Transistor


Se soubessem há quanto tempo andava para jogar este Transistor… Até mandei uns mails à Supergiant Games, que me deram um não simpático sobre um possível lançamento na Switch. E não é que os malandros lançaram os jogos uns meses mais tarde?

Resolvi metade dos meus problemas e agora tomem a vossa análise!

O Transistor leva-nos a um mundo de ficção científica barra cyberpunk barra noir barra RPG barra muitas coisas feitas de maneira a satisfazerem muitas cabeças e corações. E tanto pode ser um RPG por turnos ou em tempo real!


Sem puxar muito da história, começamos por controlar a Red, uma jovem cantora, sem voz, que puxa uma espada de um cadáver logo no início do jogo. Assim que a recuperamos somos atacados pelos Process. Sem saber muito o que fazer ou para onde ir, regressamos ao nosso palco, onde descobrimos que uma organização de pessoas influentes está por detrás dos ataques, a Camerata.

A espada é a Transistor que também serve de narrador no decorrer da aventura, muito ao estilo do anterior Bastion. A narração é dinâmica e reage às nossa acções; de início podemos estranhar a intrusão, mas acabamos por nos habituar à voz companheira e cúmplice. Aliás, esta cumplicidade é importante para a história e para os sentimentos que vão sentir.

A Transistor é uma arma interessante que vai ganhando habilidades à medida que absorve determinadas personalidades. Atenção que não disse ataques porque estes podem não o ser. Passo a explicar: quando tiverem um punhado de habilidades, podem equipá-los nos botões do comando e cada botão corresponderá a um ataque; acontece que estas habilidades também podem ser equipadas em ranhuras passivas e ganharem benefícios como mais defesa, ataque, velocidade ou um clone; ou podem ser utilizadas como atualizações a ataques, resultando numa combinação mais poderosa (atualizar um ataque com a habilidade de atracção faz com que puxem os inimigos para mais combos). Também podemos equipar Limiters que nos retiram benesses, mas que dão bastante experiência.

No entanto, não criem hábitos na hora de escolherem as melhores habilidades porque o jogo tem o hábito de puxar o tapete debaixo dos pés. O Transistor tem uma maneira peculiar de castigar os nossos erros: em vez de a personagem morrer e recomeçar de um checkpoint, perdemos habilidades e, só depois, é que morremos. Isto faz com que estejamos sempre a mudar de estratégias e possamos experimentar todas as habilidades que o jogo oferece. Entendo a intenção, mas frustrou-me um bocado. Não se preocupem que basta visitar uns pontos de acesso para recuperar as habilidades.
O combate, como disse, pode ser em tempo real ou por turnos. Em tempo real, corram a fazer spam de ataques até limparem a arena, mas a opção por turnos, ou de pausa, evoca jogos como Dragon Age ou KOTOR onde interrompemos a acção para planearmos ataques e movimentos. É um método mais estratégico e seguro, mas que consome uma barra de turno. Durante esse cooldown ficamos indefesos – escolham bem.


O jogo é curto e não abusa da sua estadia, mas admito que se torna um bocadinho chato perto do final – fiquei com a ideia de que a criatividade se esgotou nos últimos 20 minutos, mas nada que vá estragar o pacote completo. A exploração é bem-vinda e há terminais e salas secretas para aceder e descansar um pouco da acção.

Aproveitem o sumo de Transistor que vai desde a narrativa ao mundo envolvente – com visuais isométricos a partilharem os holofotes com belos quadros 2D que mereciam estar num museu. A melhor comparação que vi por aí é: se Tetsuya Nomura e Gustav Klmit combinassem as suas artes, Transistor seria o resultado, assim com toques de cyberpunk. Mas, desta vez, o grande vencedor é a banda sonora.

Um jogo que dança à volta de uma cantora, vozes incorpóreas e música só podia ter uma excelente banda sonora – aliás, exigia-o! E Darren Korb, o compositor dos outros jogos da Supergiant, cumpriu. Só me falta fazer uma vénia.

Desde a música ambiente aos temas cantados por Ashley Barrett nem sei para onde me virar (estou neste momento a ouvi-los); o estilo neo-antigo-cyberpunk jazzy-pop-sei lá mais o quê é hipnotizante e quando derem por vocês estão de olhos fechados a imaginarem-se naquele mundo.


Transistor goza de um hype imenso. Já o tinha em várias plataformas, mas só agora consegui jogar, apreciar e concordar. Transistor é uma viagem fantástica, emotiva e mágica. Tem defeitos do tamanho de um danoninho que não nos deixam esquecer que é um jogo, mas fora disso: é arte. E a Ashley é a Red e a voz na espada é a nossa.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Supergiant Games.

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