Say No! More

Se há um gosto que tenho bastante particular por jogos, são aqueles tão, mas tão bizarros ou estranhos que facilmente podemos olhar de lado sem que percebamos o que está a acontecer. Foi assim com Katamari Damacy, Muscle March ou o mais recente Untitled Goose Game, jogos com uma premissa extremamente simples, com uma jogabilidade acessível e de tal viciante que não largo até os terminar.

Nesse estilo surge agora Say No! More, título que basta ver o trailer para ser logo bombardeado por todo um conjunto de coisas aleatórias e estranhas. Um jogo que nos coloca no lugar de um recém-chegado estagiário que em poucos minutos após iniciar o seu trabalho é exposto a todo um conjunto de pedidos impróprios e clichés que assumimos ao cargo: tirar fotocópias, servir café, ir buscar o almoço… entre outros. Em poucos minutos a situação agravasse quando o nosso estagiário vê a sua lancheira (e respetivo conteúdo) a serem retirados pelo seu supervisor. Incapaz de dizer “não” entramos em desespero e, nessa situação, algo de incrível irá acontecer.

Caindo dos céus, ou quase, surge um leitor com uma cassete repleto de mensagens motivacionais, ditos por um personal trainer em forma de alucinação, que ensina algo precioso: a capacidade de dizer “Não!”. Uma autêntica arma que apanha a maioria dos seus colegas desprevenidos e sem resposta, um lema não só do jogo como a principal mecânica que temos à disposição. A partir daí seguimos num conjunto de interações com vários personagens onde temos, simplesmente, de dizer não. Ou aguardamos para ver até onde vai esse diálogo, o que por vezes resulta em sequências diferentes do que se tivéssemos dito alguma coisa.

E, na prática, o jogo é exatamente isto. Pelo caminho vamos desbloqueando novos modos de dizer não: uma variante com desprezo, outra sarcástica e ainda uma meio na palhaçada, acompanhando por todo um conjunto de ações que reforçam o nosso não. Podemos bater palmas, rir na cara de quem nos barra o caminho, acenar com a cabeça… Ferramentas que nos ajudam a aumentar uma barra de energia que, ao premir o botão durante uns segundos resulta num NÃO devastador, destruindo partes do cenário, fazendo voar personagens e mobiliário, entre outras coisas.


Mas na prática, todos estes métodos de dizer não tal como todos os outros movimentos, ou até mesmo nada dizer, o resultado acaba por ser sempre o mesmo, fazendo-me questionar se estamos perante um jogo ou simplesmente um corredor contínuo com diálogos pelo meio. Mesmo quando o lema é ser o primeiro "NPG - No!- Playing Game", o que poderia ser por si uma indireta, não sinto que haja propriamente um jogo, assim por dizer, não há ou não vi nenhum “Game Over” e mesmo muitas vezes acabei por nada dizer e continuei jogo fora. É certo que há momentos em que não reagir era a coisa mais certa a fazer, algo que se parece refletir mais à frente na demanda do nosso estagiário e na conclusão da história, mas no geral gostava que dessem importância aos modos diferentes de dizer não, que uma reação errada nos fizesse perder vida, energia e até mesmo fazer recomeçar o nível.

Pois fora esta ausência de, bem, um jogo, tudo o resto está extremamente bom! Os visuais bastante vivos, a música que ouvimos enquanto jogamos, a diversidade dos personagens e até mesmo o modo de criação do nosso estagiário, tudo parece ter sido bem pensado. A própria localização do jogo, que se encontra em português (do Brasil) acompanhado por imensas línguas diferentes para dizer não: do japonês ao gaélico da Irlanda, passando por russo, alemão ou coreano, não só as vozes mudam como o “não” que surge e destrói tudo no ecrã. O nosso português também se encontra no jogo e muito bem representado pelo nosso Pedro Almeida!


Talvez o que mais me cativou, algo que não contava de todo, foi a história. A cada capítulo há uma nova surpresa e, pelo meio, plot-twists tão bizarros e alguns deles geniais que parecem misturar drama empresarial com o ritmo e choque digno de telenovelas, onde a palavra "não" é proibida. O jogo é curto, mas pelo meio há acontecimentos tão bizarros, surpresas geniais e até mesmo uma positividade incrível, algo que talvez não contasse com um jogo que tem “No!” no nome. A mensagem no geral é boa, mesmo estando rodeada de imensas coisas surreais. Por estes pontos é que tenho pena que o jogo não tenha sido explorado melhor, fique aquém de ser apenas um corredor dividido por capítulos onde dizemos “não” para progredir no nível, sem consequências diretas.

Acima de tudo é uma experiência peculiar, mesmo curto o jogo divertiu-me imenso, a história só por si valeu bem a pena e os próprios personagens, embora pareçam extremamente genéricos, têm bem mais profundidade do que parecem.

Nota: Análise efetuada com base em código do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Plan of Attack.

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