O jogo que não importa ganhar

 

Artigo escrito por Pedro Kerouac


Jogo. Essa palavra tantas vezes maldita e tantas vezes injustamente associada a vício, dinheiro, competição desmedida e até batota.

Cada pessoa vê o jogo à sua maneira, parece-me óbvio. Dito de outra forma, cada indivíduo prefere os jogos com os quais se identifica mais ou que estão mais de acordo com os seus objetivos. E toda a gente gosta de ganhar. Toda. Pode até não se importar de perder, acontece. Porém, quando o doce gosto do triunfo surge, é como se algo dentro de nós fosse validado, e isso deixa-nos naturalmente contentes.

No outro lado do espectro, temos os jogos cooperativos, aqueles em que a nossa perícia enquanto grupo, enquanto equipa que luta por um mesmo objetivo, é testada. Muda a génese do jogo: já não há uma competição com outros jogadores, mas sim com o próprio jogo em si. Existindo competição, contudo, o doce sabor da vitória (ou derrota) final está lá de igual forma.

Há toda uma categoria de jogos de tabuleiro, neste infinito universo, de que quase ninguém fala, nunca, e que é das categorias que mais uso acaba por ter: a dos jogos que não se ganham, ou melhor ainda, a dos jogos que não importam ganhar.

Como disse? Jogos que não importam ganhar?

Todos os jogos de tabuleiro têm o seu intuito, obviamente, mas alguns, na sua maioria party games, raramente são jogados para ganhar.

- Sim, já sei – diz o leitor desconfiado. Já ouvi essa história. Não é bem assim.

Mas quantas vezes nos lembramos de quem ganhou o Uno jogado na praia, o Passa o Desenho jogado em família ou o Jungle Speed com os amigos? E quantas vezes relembramos as histórias daquele final épico do Camel Up, das gargalhadas causadas pelas coincidências do Ekipas ou pelas recambolescas voltas que foram dadas às palavras do Trapwords? Pois…

O jogo de hoje vai muito para além do ganhar ou perder, das estratégias ou planeamentos. O jogo de hoje vai encontrar os sorrisos e a tensão, a surpresa e a ilusão partilhada por um grupo de pessoas à volta de uma mesma mesa.

No jogo de hoje não importa ganhar, importa abraçar, com momentos que ficarão para toda a vida. Por que, por vezes, jogar é tudo o que importa.



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