Pokémon: Let's Go, Pikachu! / Pokémon: Let's Go, Eevee!


1998: Há 20 anos, a Game Freak lançava Pokémon Yellow, uma nova versão dos originais Pokémon Red e Pokémon Blue (ou Green no Japão), com o grande destaque de capa atribuído ao extremamente popular Pikachu. Inspirado na série de animação, o jogo fazia do Pikachu o grande parceiro dos jogadores, podendo interagir-se com ele a qualquer momento. Na altura, algo tão simples como essa funcionalidade conseguia ser realmente especial e isso foi o suficiente para fazer deste o primeiro RPG que alguma vez joguei. Curiosamente, joguei-o na TV, graças ao jogo Pokémon Stadium e um acessório do comando da Nintendo 64.

Passaram duas décadas e o Pikachu continua tão popular como dantes (senão ainda mais) e regressa à capa de um jogo "principal", desta vez acompanhado de Eevee, num jogo que se assume como uma reimaginação de Pokémon Yellow. Conforme a versão escolhida, Pikachu ou Eevee será o grande parceiro dos jogadores, sempre presente e agora mais importante do que nunca. Agora na Nintendo Switch, é também o primeiro jogo da série concebido a pensar na TV e até oferece compatibilidade com um novo acessório em forma de pokébola que também funciona como comando. A maior surpresa, no entanto, é a forma como quer seduzir os milhões de jogadores de Pokémon GO.

Eis Pokémon: Let's Go, Pikachu! e Pokémon: Let's Go Eevee! para a Nintendo Switch.


Para todos os efeitos, Pokémon Let's Go, Pikachu! / Eevee! (LGPE) é um novo começo. Depois do enorme sucesso de Pokémon GO, o jogo para dispositivos móveis que conquistou mais 100 milhões de utilizadores e ainda hoje é extremamente rentável para a Niantic e Pokémon Company, o desafio seguinte é convencer uma percentagem desse mercado a experimentar um jogo da série principal, viver a experiência de um RPG de Pokémon.

Sob este pretexto, a Game Freak teve uma oportunidade única de abanar todas as fundações da série e deixar apenas o essencial da experiência, construindo em seu redor um RPG amigável a novos jogadores e com bastantes mecânicas de jogo inspiradas em Pokémon GO. Para os veteranos da saga, poderá ser radicalmente diferente, mas também por isso o anúncio de LGPE veio acompanhado da promessa de um jogo mais "tradicional" em 2019.

De todas as novidades, a mais controversa está no sistema de captura, que replica na Nintendo Switch o ecrã de Pokémon Go com uma circunferência dentro da qual se deve acertar com a pokébola. Não há mais batalhas contra os pokémon selvagens, apenas encontrá-los no mundo e atirar pokébolas. Uma captura bem sucedida resulta num prémio de experiência para todos os pokémon da equipa do jogador (a "party") e ainda pode incluir algumas recompensas, o que resulta numa tendência natural para capturar muitos, mesmo que sejam de espécies que já se encontram na coleção. Também por isso, há agora muito mais pokébolas à disposição do jogador do que em qualquer outro jogo de Pokémon.


Colocando de parte a questão das capturas, o jogo não é assim tão diferente. Tudo começa com a descoberta do pokémon parceiro, Pikachu ou Eevee, de acordo com a versão adquirida. Agora com um pokémon ao seu lado, o protagonista personalizado (rapaz ou rapariga, com quatro tons de pele à escolha) irá pela primeira vez explorar a região de Kanto, habitada por 150 diferentes espécies de pokémon para descobrir e colecionar. Quer ser o melhor treinador de pokémon da região, por isso terá de treinar uma equipa capaz de vencer os líderes dos 8 ginásios espalhados pelas diversas cidades, antes de enfrentar a grandiosa Elite 4 e se afirmar como o verdadeiro campeão.

Parece fácil, mas pelo meio irá encontrar uma série de peripécias que envolvem a Team Rocket e o seu plano maléfico para dominar o mundo. É aqui que este remake brilha para quem tiver jogado o original. A cada situação familiar, há um novo detalhe, uma nova abordagem que torna tudo mais delicioso. Sem querer revelar grandes pormenores, há novas interações, novas personagens e até mesmo algumas situações ganham um novo significado. Este jogo não é para veteranos? O que é isto senão dar cor e alegria a velhas memórias de momentos vividos há cerca de 20 anos?

Os novos jogadores nada saberão desta nostalgia, mas irão ainda assim encontrar aqui um mundo alegre e de cores vibrantes, com uma história simples mas suficientemente apelativa para se continuar a avançar. O grafismo do jogo é praticamente irresistível, o mais parecido com uma série de animação até hoje em Pokémon, como que absorvendo o jogador pelo ecrã adentro. Não será certamente um candidato ao prémio de melhores gráficos da Nintendo Switch, mas não é por isso que deixam de ser os ideais para o jogo que é: simplesmente um jogo muito bonito.


Colecionar, treinar/batalhar e explorar, são os três fundamentos de qualquer jogo de Pokémon. Em LGPE não será diferente, mas agora o mundo está repleto de pokémon um pouco por todo o lado. Deixa de haver encontros aleatórios, pois os monstros estão visíveis em toda a parte, apesar de continuarem a surgir aleatoriamente. Diferentes espécies terão diferentes probabilidades de aparecer, variando também conforme a localização onde o jogador se encontra, o que só por si será um convite a ficar mais um pouco e ver o que aparece. Capturar vários pokémon da mesma espécie, de forma consecutiva, irá aumentar as recompensas obtidas em cada captura. Em contrapartida, durante essa sequência poderá surgir um mais raro no mesmo local. Decisões, decisões.

Alguns pokémon, como os lendários, irão funcionar de forma diferente. Eles atacam o treinador, que terá de se defender com um combate de pokémon. Se o derrotar dentro do tempo limite para o combate, terá então a oportunidade única de o capturar para o adicionar à coleção e à equipa. Como poderá sempre haver algum azar, o melhor é gravar antes de interpelar um destes pokémon especiais.

O combate é um regresso às origens de Pokémon, em combates por turnos onde cada pokémon sabe apenas 4 ataques, que podem causar dano e/ou alterar os "stats" do adversário. Para os veteranos, não há condições meteorológicas, nem habilidades nem itens segurados pelos pokémon, o que pode ser demasiada simplificação, especialmente se estiverem habituados a jogar de forma competitiva. Por outro lado, para quem joga Pokémon pela primeira vez, é uma excelente forma de começar com apenas o fundamental. À medida que se avança no jogo, são introduzidas outras formas de combate como as batalhas de 2 contra 2 e até as Mega Evoluções, tudo a seu tempo e de forma bastante natural.

Em contrapartida, agora os ginásios têm um pré-requisito para que o jogador lhes possa aceder. Logo no primeiro, por exemplo, será necessário ter na equipa um pokémon que seja de um elemento vantajoso em relação ao tema do ginásio, mesmo que depois não seja obrigatório utilizá-lo nos combates. Outros ginásios terão outros requisitos e, normalmente, servirão para assegurar que o jogador já progrediu até certo ponto. Em geral é um jogo fácil e, especialmente se se fizerem muitas capturas, será fácil progredir até à Elite 4.


Apesar das simplificações, os Pokémon continuam a ter conceitos como IVs (valores individuais) e EVs (valores de esforço) por detrás das suas estatísticas. Para cada pokémon, é possível ver o seu gráfico com a distribuição das caraterísticas com impacto direto na prestação de combate. Um pokémon com boa defesa (Defense) irá mais facilmente resistir a ataques físicos do que outro da mesma espécie e até do mesmo nível mas nunca tenha trabalhado a defesa. É aqui que entram as recompensas das capturas, pois irão incluir "candy" para aumentar estas estatísticas de forma específica e ao critério do jogador, tornando assim bastante acessível um aspeto do treino de pokémon que, outrora, só se conseguia entender consultando guias na internet.

Naturalmente, algo que não poderia faltar num jogo de pokémon são as trocas e combates multijogador, que podem ser feitas em modo local sem fios ou através da internet com amigos registados na conta da Nintendo Switch. Ao estabelecer uma ligação, os jogadores terão de combinar entre si um código mas, fora isso, é um processo muito simples. Escolher o pokémon a oferecer, ver qual está a ser oferecido em troca e aceitar. Uma operação útil, pois cada versão do jogo tem um pequeno conjunto de monstros exclusivos e que só poderão ser obtidos por troca... ou então transferidos a partir do Pokémon GO.

É possível transferir do Pokémon GO para o Pokémon LGPE tantos pokémon quanto se quiser, mas estes não ficarão imediatamente na coleção do jogador. Será necessário visitar uma localização específica com o nome de GO Park e aí sim, capturar os pokémon pretendidos para que eles se juntem à Pokémon Box do jogador. Infelizmente, a aplicação Pokémon GO não foi atualizada a tempo de se testar estas funcionalidades a tempo da publicação deste artigo. Ainda assim, esta será certamente muito utilizada pelos jogadores, pelo que importa notar que o Go Park só ficará acessível ao fim de cerca de 20 horas de jogo.


Já disponível desde o início, estará a Poké Ball Plus, o novo acessório para a Nintendo Switch desenhado a pensar neste jogo e que inclui de oferta um Pokémon Mítico Mew. Tendo-nos sido cedida pela Nintendo para efeitos de análise, a verdade é que se tornou imediatamente no sistema de controlo favorito para este jogo, mesmo que não seja perfeita. A Poké Ball Plus contém um botão analógico, juntamente com dois botões e um sensor de movimento, sendo este último usado para funções secundárias que, com os comandos joy-con, podem ser facilmente acedidas via outros botões. Os controlos, seja com joy-con ou pokébola, são relativamente simples pois quase todo o jogo se baseia em confirmar/cancelar ou aceder ao menu. Os sensores de movimento são utilizados pelo sistema de captura, atirando a pokébola em direção ao ecrã - daí a Poké Ball Plus ser tão gratificante.

Outra funcionalidade incluída com a Poké Ball Plus é a de lhe colocar um pokémon no interior para a levar a passear, obtendo-se depois as recompensas relativas ao passeio e integração com o jogo Pokémon GO (a bola também funciona como um acessório Pokémon Go Plus). O que não funcionou como esperado foi, após a transferência do pokémon parceiro para a bola, ter-se a possibilidade de interagir com ele através de movimentos - poderá ainda faltar uma atualização por ocasião do lançamento do jogo.

Já quando se joga em modo portátil, o esquema de controlo é bastante mais tradicional, atirando-se a pokébola com o premir de um botão, mas ajustando a direção ao mover ligeiramente a consola. Infelizmente, o ecrã tátil foi praticamente esquecido, servindo apenas para interagir com o pokémon parceiro. Uma boa surpresa de jogar em modo portátil foi a duração da bateria da consola, capaz de passar as 5h de jogo consecutivas e bem mais do que o necessário para uma longa viagem de comboio ou autocarro. Mesmo com a transição para a Nintendo Switch, a Game Freak nunca esqueceu as raízes no mundo portátil.

Finalmente, e pela primeira vez na série, agora é possível auxiliar o jogador utilizando um segundo comando, o que irá fazer surgir uma segunda personagem no ecrã acompanhada de outro pokémon da equipa do jogador. Um modo particularmente pensado para se ajudar um jogador menos experiente a descobrir o mundo de Pokémon, quer seja uma criança, um sénior ou até mesmo a cara-metade.


Pokémon LGPE é realmente um Pokémon como nunca antes visto! Por um lado, sabe puxar pelos cordelinhos certos da nostalgia de quem tenha jogado os originais Red / Blue / Yellow na GameBoy, oferecendo uma visão completamente nova sobre aquele mundo que, ao mesmo tempo, é bastante fiel ao que naquela altura só se poderia imaginar. Por outro lado, tem uma enorme preocupação com a acessibilidade a novos jogadores, reconhecendo que muitos dos jogadores do tempo da GameBoy têm agora filhos em idade de jogar o seu primeiro Pokémon.

Só o tempo dirá se este jogo serviu para converter jogadores de Pokémon GO em jogadores de Pokémon da série principal. As sementes estão lançadas, com um jogo que adapta ao formato RPG vários conceitos do popular jogo dos "smartphones" e introduz os conceitos essenciais do combate da série sem o sobrecarregar com os aspetos da vertente mais competitiva de Pokémon. Para quem vem de Pokémon Ultra Sun / Ultra Moon da Nintendo 3DS, a sensação de que esta é uma versão muito simplificada das mecânicas de jogo estará sempre presente, mas há mais neste jogo para se desfrutar.

Com um grafismo simples, mas mesmo muito bonito, e uma excelente banda sonora a acompanhar, este é um jogo realmente delicioso e ideal para jogadores de qualquer idade. A maior dificuldade será mesmo escolher o parceiro, pois tanto Pikachu como Eevee serão adoráveis companheiros de uma jornada igualmente adorável. Ao fim de mais de vinte anos, a série chega finalmente às consolas domésticas e nunca teve tão bom aspecto como em Pokémon: Let's Go, Pikachu! e Pokémon: Let's Go, Eevee!
Nota: Esta análise foi efetuada com base numa cópia física de Pokémon: Let's Go, Eevee! para a Nintendo Switch, gentilmente cedida pela Nintendo.


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