Death Mark
História engraçada: estava a passear pelo Instagram quando
vi o anúncio deste jogo e fiquei logo atraído pelo conceito: uma visual novel de terror na Nintendo Switch. Uns tempos depois, o jogo
estava na minha caixa de correio para analisar – até parece que foi destino ou…
maldição.
A minha primeira análise do género foi ao The Men ofYoshiwara e, embora tenha gostado, o jogo era bastante linear quando
escolhíamos o rapaz para copular. Já neste Death Mark, a coisa é um pouco
diferente.
Pensado pela Experience Inc. e localizado pela Aksys
Games, este Death Mark rastejou até à Nintendo Switch e agarrou-se às nossas pernas.
A marca passou para nós e só iremos viver até à próxima madrugada. Até lá iremos
perder a memória, a menos que façamos alguma coisa, mas não temos muito tempo.
O título é a premissa básica do jogo, mas não será assim
tão simples. Depois de criarmos a nossa personagem, ao longo de cinco capítulos
(mais um adicional) iremos resolver vários mistérios sobrenaturais que envolvem
o exorcismo de um espírito que nem sempre será maligno. Se estiverem
familiarizados com o cinema de terror japonês, sabem que o cliché dos espíritos
passa pela sua origem rancorosa ou através de actos violentos; a existência de
um implica uma vingança brutal e há quase sempre uma lenda ou um mito urbano à
sua volta.
Os capítulos começam assim: ficamos a saber de uma
aparição que pode estar relacionada com a marca e vamos investigar. Cada
capítulo conta com um elenco caricato para nos acompanhar na investigação,
personagens coloridas, estereotipadas e tão japonesas que dói, mas que não
destoam nesta aventura nem nos fazem «crinjar». Cada uma com as suas motivações
e auras misteriosas e, ah, nem todas sobrevivem… Ah, pois!
Death Mark é linear, mas cada capítulo tem dois finais: o
normal e o bom. No normal, o parceiro que escolheram morre; no bom, sobrevive.
O que leva a um e a outro final é algo que terão de prestar atenção durante o
jogo, ler as notas todas e usar a informação obtida. Eu deixei morrer algumas
personagens e podia voltar atrás, mas continuei em frente e assumi as minhas
escolhas. É um detalhe que me apanhou de surpresa e veio aumentar a tensão do
jogo. Passei a ter muito cuidado, mas ainda assim não fui capaz de prevenir
mais baixas.
A cruz destes jogos é a jogabilidade e é aquilo que já
estão à espera: muito texto para ler, mas mesmo muito. O único ponto menos bom
é que não podemos ajustar a velocidade do mesmo: ou esperamos que surja todo ou
passamos a frase toda se tivermos o dedo pesado (mas se o perdermos, podemos ler
o registo). E quando não estamos a ler, estamos a explorar o mapa à lá
Labyrinth of Refrain, a apontar a lanterna para tudo e mais alguma coisa; as
pistas surgem como pontos brilhantes para interagirmos, pegarmos ou usarmos
outros itens. Há uma mistura de vários géneros neste Death Mark, mas nenhum é
intruso e cumprem o seu dever. Podem também contar com uns puzzles
superficiais, mas nada que tire o sono.
O que tira o sono é o ambiente claustrofóbico e
aterrador, não fosse isto um jogo de terror. Sim, vão-se assustar! O som e os
visuais estão no ponto, mas o que gostei mais foi dos sustos aleatórios.
Apontem a lanterna para tudo, é só o que digo. Os mortos e os vivos são seres curiosos e quando nos
colocam perguntas, temos de responder rápido e correctamente. Cada segundo ou
resposta errada consome pontos espirituais e quando chegarmos a zero, morremos.
Para os recuperar, temos de achar talismãs. O final de cada capítulo é formulaico, terminando no
confronto com a assombração. Aqui é que vão usar tudo o que apanharam e
aprenderam para o exorcismo, mas não se esqueçam do que disse acima: se fizerem
as escolhas erradas, alguém vai morrer.
No departamento técnico, a arte é irrepreensível, mas
também é subjectiva. Gostei do que vi e achei que servia o tema do jogo, com
algumas cenas mais pesadas de gore e alguma sexualidade. Os próprios espíritos
tinham um design interessante e
inquietante. Como é um jogo mais estático, estamos várias vezes a olhar para os
mesmos retratos das personagens, portanto ainda bem que gostei… Som! Bem, estou
dividido: por um lado, achei que o jogo só tinha uma música que passava nos
momentos mais tensos. Por outro, os efeitos sonoros e os sons espectrais estavam
uma delícia. O chão a ranger, o vento, as árvores, as cordas esticadas, o
arranhar, os sussurros, sei lá. É tudo tão atmosférico como um abraço de um
cadáver enquanto dormimos numa falsa sensação de segurança.
Death Mark e jogos do género são perfeitos para jogar em
qualquer lado. Se antes havia na Vita, agora temos o jogo numa consola com
jogadores. Comecem o jogo, cubram-se com um cobertor e uma lanterna e deixem-se
levar pela insanidade nipónica, mas lembrem-se: quando a madrugada chegar é bem
possível estarem sem pulsação. Despachem-se.