Fallout 76


Bem-vindos a West Virginia. Esta é a carta de entrada em Fallout 76, a primeira experiência totalmente online da série Fallout, que nos leva a explorar a região pós-apocalítica de Appalachia. A aventura começa 25 anos após a Great War, colocando-o cronologicamente como o primeiro jogo da série, que se apresenta como um RPG Online com componentes sociais mas que se torna mais depressa num jogo de sobrevivência.

A série Fallout retrata um mundo devastado, destruído após ataques constantes de bombas nucleares, principalmente entre os Estados Unidos, China e Rússia, que transformaram o mundo numa realidade bem diferente da que conhecemos. Os fãs da série adoram explorar todos os pontos de lore possíveis, o mundo onde os avanços tecnológicos nos levam ao futuro que nunca chegou a ser, um retro futurismo recheado de cultura pop e ícones bastante reconhecidos, como é o caso de Vault Boy. Não é de espantar que a reação ao primeiro jogo totalmente online não tenha sido a melhor, mas ainda assim suscitou a curiosidade de muitos por ser possível explorar o primeiro Vault a abrir após a grande guerra, e por sua vez o mundo em redor.


Infelizmente as nossas boas vindas a  Appalachia não são as melhores. Acordamos no Vault 76 e no que parece ser uma festa a celebrar o mundo novo, mas na minha experiência acordei num local vazio, completamente sozinho, quase como se acordasse de uma ressaca e todos os habitantes tivessem desaparecido. Esta sensação de solidão era a primeira de muitas, pois Appalachia é um local inóspito onde existem apenas outras criaturas, muitas delas que nos querem simplesmente matar, onde não existem NPCs, existem apenas alguns robôs assistentes mas são irrelevantes. Toda a história é contada através de holotapes e textos que nos aparecem em terminais, pequenos computadores que também servem para nos atribuir as diversas missões, transformando um dos pontos mais ricos da série Fallout, a história, num conjunto de breves sessões impessoais de leitura.

Há um isolamento demasiado forte, Appalachia pode ser um local bastante grande, cerca de 4 vezes maior que Fallout 4, mas também é um local extremamente vazio onde não há muito a descobrir, embora o jogo nos convide a explorar todos os cantos. Digo que tudo é vazio, morto, mas durante a nossa exploração temos outros jogadores com quem interagir, facilmente criar uma equipa e fazer quests conjuntas, que em grupo são bastante mais acessíveis e não estamos tanto em perigo. Mas mesmo jogar em equipa pouco muda face ao isolamento devido à pouca interação com o mundo. É muito irónico que comparando com as aventuras anteriores para um jogador, nelas não me sentia tão só. Também sempre que me cruzava com um novo jogador via o jogo "congelar", uma quebra de fluidez impressionante sem motivo aparente, um de vários outros problemas técnicos que o jogo tem, mesmo após patches, onde vi monstros estáticos a deslizar pelo cenário, ou frame-drops constantes em momentos cruciais como durante o combate, tornando um simples ato como apontar e disparar num pesadelo.


Nem toda a experiência é negativa, Appalachia é um local bastante belo e detalhado mesmo estando praticamente tudo destruído, é muito fácil ir de sítio em sítio para chegar a novos locais ou mesmo teletransportar entre sítios, e há uma constante sensação de perigo quando chegamos a um sítio desconhecido, principalmente por lidar com monstros novos e cada vez mais aterradores. O que nos leva a chegar aos novos locais são quests de ir do local A ao B com pouco entusiasmo à mistura, já as side-quests são bastante mais interessantes, desvendam mistérios dos diferentes locais, os seus (antigos) habitantes, a história que se estava a desenvolver naquele mundo destruído entre os sobreviventes que não tiveram a sorte de serem colocados no Vault.

A jogabilidade tenta manter-se fiel ao que Fallout nos tem vindo a apresentar, de regresso estão as estatísticas SPECIAL que nos permitem desenvolver a nossa personagem ao nosso gosto, esta que também é fisicamente costumisável logo no início da aventura. O sistema de VATS perdeu a sua capacidade de desacelerar/parar o tempo atendendo que existem outros jogadores a explorar o mundo, surgindo agora como uma espécie de atalho para atingir pontos específicos dos inimigos. Navegar entre os menus pode ser uma autêntica dor de cabeça mesmo existindo um menu de atalhos para facilmente usar itens vitais: mas tentar usar um item de recuperar vida acedendo os menus e sub menus do jogo, quase de certeza que resulta em morte certa.


Existem outros sistemas que nos acompanham como o de construir o nosso CAMP em qualquer lado, uma pequena banca de ferramentas que nos permite criar rapidamente novas armas e equipamento, se tivermos os recursos para tal. Obter recursos baseia-se simplesmente em fazer hoarding de itens espalhados no cenário e os destruir de modo a obter a matéria prima que os compõem. No entanto, mesmo horas após começar o jogo nunca senti a necessidade de criar o CAMP, pois existem imensos sítios na região para o mesmo fim, tendo sim problemas em adquirir os recursos para criar água potável, itens de curar ou eliminar contaminação como Stimpaks ou RadAways, ou até mesmo criar munições para as armas: em grande parte andava equipado com um machado de bombeiros já por causa das coisas. Desapareceu também a necessidade de andar a apanhar tudo o que era objeto no cenário, o que veio ajudar na minha obsessão compulsiva de o fazer e andar sempre com peso a mais, tornando o looting em algo mais acessível.

Para mim, o problema fundamental de Fallout 76 é de não me conseguir puxar para regressar a Appalachia, continuar a aventura e desvendar todos os seus segredos (que não parecem ser assim tantos, até). As fortes componentes entre personagens, de múltiplas escolhas que o tornavam num bom RPG, desaparecem, limitando-nos a um jogo de ação onde temos como principais objetivos sobreviver e matar tudo o que se mexe, subit de nível e apanhar ou construír novos equipamentos. Há ainda outros problemas fundamentais que parecem contradizer elementos típicos da série, como lançar bombas nucleares ou até mesmo o modo PvP, coisas que se enquadram em jogos online mas que me deixam a questionar o seu uso no universo Fallout. No geral, mais depressa parece um modo extra ou um mod de Fallout 4, do que uma nova entrada na série.


Fallout 76 talvez não seja um erro em si, há algo a extrair dele mesmo que seja um fraco jogo. O seu anúncio que começou com um stream repentino de um Vault Boy e o tradicional "Please Stand By" deixou todos a falar com ansiedade sobre o que poderia aparecer dali. O primeiro trailer deixou muita gente empolgada, mas as semanas que se seguiram com mais informações do jogo, uma fase de BETA recheada de problemas deixaram muito a desejar. Agora aproximam-se tempos muito complicados em manter os fãs, ou quaisquer jogadores, agarrados a Fallout 76.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para PC via Bethesda.net, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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