Horace


O universo de jogos indie tem destas coisas: de vez em quando, surge um jogo que tanto é aclamado por uns, como passa despercebido por outros. Horace é um desses casos, e talvez o tenha sido por ser algo que, ao mesmo tempo, tanto tem de familiar... como de diferente.

Desenvolvido por apenas duas pessoas, Paul Helman e Sean Scaplehorn, é um jogo difícil de encaixar em uma ou duas categorias, ao misturar puzzles, plataformas e até minijogos dos mais variados estilos, numa mistura de criatividade e homenagem a grandes clássicos de videojogos e até mesmo a cultura pop. Tudo isto, ligado por uma narrativa que acaba por ser o conteúdo principal, unindo todas as partes numa experiência que, francamente, não é fácil de explicar.



O jogo coloca-nos na pele de Horace, um robô criado no meio de uma família que tanto tem de unida, como de disfuncional, igual a tantas outras. Horace é, porém, o primeiro robô da sua "espécie", por ter uma consciência. Graças a uma série de updates que foi recebendo, tornou-se diferente de uma simples máquina: não lhe basta simplesmente "funcionar", precisa de um propósito, uma motivação. Toda a história é, então, apresentada no seu ponto de vista, enquanto tenta compreender os vários elementos da família e, assim, integrar-se.

Ao longo da história, recheada de sequências de animação em 2D bastante pixelizadas e narradas pelo robô, vai-se acompanhando o seu crescimento e a forma como vai adquirindo novas habilidades, até ao momento em que algo grave acontece, o que mudará toda a história não só para aquela família, mas para o mundo inteiro. Isto é apenas o começo de uma longa aventura, que pelo meio irá contar com bastantes surpresas e todo o tipo de emoções.

Em termos de gameplay, este é maioritariamente um jogo de plataformas, mas que não tem qualquer problema em, de repente, apresentar minijogos ligados à história, sejam eles de ritmo, corridas, puzzles... há até salas de arcadas recheadas de clássicos, bem parecidos com alguns do mundo real!



O grande conteúdo, porém, está em elaborados cenários de plataformas e lutas contra bosses realmente desafiantes, que poderão afugentar alguns dos jogadores mais ocasionais. Felizmente, o robô vem com um chip que lhe permite voltar "atrás no tempo" e tentar outra vez, que é como quem diz regressar ao último "checkpoint" vezes sem conta, sem haver um "game over". Graças a isso, é um jogo difícil, sim, mas nunca chega a ser frustrante, pois até mesmo durante os bosses existem vários "checkpoints", mostrando que, aos poucos, se está a conseguir.

Há que louvar o trabalho dos criadores deste jogo, que numa só aventura combinaram imensas referências e influências para contar toda a história da forma que acharam melhor. Horace é maioritariamente um jogo 2D ao estilo das consolas de 16-bit, sim, mas quando precisa também tem momentos em 3D ao estilo do clássico DOOM, variando em cenários, estéticas e efeitos, até mesmo alguns não recomendados a pessoas fotosensíveis. Além disso também a banda sonora, com muitas covers de temas clássicos pelo meio, acompanha bem toda a experiência.

Se há defeito a apontar, é que a certos momentos a história parece prolongar-se demasiado, quando parece estar próxima da sua conclusão e afinal ainda há todo um novo arco narrativo a explorar. Ao todo, é um jogo para durar um pouco mais de 15 horas a concluir, deixando ainda assim bastantes colecionáveis e segredos para encontrar.



Esta é, realmente, uma experiência única. Com uma óptima jogabilidade nos seus diferentes estilos de jogo, Horace é a cativante história de um robô cheio de alma que procura a sua razão de existir, passando por aventuras de plataformas, jogos de ritmo, puzzles, minijogos e até um metroidvania. Se o próprio Horace adora videojogos... como não o adorar?


Nota: Análise efetuada com base numa cópia adquirida pelo autor do artigo, para a Nintendo Switch.

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