Tetris Effect


Análise por Pedro M. Macedo

Na E3 deste ano, a PlayStation criou algum suspense à volta de um anúncio que estaria para breve, qualificando como uma “grande bomba”. Eis que é revelado Tetris Effect, da equipa de Tetsuya Mizuguchi, criadores de REZ Infinite, Child of Eden e Lumines. O público ri-se por, em pleno 2018, termos um novo jogo de Tetris, originalmente lançado em ‘85. Até que uma versão experimental ficou disponível na Store, as pessoas jogaram e a conversa mudou: Tetris Effect é uma obra de arte e o melhor Tetris de sempre.

Journey é o modo de jogo onde o jogador viaja, ao longo de 26 níveis temáticos, numa jornada cheia de belos efeitos especiais e uma banda sonora encantadora. As peças caem lentamente no ecrã, soando a cada movimento ou rotação que o jogador faça; há uma vibração no DualShock sempre que uma peça encaixa nas restantes; há um efeito que muda no ecrã sempre que uma ou mais linhas são eliminadas. É desta forma soberba que Effect convida o jogador a mergulhar nesta experiência com todos os seus sentidos.

Tal como acontece em Lumines, a música tem um grande impacto na jogabilidade, é ela quem define a fluidez do jogo. Se a música tiver uma melodia mais calma, as peças caem a uma velocidade reduzida; quanto mais rápido for o ritmo, maior a velocidade. Um excerto da música está sempre em loop até o jogador limpar um certo número de linhas e só depois é que passamos para o excerto seguinte. Por vezes, esta alteração não é muito favorável: num momento estamos a juntar blocos muito lentamente como, num excerto seguinte, já estamos em pânico com as peças a cair rapidamente pela mudança abrupta. Isto acontecerá muito recorrentemente por não conhecermos a música ou por não sabermos qual vai ser a linha que vai mudar o ritmo. É aqui que somos obrigados a usar a principal novidade do jogo: o Zone Mode. Aqui, as peças ficam suspensas no topo da grelha. O objetivo é limpar o máximo de linhas possível, possibilitando, pela primeira vez, eliminar mais do que quatro linhas de uma só vez. Estas linhas não contam para o progresso do nível, mas são essenciais para tirar o jogador de situações mais complicadas.


Para além do modo Journey, existe o Effect Mode, onde se encontram os outros modos de jogo, divididos em quatro categorias. Os clássicos Maratona, Ultra e Veloz estão de volta, sem nenhuma alteração do que já se conhece. Introduziram alguns modos de jogos com diferentes tipos de blocos ou regras. Por exemplo, o modo Countdown que larga blocos numa zona selecionada após algumas jogadas ou o modo Purify onde o jogador precisa eliminar os blocos infetados antes que se propaguem.

Ainda assim, enquanto alguns destes 12 modos são interessantes, a maioria são variantes dos clássicos. Com isto entenda-se que, apesar de haver um efeito diferente em cada modo, estes repetem a mesma fórmula da maratona ou ultra: eliminar 150 linhas com aumento de velocidade gradual ou eliminar as linhas no menor tempo possível.

Existe um modo chamado Relax Marathon – que é mentira, não tem nada de relaxante; em que a única diferença é a possibilidade de perder e recomeçar na seção onde estávamos. Mesmo que seja mais acessível concluir as 150 linhas, no fim, essa possibilidade não traz qualquer progresso ou benefício ao jogador. Para as pessoas que querem obter um bom resultado no final de cada um destes dois modos, não existe qualquer diferença: se o jogador perde, é penalizado na pontuação final. Portanto, essas mesmas pessoas terão que jogar duas vezes o mesmo modo de jogo, com nomes diferentes, seguindo exatamente as mesmas regras.

E isto leva-nos ao ponto seguinte: Effect não é um jogo para todos.


Tetris Effect foi pensado para os dispositivos VR e para os jogadores mais pontuais da série. O que aumenta o replay de Tetris é a vontade de conseguirmos fazer melhor, baseado numa pontuação. Todavia não há tutoriais sobre os conceitos básicos – como fazer um T-Spin ou como conseguir um Back-to-Back. Não é obrigatório o jogador saber executar estas técnicas, mas fornecem muitos pontos durante os níveis. Não basta sobreviver a um nível em que as peças caem rapidamente, é preciso conseguir limpá-las “com estilo” – como diria Buzz Lightyear.

Mesmo nos graus de dificuldade mais baixos do modo Journey (que diminuem a duração do jogo), o jogador tem que sobreviver até ao último nível daquela série para ter uma pontuação decente. Se tiver uma brilhante performance nos primeiros níveis e perder por duas linhas no último, o resultado final é atribuido unicamente ao último nível que recomeçou, sem contar com os pontos até aí. No final, o jogador casual (ou azarado) vai receber um “E”, a nota mais baixa, e, por conseguinte: ou recomeça a seção de 12 minutos do início para melhorar, ou passa para a seção seguinte, desapontado pelo tempo investido não valer nenhum ponto.

Se o jogador casual quiser manter-se no modo de dificuldade mais baixo ou intermédio do modo Journey, o jogo acaba aí. Os outros modos não têm seleção de dificuldade e é certo que estes jogadores nem chegam a concluir o objetivo pedido. Um dos modos que mais achei interessante foi o Mystery, onde é necessário concluir 150 linhas no meio de uma série de alterações aleatórias. Alguns exemplos: as peças mudam de sítio; as próximas peças têm formatos estranhos; a grelha gira na horizontal ou ao contrário; controlos ficam invertidos... Tudo isto é interessante e desafiante... até ao momento em que alguém teve a brilhante ideia de ir buscar o aumento da velocidade das peças para tornar as coisas ainda mais exageradamente caóticas. É um mimo para os jogadores mais pontuais, mas é uma barreira para os novatos, que podia ser melhorado com a adição de algumas opções.

Algo que está em falta no Effect Mode é a possibilidade de personalizamos o jogo; ou seja, se eu quiser jogar com uma música que gosto, mas não achar aquelas peças interessantes, não há forma de as alterar. É um pequeno pormenor que sempre esteve presente nos jogos de puzzle, inclusivé o Puyo Puyo Tetris, e não está presente neste título.


Tetris Effect já se encontra disponível na PSN e lojas nacionais por €39.99. O jogo inclui uma lista de troféus completa, incluindo a platina, requerendo o resultado SS em todos os modos de jogo e participação nos eventos de fim-de-semana para desbloquear avatares exclusivos.

Para as pessoas que têm o dispositivo PSVR, Tetris Effect é um título obrigatório para uma experiência única. O mesmo se aplica aos jogadores que seguem a franquia há muitos anos e a novatos que queiram investir algumas horas a aprender e melhorar as suas técnicas. Como tal, é impossível negar a fantástica qualidade deste projeto da Enhance Games, mas a punição acentuada da pontuação e alguns modos de jogo desnecessários afastam-no da perfeição.


Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Enhance Games.

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