Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin


Monster Hunter é um gigante dos videojogos, uma série de sucesso inquestionável no Japão que, gradualmente, foi ganhando fãs no ocidente. Pouco tempo antes de World se tornar um fenómeno, surgia um spin-off que ficou esquecido, uma experiência diferente que juntava muito do que conhecemos da série ao estilo RPG mais tradicional. Falo de Monster Hunter Stories na 3DS, que foi lançado para dispositivos móveis pouco tempo depois.

Passaram-se alguns anos desde então e já me tinha mentalizado que Stories tinha sido uma experiência que morreu por aí. Uma aventura onde os monstros icónicos da série lutavam ao nosso lado, que podíamos andar às suas costas pelo mundo muito antes de Rise apresentar o Wyvern Riding. Assim do nada surge o anúncio de Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin, uma surpresa que foi muito bem-vinda, tornando-se logo num dos jogos que mais aguardei para este ano!


Antes de mais, uma breve nota: não é preciso jogar o primeiro jogo! Embora o recomende vivamente, muito por surgirem personagens e abordarem certos temas do original, esta é uma aventura nova, desligada dos eventos do primeiro jogo. É certo que quem jogou o original tem uma visão mais detalhada do mundo de Stories, mas Wings of Ruin faz um bom trabalho a introduzir as personagens que regressam, não as largando aleatoriamente no jogo sem contexto. Posto isto, partimos para a aventura!

Um misterioso fenómeno coloca o mundo em perigo e cabe ao nosso herói tornar-se num Rider e partir na demanda para salvar tudo e todos. Riders são caçadores capazes de domesticar monstros, chamados de Monsties, tendo-os como parceiros de combate. Continuando na linha de elementos típicos de RPGs, o nosso protagonista é o neto do lendário herói Red que outrora salvou o mundo. No meio do caos que parece assolar a remota aldeia de Mahana surge Navirou, um curioso Felyne que se voluntaria para ser o nosso guia de exploração e, ainda, Ena. Uma rapariga que guarda consigo um ovo de Ratha, o Rathalos de Red e, sem mais demoras, o trio parte pelo mundo fora.


Pela frente encontrei uma grande aventura, com amplas zonas a percorrer cheias de ferozes monstros, todas elas com diversos pontos a explorar. Por lá temos inúmeros Monster Dens: pequenas grutas que além de tesouros têm monstros à espera e ainda ovos que depois de chocados nos dão Monsties, o elemento-chave dos Stories. Inconscientemente achava estranho, ou até mesmo errado entrar à socapa nos ninhos e roubar as (futuras) crias de assustadores monstros para se tornarem numa espécie de animal de estimação, dilema que rapidamente ignorei ao ver que podia ter criaturas como Barioth, Zinogre, Nargacuga ou até mesmo Lagiacrus na minha equipa.

Aqui podem pensar que entramos no domínio de jogos tipo Pokémon ou Digimon, mas a direção é outra. É certo que há uma lista de monstros a obter, mas o foco não é de todo colecionar, até porque temos um número bem limitado de Monsties que podemos ter guardados. Eles também não evoluem e contam apenas com algumas variantes com cores diferentes tal e qual como na série principal. Algo que nos permite livrar-nos dos Monsties “inúteis” é o Rite of Channeling, que nos permitem pegar numa das suas habilidades e transferir para outro, tornando possíveis combinações únicas que podemos explorar bastante. Além da sua utilidade em combate, ao construir a equipa é importante ter em consideração as suas habilidades que nos permitem explorar diversas zonas inacessíveis do mapa, como saltar, escalar paredes, destruir rochedos, entre outros.

 

A história dá umas voltas interessantes, com surpresas pelo meio e imensas sequências relevantes ao percurso que Red teve, pois parece que ele andou pelo mundo todo. O enredo é simples e bastante interessante, contando com surpresas e bons momentos de animação, mas aqui cometem-se os mesmos erros do jogo anterior. Muitas vezes o jogo parece que se arrasta demasiado, a cada nova zona que chegamos temos todo um conjunto de missões que nos fazem avançar para a frente e para atrás, tornando-se algumas vezes até mesmo penoso progredir no jogo. Mesmo Razewing Ratha, que marca presença como o Monstie principal de Wings or Ruin, só é acrescentado à nossa equipa várias horas após começar o jogo, por detrás de todo um conjunto de fetch-quests que pareciam intermináveis. Ao mesmo tempo há todo um conjunto de missões secundárias onde temos de apanhar X itens ou derrotar certos inimigos, o que poderiam ser também elas penosas, no entando vamos fazendo-as por “acidente” enquanto progredimos na aventura. Pelo meio encontramos ainda missões cooperativas, para jogar com outros jogadores, e todo um catálogo de conteúdo que será lançado após o lançamento.

No meio disto tudo há um ótimo voice-acting quer em inglês como japonês, desaparecendo a opção da língua típica de Monster Hunter como tínhamos no jogo original. Algo que até é bem-vindo, pois agora grande parte dos personagens estão muito mais expressivos, enriquecendo muito a história. Quanto à banda sonora não há nada particularmente memorável, mesmo a exploração dos mapas é toda ela acompanhada por sons de ambiente, algo que nos remota à série principal. Já dentro das línguas disponíveis, o jogo encontra-se também totalmente localizado em Português do Brasil, algo que é bastante útil para o nosso mercado.


Como referi, Stories foge da jogabilidade da série principal e apresenta-nos um RPG onde os combates são por turnos, resultando num sistema simples com alguma estratégia e muito da essência de Monster Hunter. A principal mecânica é o sistema de pedra-papel-tesoura, traduzindo-se em Power (Força), Technical (Técnico) e Speed (Velocidade) que nos dá vantagem quando há confrontos diretos entre monstros e/ou personagens. Quanto aos elementos familiares para os veteranos, os vários tipos de arma marcam presença e cada um deles tem um tipo de ataque diferente: Slash (Corte), Blunt (Contusão) ou Pierce (Perfuração), úteis para explorar as fraquezas dos monstros face a este tipo de ataques, principalmente nas diferentes partes do corpo.

O grind típico de Monster Hunter também regressa, de um modo algo simplificado, mas que, ainda assim, nos leva a derrotar várias vezes os mesmos monstros. Cada criatura derrotada nos dá materiais para construir armas e armaduras, sendo que depois as podemos melhorar. Há uma quantidade enorme de equipamento a explorar, o que me levou a fazer algum grind para ter equipamentos específicos de modo a derrotar monstros específicos que tinha evitado, devido à sua dificuldade acrescida. Quanto melhor a nossa prestação em combate, seja a fazer ataques especiais, ataques em conjuntos ou até mesmo destruir partes dos monstros, melhor será o nosso Rank, permitindo-nos ganhar ainda mais itens. Em contrapartida se perdemos, ao perder as 3 “vidas” disponíveis por cada duo de Rider e Monstie, o combate voltamos à aldeia mais próxima, sendo que não há propriamente uma consequência notória.

E que combates incríveis! Nem muito pela sua dificuldade ou complexidade, mas visualmente todos os ataques são muito animados, por vezes até mesmo exagerados! Desde aos ataques especiais às técnicas em conjunto com os nossos Monsties, com ataques e animações únicas, tudo grita estilo e, se acharem estas sequências longas, podem sempre acelerar a velocidade dos combates. Aqui muito se deve ao estilo artístico do jogo, uma evolução face ao primeiro jogo não só devido a um salto enorme a nível gráfico, como as proporções mais próximas à da série principal. Dos personagens aos cenários, o cell-shade brilha apresentando um jogo que muitas vezes se aproxima ao de uma série de animação, descartando ainda o estilo “realista” que o jogo anterior tinha em certos momentos. Infelizmente tudo isto tem um custo notório na versão Switch (onde foi feita esta análise), pois são imensas as vezes em que a fluidez do jogo cai bastante, principalmente em cenários com mais elementos.

 

Concluindo, Monster Hunters Stories 2: Wings of Ruin é tudo o que o anterior foi, mas ainda melhor! É uma grande aventura, mais que recomendada para os fãs de RPGs e da série principal, tornando-se num jogo não só bem-vindo por fazer crescer um spin-off que merecia uma nova oportunidade de brilhar, como vem alimentar o ótimo catálogo de jogos do género dentro da Switch, que cada vez mais se torna na minha plataforma preferida para RPGs.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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