Herdling
Herdling é uma mágica aventura em que um grupo de animais embarca numa viagem em busca de algo, enfrentando todo o tipo de adversidades no caminho. Desde Stray que não era tomado tão rapidamente pelo charme e atmosfera de um jogo cujo propósito é tão simples quanto levar animais do ponto A ao ponto B. Sim, em Stray controlamos o gato, enquanto que em Herdling controlamos uma pequena criança que conduz um grupo de adoráveis criaturas chamadas Calicorns. E enquanto que Stray nos coloca nas estreitas ruas e becos de uma cidade futurística populada por robôs antropomórficos, as paisagens montanhosas de Herdling têm o seu próprio tipo de beleza, mas a sensação de jogar Herdling foi, para mim, frequentemente semelhante à de jogar Stray.
Os primeiros minutos de Herdling apresentam-nos um pequeno rapaz a dormir nas ruas de uma cidade em decadência, acordado pelo barulho daquilo que descobrimos ser uma criatura que se assemelha a um bisonte, mas que aprendemos ser, na verdade, um Calicorn. É então que começa a nossa aventura rumo às montanhas onde esta criatura pertence. Não demoramos muito a encontrar mais Calicorns e num piscar de olhos estamos a comandar toda uma manada, primeiro na cidade, depois em estradas, planícies e florestas, sempre em busca do caminho que nos leve ao habitat natural daquelas que parecem ser as únicas formas de vida consciente para além desta criança.
Não há qualquer explicação para o mundo que encontramos em Herdling, mas o que é claro é que este já viu melhores dias. Algum tipo de apocalipse atingiu este mundo, a cidade abandonada, as estradas ocupadas por vegetação, o simples facto de uma criança que não pode ter mais de 10 anos estar completamente sozinha e a dormir na rua... Mas nada disto é expressamente comunicado pelo jogo. Essa não é história de Herdling, apenas o seu cenário. A história é claramente a relação entre a criança e a sua manada e a aventura em que embarcam.
É claro que a equipa por detrás de Herdling criou este jogo para ser o mais acessível possível para todo o tipo de jogadores, independentemente de idade, experiência ou capacidade. Como estamos a guiar a manada a partir de trás, movemo-nos para a esquerda se quisermos guiar os Calicorns para a direita e vice-versa. Isto é feito com o simples premir de um botão (R2 na PS5), o que torna óbvio que a prioridade dos criadores foi a simplicidade e não o realismo, felizmente. E com apenas mais um ou dois botões controlamos todo o movimento da manada.
E apesar de o movimento base destes animais não ser o mais rápido, basta passar pelas diferentes flores coloridas que encontramos pelo caminho para acumular energia que podemos depois utilizar para passar de um ligeiro trote a um galopar veloz, útil para atravessar território instável ou escapar a perigos. Mesmo os puzzles que encontramos ao longo da viagem são tão simples quanto guiar a manada à volta de um obstáculo, encontrar as flores certas para iluminar uma pintura e abrir uma passagem ou usar os Calicorns para alcançar plataformas elevadas.
Curiosamente, para um conjunto de criaturas maioritariamente indistinguíveis entre si, para lá de diferenças em tamanho, forma dos chifres e cor do pelo, Herdling consegue fazer com que cada Calicon pareça especial. Quando encontramos e domesticamos um novo Calicorn, podemos dar-lhe um nome ou deixar que o jogo atribua-lhe um nome aleatório. Este foi talvez o meu aspeto favorito do jogo, como alguém que sofre de uma condição rara que faz desaparecer toda a criatividade do meu cérebro assim que qualquer jogo pede-me para dar o nome a qualquer personagem, parque de diversões, nave, cidade, etc.
Em vez de causar-me um esgotamento mental, Herdling presenteou-me com a divertida atividade de carregar num botão as vezes que fossem necessárias até estar satisfeito com o nome do meu novo companheiro. E por muito trivial que isto possa parecer, esta conexão é essencial para sentir o impacto da história, principalmente quando vemos um membro da manada ferido e entramos em modo pai desesperado (ou pastor) em busca das frutas necessárias para ajudar um Calicorn a recuperar.
Herdling conta com pouco, se algum som. Para além de uma banda sonora atmosférica que abrange tanto os momentos de tensão, como os de entusiasmo e vitória, e alguns sons da natureza. O facto de não haver nenhum diálogo, texto ou uma história no sentido tradicional da palavra significa que Herdling é exatamente aquilo que cada um fizer dele. Isso resulta particularmente bem quando o jogador é uma criança e conta com a característica imaginação fértil. Brilhantemente, Herdling não tem respostas para nenhuma pergunta, mas incentiva constantemente todo o tipo de questões, na esperança que cada jogador crie a sua história de acordo com a sua experiência.
Herdling é um jogo simples, mas charmoso e intuitivo, acessível a todo o tipo de jogadores. Por vezes pode ser um pouco difícil guiar a nossa manada exatamente da forma que queremos e os nossos companheiros podem ficar presos numa parede ou obstáculo, mas nada disso é um problema demasiado impeditivo. Com criaturas adoráveis e paisagens vistosas, este é um jogo ideal para uma nova geração de jogadores criar memórias e ficar a conhecer o mundo dos videojogos.








