Jogos de Tabuleiro ー Sugestões de Natal

Artigo escrito por Francisco Maia.

Parece que é aquela altura do ano outra vez! Altura de empanturrar o bucho com peru e sonhos, e quem sabe encher uma meia ou duas de jogos de tabuleiro....para os outros, claro. Nunca ousaria comprar uma hoste de presentes para mim próprio no Natal, justificando que mereço porque fui bom rapaz o ano inteiro. Nunca.

Como tal, e no espírito natalício da partilha, venho sugerir vários jogos para vários tipos de grupo, para que possamos todos oferecer/receber estes motivos de felicidade cartonada e celebrar o Natal em torno daqueles que gostamos.

Jogos para jogar em família


Que melhor altura temos que o Natal para convencer familiares a jogar connosco? E se os familiares já jogam, então que melhor altura para o pôr em prática? Ficam aqui as sugestões de jogos para a família, com um nível de aprendizagem ligeiro e galhofa garantida.


Que grande pequeno jogo! No fundo é só um baralho de cartas e um rinoceronte acrobata, mas não precisa de ser mais. O objectivo do jogo é usar as cartas todas que temos nas mãos para construir uma torre gigante que o rinoceronte vai escalar. Quem desabar a torre perde. Quem ficar sem cartas ganha! Destreza e audacidade para miúdos e graúdos.


Fui introduzido a este jogo quando o nosso Alfa Pendular ficou parado na linha, à ida para a VianaCon. Mesmo com uma boa mochilona de jogos ainda jogámos isto umas boas três horas. Para quem gosta de jogos cooperativos, missões espaciais, dificuldade progressiva, silêncio profundo, comunicação telepática, risadas proibidas, vazas catastróficas, afinal-nãos, não-devias e tinhas-ques. Muito bom.

Nine TilesPanic

Este jogo é um stress gigante, mas do bom. Primeira coisa que se nota: ampulheta. Em contrarrelógio, temos de formar uma cidade de apenas nove tiles, de maneira a organizar as ruas e os habitantes, de acordo com as regras que saíram no princípio da ronda. Para quem gosta de emoções intensas e diversão da mais pura que se vende nas lojas. 

Jogos para iniciar o hobby

Ah, isto é outra categoria. Isto é para a malta bon vivant que quer algo mais que diversão (sem a recusar, claro). Jogos que já puxam um pouco pela cabeça, mas que ainda assim são fáceis de usar para aliciar pessoas inocentes a entrar neste mundo dos jogos lúdicos.


O jogo desenhado pelo grande designer Pedro Silva tem uma campainha para tocar cada vez que chocamos contra outro elétrico. Pronto, acho que é tudo o que preciso de dizer. Não? Mais? Então, este jogo é algo entre o descontraído e o altamente competitivo. Por um lado, ando a fazer as minhas visitas aos monumentos, deixar e pegar em passageiros, na maior. A relaxar. Depois olho para o lado e reparo que a Beatriz está a relaxar muito mais eficientemente que eu. Relaxamento de calibre profissional, e eu a ficar para trás. Toca a campainha e tira o pé do acelerador! Hora de ir à oficina buscar bónus para recuperar relaxamento perdido! Sempre um sucesso quando vai à mesa.


Este jogo tem um aspecto adorável, com os seu personagens meio Ghibli e os monstrinhos engraçados. Mas não se deixem enganar: é mau como as cobras. É preciso estarmos constantemente atentos aos bloqueios dos adversários, ziguezagueando as florestas para que tenhamos lá mais dados que os outros. Para jogar com quem gosta de desafios e de pôr o miolo a trabalhar. Não jogar com quem amua. Estão avisados.


Este clássico foi o que me introduziu aos jogos modernos e não pode faltar em qualquer lista de Natal. Dedução social no seu melhor: 3 a 6 bonzinhos a tentar descobrir os maus-da-fita antes que seja tarde demais, versus 2 a 4 maus-da-fita a tentar passar despercebidos enquanto semeiam o caos com acusações e teorias da conspiração. Das melhores memórias que tenho de jogos de tabuleiro, metade são deste jogo.

Jogos para gamers

Se o bon vivant já é savant, então o nível de jogo tem de ser outro. Já não é propriamente um tipo de jogo que a Tia-Avó Gertrudes possa simplesmente sentar-se e jogar. E daí talvez seja, sei lá. Se calhar a Tia-Avó Gertrudes tem um rating de FIDE de 2856 em xadrez federado jogando sob o pseudónimo Magnus Carlsen. Sei lá, não a conheço.

Este é para quem gosta de aventura. São 25 cenários de pancadaria, progresso narrativo, e estratégia cooperativamente calculada. 1 a 4 jogadores tomam o lugar de seres fantásticos que compõem parte da afamada troupe mercenária Jaws of the Lion, arrepanhando trabalhos em torno da vila de Gloomhaven. A destacar o feeling de RPG clássico a la Diablo II, em que vamos adquirindo equipamento cada vez mais forte e alocando pontos de desenvolvimento ao nosso personagem para que se torne mais forte. Recomendado principalmente a quem quer comprar Gloomhaven mas não está apaixonado pelo preço.

Spirit Island

Mais um jogo cooperativo, que o Natal é a época da amizade. Em Spirit Island, assumimos o papel de espíritos da Natureza que se impõem contra colonos invasores que pretendem instalar-se na sua ilha. Cada jogador escolhe um espírito e procura sinergias com outros jogadores para poder deflectir os avanços dos colonos que se espalham que nem a marabunta. A parte gira deste jogo é definitivamente perceber como é que os espíritos se encaixam uns nos outros para criar eficiência e impacto na melhor forma possível. Quando se fazem aqueles combos de destruir 30 colonos de uma vez...ahhhh, gratificante.

Under Falling Skies

Achei por bem recomendar um jogo a solo. Algumas famílias não são de jogatana (como o lado da minha Tia-Avó Gertrudes. Acho eu, sei lá.) e portanto calha sempre bem não ter de estar dependente de ninguém para jogar. E o bom dos solos é que facilmente se tornam em pseudo-cooperativos. Neste, jogamos Space Invaders com pedaços de cartão: as naves alienígenas descem sobre a cidade mas, se conseguirmos antecipar os seus movimentos e precavermo-nos contras as suas investidas, salvamos o dia. Excelente puzzle para matar meia hora ou assim, com um jogo de campanha para quem quiser algo mais prolongado.

Jogos que pessoalmente adoro

Aqui entramos nos pesos pesados, porque eu só gosto de elefantes. E a julgar pela lista, todos da mesma família de paquidermes. Os meus jogos preferidos normalmente envolvem muita: agitação, pancadaria, sorrisos falsos, facas nas costas, alianças, desalianças, dinheiro sujo, governos-sombra, e negociação sem escrúpulos. Se alguns ou todos estes tópicos vos interessam, Deus tenha piedade das vossas almas. Ah, e vejam a lista que são capazes de gostar.


Conflito histórico no Médio Oriente do séc. XIX envolvendo três poderes políticos: Rússia,  Bretanha, e forças Afegãs. Nós somos líderes tribais aptos a ser seduzidos por qualquer um deles, tentando jogar nas sombras para dominar o território desde a Transcáspia até ao Punjab. Se por acaso duas ou mais jogadoras se aliem ao mesmo império, não pensem que a papa fica feita. A luta simplesmente passa de bélica a diplomática.


Conflito fantasioso na Floresta Encantada sei lá quando, envolvendo quatro poderes adoráveis: os gatos, os pássaros, os ratos, e um guaxinim. Este tem menos justaposição de interesses, na medida em que a equipa que escolhemos é só para nós e mais ninguém. No entanto, claro que inimigo do meu inimigo meu amigo é. Há sempre oportunidades de riquezas (bem pelo menos em termos de VPs) para quem sabe procurá-las.

Oath

Este é o jogo mais peculiar desta lista, mas felizmente escrevi mais a fundo sobre ele aqui. De qualquer maneira, sugiro este jogo apenas a quem sabe para o que vai: é difícil de levar à mesa, e requer uma certa frequência de jogo para que se possa tirar partido das coisas bonitas que oferece. Só para quem quer mesmo


E assim chegamos ao final desta magnífica lista. Espero que haja aqui alguma coisa para ti que estás a ler, e que tu em específico tenhas um excelente Natal, cheio de coisas boas e momentos especiais.

PS: está o meu editor a dizer que estamos a ser processados pelo Magnus Carlsen, que ao que parece é uma pessoa verdadeira e não a Tia-Avó Gertrudes de fato e peruca. As nossas mais sinceras desculpas a si e à sua família.


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