F1 2020


Análise por André Santos

No ano em que o desporto parou e alguns eventos desportivos tiveram atrasos e adiamentos constantes para o seu começo houve quem com isso lucrasse, principalmente no que toca ao nível de exposição mediática.

Vamos falar de um caso em particular, a F1. Com os pilotos em casa sem possibilidade de treinar ou de começar a época, tanto a Liberty (empresa responsável pela F1) como a Codemasters aproveitaram para criar provas virtuais de F1 2019 para manter os fãs agarrados ao desporto e dar maior exposição ao mundo virtual. Estas provas já existiam, mas até aqui não contavam com a participação de pilotos profissionais ou até estrelas de outros mundos, como Kun Aguero jogador do Manchester City.

Com toda esta exposição mediática a Codemasters começou, certamente, a focar-se no lançamento de F1 2020 e pensar em formas de aproveitar a mesma para fazer o jogo chegar a mais jogadores, agora interessados em F1, e mantê-los agarrados aos ecrãs durante mais tempo… fazendo com que F1 2020 deixasse de ser visto como um jogo de nicho e passa-se a ser algo para todos, onde todos se pudessem divertir.


Vamos começar pelo pior. Que, na verdade, não é mau. A nível gráfico as diferenças entre a edição de 2019 e de 2020 são mínimas como seria de esperar até porque não há muito mais que se possa fazer, neste campo, durante a atual geração de consolas. Sim os carros apresentam pormenores interessantes, como o facto de ficarem sujos durante a corrida ou mesmo o facto da física das partes danificadas do carro, depois de um encosto ao carro do lado, parecerem mais aproximada da realidade.

Os menus do jogo até estão mais limpos, mas é isto. Não existem outras alterações valham a pena referir… reparem que isto não é algo mau, é apenas algo que já era esperado em jogos que saem todos os anos. Existe uma altura em que a evolução a nível gráfico é impossível e a única coisa que os estúdios podem fazer para cativar jogadores é melhorar alguns dos aspetos de simulação e acrescentar conteúdo, e isso a Codemasters fez e fez muito bem.

Para além de continuar com o modo carreira, com os modos de corridas online e offline e com a possibilidade de criação de ligas privadas F1 2020 traz ainda dois modos que não existiam no passado: My Team e Split Screen. Se o segundo é uma boa forma de percebermos o porquê de, durante esta geração de consolas, ter sido bastante raro o aparecer de jogos com esta funcionalidade, o segundo faz com que F1 2020 se torne um jogo divertido de ser jogado, mesmo para quem não gosta da vertente competitiva do mesmo. Por partes:

O modo Split Screen quando testado numa PlayStation 4 padrão mostrou que a consola não consegue aguentar o processamento de “duas corridas” ao mesmo tempo. Toda a informação que a consola tenta processar é nos apresentada com quebra de frames constante e com a qualidade gráfica reduzida pelo que jogar neste modo só mesmo como último recurso para uma daquelas corridas sem grande pressão, onde a única coisa que queremos é mesmo a diversão de um batalha no sofá. Mas mesmo neste tipo de jogo, mais relaxado, não será algo agradável apenas pelo facto de ninguém gostar de pegar num simulador, seja com o ecrã dividido ou não, com quebras constantes de frame rate.


Já o modo My Team é o melhor que F1 2020 nos dá. Neste modo os jogadores são convidados a tomar rédeas da sua própria equipa de F1, a 11ª equipa no grid, e competir contra os grandes do desporto motorizado. Mas se pensam que para isso é só entrar no carro e carregar no acelerador, estão completamente enganados. A beleza deste modo é o facto de colocar o jogador no centro da ação porque para além de piloto será também dono da equipa.

Ao início terão que escolher o colega de equipa, que será promovido da F2, o fornecedor do motor e o principal patrocinador. Todas estas escolhas são feitas com base na informação disponibilizada pelo jogo e cada uma das opções terá características diferentes, desde patrocinadores que pagam mais mas também exigem melhores resultados até a fornecedores de motor que embora apresentem uma excelente power unit são demasiado caros para uma equipa que está agora a fazer a primeira época. Depois desta fase inicial que vai, em muito, moldar a primeira época da vossa equipa partem para a verdadeira ação. Antes de explorar, porque estávamos com fome de condução, arrancamos automaticamente para o primeiro Grande Prémio da época, o da Austrália, mas rapidamente percebemos que não era bem aquela a direção. Conduzir aquele carro e ver todas as outras 10 equipas a afastarem-se de nós à velocidade da luz foi difícil, penoso até, pelo que depois de um gracioso último lugar seguimos para a exploração deste novo modo de jogo.

No modo My Team terão que trabalhar para evoluir a equipa de dentro para fora, começar pela fábrica e cada um dos seus departamentos, seja o que trata da aerodinâmica ou o que trata do motor. É importante também apostar em marketing e evoluir as condições de treino da equipa para que o vosso colega cresça enquanto piloto e comece a apresentar bons resultados, mas cuidado… porque se os resultados forem muito bons podem acabar a perder o segundo piloto da equipa para um dos rivais.

O modo está tão completo que até nos tempos livres têm que arranjar atividades para a equipa. Estas atividades podem ir desde campanhas de marketing até à venda de produtos alusivos às cores que estão a defender. Todas estas ações, principalmente as de venda de produtos serão importantes principalmente quando todos os “trocos” fazem falta no orçamento anual, orçamento esse que é importante para a evolução da equipa.


Importa ainda referir que F1 2020, embora apresente uma física melhorada no que toca ao comportamento do carro, está mais fácil de conduzir sem qualquer tipo de ajuda (seja controlo de tração ou o chamado “ABS”) quando se tem auxílio de um volante. Já para quem conduz de comando a adaptação será um pouco mais complicada, pois o carro apresenta um comportamento mais agressivo nas saídas de curvas. Isto pode ser corrigido através de correções mecânicas ao carro, mas mesmo assim será um pouco complicado, principalmente para jogadores que estão habituados à condução do F1 2019.

Para terminar deixamos uma nota: A Codemasters não resistiu e F1 2020 chega ao mercado com as mal-amadas microtransações. Para além de itens cosméticos disponíveis para compra, os jogadores podem ainda optar pela aquisição de um “season pass” que através do acumular de pontos de experiência desbloqueia conteúdo cosmético adicional. Mesmo com a queda na tentação, a produtora apresenta um jogo sólido com muito conteúdo novo e capaz de atrair, e manter, novos jogadores numa série que até à pouco tempo poderia ser considerada de nicho.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay

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