Wavelength

 

Artigo escrito por Marco Silva.

Venho-vos falar de mais um Kickstarter, e desta vez é um party game sobre telepatia! 😊

O Wavelength é um jogo de 2 a 12 jogadores (mas na realidade dá para qualquer número de jogadores, desde que se dividam em 2 equipas), em que cada equipa vai tentar entrar na mente uns dos outros.

Wavelength é um bebé dos criadores Alex Hague e Justin Vickers, que criaram o party game Monikers, e Wolfgang Warsch, responsável por criar jogos bastante famosos como o The MindThat’s Pretty Clever, e o emblemático The Quacks of Quedlingburg

O jogo tem arte de Nan Na Hvass e Sofie Hannibal, e foi lançado via uma campanha de Kickstarter que amealhou mais de 324 mil dólares e juntou mais de 8 600 backers.

À semelhança de outros jogos destes criadores, este é um party game com uma componente de adivinhar o que está na mente dos outros jogadores, que os criadores chamam de social guessing, por isso se gostas de jogos de festa ou tens um grupo de amigos que não conhecem muito bem outros jogos do género sem ser o Party and Co., então acho que vais gostar de ler esta review.

Em Wavelength, os jogadores dividem-se em 2 equipas, e cada equipa irá jogar à vez e escolher a posição de um ponteiro para tentar acertar numa posição marcada e secretamente escondida, usando apenas uma pista sobre a posição numa escala.



Imaginem uma escala “Quente - Frio”, “Perto - Longe” ou “Pessoa Boa – Pessoa Má”, cada uma destas escalas está definida por duas palavras/conceitos. Agora imaginem que vos dou como pista um outro conceito ou palavra. Por exemplo, na escala “Quente - Frio” escolho dar-vos a pista “Café”, e agora vocês, juntamente com o resto da vossa equipa, vão tentar adivinhar em que posição para mim está o café. No fundo, vão tentar ler a minha mente 😊 e começar a pensar que o café é algo quente, mais quente que a sopa, mas menos quente que o Sol… e tentar adivinhar o que seria o meu raciocínio. Eu não vos posso dizer mais do que a pista que vos dei, não posso responder a mais perguntas nem dar mais pistas (até mesmo com linguagem não verbal). A minha equipa tem de colaborativamente tentar entender como a minha mente funciona, e tentar adivinhar onde está o marcador nesta escala.


É neste momento que entra basicamente o que nas regras chamam o Dispositivo, que é no fundo o ponto central deste jogo. O Dispositivo tem uma escala circular que pode ser ajustada rodando o disco exterior, e tem uma tampa frontal que esconde a posição do ponto marcado no disco interior. Assim, um dos jogadores da equipa que está em jogo pode secretamente e aleatoriamente posicionar o marcador numa posição, e ver qual a posição que saiu (relembro, aleatoriamente) e assim só ele sabe essa posição. Agora a pista que for dada é a única forma que a sua equipa irá ter para adivinhar a posição.


O jogo é incrivelmente simples e tem uma característica que eu gosto imenso: é provavelmente o jogo mais rápido de montar que alguma vez vi. É simplesmente abrir a caixa e começar a jogar, pois o insert do jogo é o próprio tabuleiro, com a ranhura para os marcadores de pontos e lugar para colocar o Dispositivo.


Dentro do que são os party games, este é mesmo muito original e tem uma longevidade enorme, basta ter cartas para escalas e conseguem jogar. O Dispositivo é muito simples de operar e aparenta ser algo resistente, apenas sinto sempre que o abrir e fechar da tampa frontal requer imensa força, e temos de ter algum cuidado com o disco interior, pois ao agarrá-lo para fazer algum movimento podemos incorrer no erro de rodá-lo e mudar a posição da marca acidentalmente. Acho que a construção é bastante boa e vê-se a qualidade do plástico, e o insert é mesmo muito bem pensado para facilitar o setup e arrumação.


Notas finais

Dinâmica

É um party game por isso, por definição, é muito rápido e dinâmico. Cada ronda em si é mesmo muito simples de executar. Contudo o jogo tem uma vulnerabilidade grande com o Analysis Paralysis (AP) pois uma pessoa de uma equipa terá que decidir sozinha o ponto da escala que tem para si de um determinado significado, e depois as equipas vão ter que analisar esse ponto e decidir uma votação. E ao manusear o dispositivo é preciso ter algum cuidado para não desconfigurar o que está marcado. Tudo isto pode atrasar a dinâmica em alguns grupos mas o normal será isto ser muito rápido e chegar rapidamente ao momento de revelação do que era o ponto na escala que a pessoa nos tentou transmitir com a pista.


Integração Temática / Inovação

Este é um jogo nada temático, pois tal como a maior parte dos party games é um jogo abstrato. Contudo a nível de inovação Wavelength é sem duvida muito inovador. Não só a nível da mecânica muito simples de escolher um ponto numa escala como sendo o centro do jogo todo e a forma diferente como cada um de nós pensa sobre a mesma escala. A inovação toda centra-se no dispositivo que o jogo traz e que é o foco de todas as ações. Foi a inovação e simplicidade da mecânica que me convenceu neste jogo e acho que é o ponto forte de Wavelenght.


Complexidade

É sem duvida o jogo mais simples de fazer setup que algum dia vi, é literalmente abrir o jogo e está montado. A explicação também é das mais curtas que já vi e em minutos, independentemente do grupo ser já veteranos dos jogos de tabuleiro ou completamente novos ao hobby. É sem dúvida um party game e como bom party game não pode ser complexo. Contudo toda a questão do dispositivo e manuseamento do mesmo de vez em quando irá gerar um ou outro momento de dúvida mas sem problema nenhum. Se estás com receio de ter um jogo complexo na tua prateleira, então não te preocupes que este é um jogo bastante acessível.


Entretenimento, Design e Arte

A nível artístico e sendo um jogo abstrato ligado à leitura de mentes uns dos outros... tudo desde a caixa às cartas e até mesmo ao dispositivo é recheado de cores psicadélicas. Eu pessoalmente gostei bastante do minimalismo artístico e das cores psicadélicas mas compreendo que não é um dos pontos de maior relevância no jogo. Acho que a capa não transmite nada do que é o jogo e que na prateleira de uma loja nem toda a gente possa pegar e entender o que é o jogo por causa da arte. Apesar disso acho que depois de entender o jogo a arte está bem enquadrada.


Considerações Finais

Se gostam de party games e se juntam com um grupo razoavelmente grande de amigos que também partilham desta paixão, então este jogo não vai ficar muitas vezes parado na vossa prateleira, é simples, rápido de jogar e muito divertido. Conseguem ver as influências dos criadores em party games e jogos que tocam o tema da mente. O design psicadélico é muito giro tanto na caixa como no manual. As discussões que me lembro de jogar este jogo acabam sempre com um “A sério que para ti café é assim tão quente, e a lava onde punhas na escala?” ou “a Austrália é o mais longe que consegues imaginar? E Marte, achas que fica perto, é?”. Todos pensamos de forma diferente e este jogo é muito bom para gerar conversa e muitas risotas 😊 Quem me conhece sabe que não sou a primeira pessoa a pegar num party game, mas este vai sem duvida muitas vezes à mesa, e quando retomarmos os eventos presenciais da DICE Cultural aposto que este jogo não irá ficar muito na prateleira da ludoteca, por isso e por sentir que é um party game muito diferente e inovador a minha nota final e pessoal é:



Latest in Sports