Sea of Roses

Uma aventura incomum sobre príncipios e valores demasiado comuns, que nos demonstra o poder da liberdade e de manter um espírito aberto.


Uma peça de piano melancólica acompanha o nosso acordar num sótão semelhante a tantos noutros. Sem memória, começamos a vaguear naquilo que pensamos ser a nossa casa. A música altera-se com a nossa descida e com o encontro com uma personagem, a dona da casa que afinal não é nossa. Começamos aí as nossas escolhas e exploração deste lado de algo que sabemos não ser o original. Quanto a qual o certo são as nossas escolhas que o moldam.

Após um breve tutorial que cobre o movimento e interação começamos a explorar à procura de respostas, com o apoio da proprietária que afavelmente nos tenta ajudar o melhor que consegue. Há algo mágico neste mundo e no nosso original, sendo a magia algo quotidiano e usado com leveza. Ainda que um elemento importante, a narrativa é sempre o foco. De tempos a tempos, a nossa personagem relembra-se do passado, e dependendo das nossas escolhas a perspectiva dela muda e com ela o enredo.



As personagens são todas sui generis, não só em aspecto como em modo de fala e visão do mundo. Todas têm o seu canto e o seu porquê de ser e todas nos oferecem pontos de vista importantes e diferentes. É a colecção desses pontos de vista juntamente com colecionáveis e interações escondidas do qual se faz este jogo. O jogo tem dois modos, um mais directo sem exploração e apenas directo à história e um expandido. No versão mais expandida, temos não só mais actividades extra, como mais exploração e mais personagens a encontrar. 

A história e todo o jogo apresentam-se leves com um estilo artístico desenhado à mão, acompanhado na íntegra por uma banda sonora em piano que varia de acordo com o diálogo que ocorre. Quando voltamos às memórias a palete muda, mais baça e escura representando algo não tão bem definido e mais incerto. Os elementos artísticos acrescentam à narrativa, juntamento com o pequeno livro de notas onde apontamos tudo que acontece. O livro é cheio de detalhes, com pequenos desenhos e ditos sobre os personagens que acrescentam um realismo à existência daqueles personagens e daquele mundo.



Falei muito de história sem dizer muito e por uma boa razão. Este é um jogo que demonstra, do início ao fim, uma paixão e mais do que isso um fervoroso desejo de falar e contar esta história. É uma história demasiado real e, regra geral, acompanhada de dores e libertações também muito reais, facilmente reconhecível nas primeiras linhas pelos que passaram por ela. Mas este confronto, este degladiar e desconstruir de emoções, tradições e culturas precisa de ser feito e este meio (dos videojogos) permite uma interação e uma maior aproximação a quem está deste lado do ecrã. Da minha parte, obrigado por contarem esta história.

Um verdadeiro mar de rosas de jogo, com espinhos muito reais, com uma história importante para todos.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PC via Steam, gentilmente cedido pela Crescent Tea Studios.

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