Paper Mario: The Origami King


A série Paper Mario tem dado bastante que falar e não pelos melhores motivos, pois desde Super Paper Mario, esse que também foi algo polémico na altura, a série seguiu um caminho diferente abandonando elementos tradicionais para se tornar mais acessível, o que não caiu bem entre os fãs da série e de RPGs no geral. Origami King chegou de surpresa, anunciado a poucos meses do seu lançamento e deixou-nos a pensar se iria ser este o regresso às origens.


Desta vez o tema central são os Origami, mais precisamente o King Olly que anda a transformar todos os habitantes do reino, sejam eles bons ou vilões, em figuras tridimensionais da arte tradicional japonesa de dobrar o papel nas mais diversas figuras, onde Peach foi vítima desse plano e recebe Mario de um modo bizarro. Rapidamente Mario (e também Luigi) conhece Olivia e ambos vêm-se no meio de uma nova aventura cuja missão é eliminar as serpentinas que envolvem o castelo de Peach. A premissa é simples e até mesmo espectável, mas o desenrolar da história vem acompanhado de várias surpresas.

Paper Mario tem andado muito pelo caminho da amargura, desde o Sticker Star que foi para muitos uma enorme desilusão, passando por Color Splash que aprendeu alguns com alguns dos erros, mas manteve outros, Origami King deixou muitos cautelosos sobre com o rumo que o jogo ia tomar, não só pela jogabilidade como a história que têm para apresentar. Comecei o jogo com receios bem presentes como de não gostar do sistema de combate ou da completa ausência de elementos RPGs tradicionais como estatísticas e equipamento, mas ainda assim curioso com a mecânica de andar a rodar o cenário e tirar melhor partido das formações dos inimigos.

A aventura conta com regiões distintas pela frente, levando Mario a pontos nunca antes vistos do Mushroom Kingdom e deixando-me a questionar afinal como é a sua geografia. Cada um dos cenários parece ter sido construído com detalhe, com surpresas em todos eles desde tesouros e blocos de itens escondidos, partes do cenário que temos de cobrir com confetti e imensos Toads para resgatar. A história vai-se desenrolando aos poucos com várias sequências de história a acontecer enquanto exploramos. Na prática acabamos por andar a martelar o cenário todo à espera que aconteça alguma coisa e, quando não surge um Toad ou inimigo, temos confetti para apanhar ou até mesmo dinheiro.


Olhando para Origami King como um RPG posso dizer que desse género tem pouco. Nas primeiras horas de jogo não há desafio já que tinha praticamente sempre a iniciativa, derrotando todos os inimigos antes deles poderem contra-atacar. No entanto quando um grupo de inimigos ataca eles são capazes de dar bastante dano, mesmo se defendemos no momento certo. Mas não existe um motivo válido para entrar em combate com os inimigos pois não temos níveis para subir para enfrentar inimigos mais fortes, tornando o sistema de combate no ponto mais fraco do jogo. Mas nem tudo é desinteressante, o quebra-cabeças de andar a rodar o campo de batalha e organizar inimigos é interessante, principalmente em combates contra bosses que têm mecânicas extra que nos fazem pensar, e até mesmo pedir por mais tempo, resultando num sistema com um potencial grande, que ficou longe de ser explorado.

Outro problema é o equipamento ser à base de armas mais forte que vamos comprando e gastando, embora não exista propriamente uma falta de itens, é apenas desinteressante. É pena pois certos combates deixaram-me a pensar bastante antes de tomar algumas decisões e podiam muito bem juntar isso ao sistema de combate, estatística e equipamento que os primeiros 2 jogos da série deram a conhecer. Existem ainda acessórios que nos dão um boost significativo à nossa defesa, vida e tempo para organizar o terreno, mas os mais úteis são os que nos ajudam a encontrar as coisas escondidas que estão no cenário.


O que me levou a avançar no jogo foram dois pontos fundamentais: a história e a exploração do jogo, algo que já não acontecia desde Super Paper Mario. Olhando para a história, ela não é extraordinária nem conta com plot-twists chocantes, mas ainda assim consegue entregar surpresas que me deixaram a pensar "eles não fizeram mesmo isto", acompanhada por um interessante leque de personagens que acompanham Mario e Olivia na sua aventura. Em muito o enredo me fez lembrar de The Thousand Year-Door ou Super Paper Mario com uma vertente mais séria ou "dark" em vários apontamentos da história, algo que não via desde então. De volta temos os companheiros de Mario cujo papel acaba por ser mais relevante na história e exploração do que propriamente no combate, até porque os seus movimentos são feitos automaticamente e algumas vezes sem sucesso, algo que só agrava mais o sistema de combate. Mas de resto têm um papel importante na aventura e, acima de tudo, a sua participação na história é positiva, mesmo que não estejam sempre connosco.

Relativamente à exploração, é capaz de ser o ponto que mais gostei do jogo não só devido à diversidade de cenários e experiências diferentes em cada um deles, como os puzzles a resolver em cada área. Não que sejam propriamente difíceis e o jogo até dá um empurrão extra a quem estiver encravado, mas desde as cidades aos templos soube bem encontrar pequenos enigmas, algo que já não encontro com frequência em RPGs tradicionais. Foi algo que me motivou bastante a avançar no jogo, ter áreas distintas com elementos diferentes entre elas sem muita repetição e sempre sem perder muito tempo nos mesmos sítios pois o jogo avança a bom ritmo. Cada área tem também uma espécie de achievement que nos avisa quando encontramos todos os Toads, tesouros, blocos ou tapamos os buracos com confetti. É um extra que nos incentiva a concluir todos estes pontos mesmo quando as recompensas são praticamente inúteis, embora salvar todos os Toads vá aumentando a plateia quando combatemos.

Nota-se bem que houve muita atenção em vários pontos, desde a banda sonora com várias músicas de combate diferentes, os cenários todos eles feitos em papel, mas sem parecerem repetitivos e os visuais recheados de detalhe! A história é divertida, cheia de surpresas e momentos que se tornaram dos meus favoritos da série, desde momentos bizarros com o tipo de humor que a série nos habituou, a outros que me apanharam desprevenido. O próprio mundo é rico, mantendo a exploração tradicional entre cenários mas ao mesmo tempo incluíndo uma ou outra zona mais aberta que exploramos de modo diferente. Tudo fez com que quisesse explorar todos os pontos dele, avançando só quando tivesse completado a 100% cada cenário, sem que ficasse aborrecido a meio.


Concluindo, Paper Mario: Origami King é um bom jogo, volta às raízes da série através da sua narrativa e evolui muito bem no modo como exploramos o Mushroom Kingdom, tentando entregar sempre algo diferente em cada área que visitamos. Infelizmente o sistema de combate podia ter apostado numa fórmula mais tradicional levando o jogo às origens da série, a pedido dos fãs.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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