Carrion

Cansado de aventuras nas quais um humano vai matando tudo o que é monstro? Então nada como ser o próprio monstro! Há-de ter sido algo próximo disto que levou o pequeno indie Phobia Game Studios a criar Carrion, um jogo de "terror invertido" onde os humanos é que são os maus da fita, já disponível para Xbox One, PC e Nintendo Switch, assim como via Xbox Game Pass.

Carrion é na sua base um metroidvania, mas com uma experiência de jogo bastante única, que não se limita à troca de papéis. Tudo começa quando, num laboratório subterrâneo, uma criatura amórfica desperta num contentor radioativo. A "coisa" consegue libertar-se, para terror dos cientistas em redor, e ainda por cima cheia de fome. Coisa até é um bom nome, para uma criatura que pode ser descrita como uma espécie de gosma vermelha com olhos, bocas (sim, plural) e muitos, muitos tentáculos.

Do ponto de vista da Coisa, que afinal é o jogador, esta é só uma pobre criatura que está presa e a ser alvo de experiências, pelo que o seu objetivo é tão simples como libertar-se e, naturalmente, alimentar-se. O problema é que este laboratório faz parte de todo um complexo industrial militarizado, com diversas secções interligadas mas acessos limitados.

A jogabilidade tira partido das caraterísticas da Coisa, permitindo facilmente deslocar-se em qualquer tipo de áreas e superfícies, mas só com os upgrades que vão sendo encontrados ao longo da aventura é que irá obter novas habilidades, incluindo empurrar ou destruir objectos, ou atravessar certas barreiras. Algo que torna a experiência mesmo interessante é a maneira como a Coisa vai mudando de forma à medida que adquire alguns upgrades. Uma nova forma permite novas habilidades, mas as anteriores deixam de estar disponíveis, sendo assim necessário um "downgrade" para as reativar. Isto abre as portas a puzzles realmente interessantes, onde a criatura terá de ir abandonando e/ou recuperando partes da sua massa corporal de forma a conseguir avançar.

Toda a jogabilidade é, aliás, a maior surpresa deste jogo. Para um metroidvania, pode parecer estranho não se poder consultar um mapa (a Coisa não tem bolsos), mas em geral é fácil de se reconhecer as diferentes àreas, para além de que o conteúdo principal é maioritariamente linear. Ainda assim, quem procura os 100% terá alguma ajuda, mais lá para o final do jogo. Aliás, surpresas não faltam, ao longo da aventura, incluindo algumas das habilidades que vão sendo adquiridas, mas também a nível da história, que se desenrola sem qualquer texto.



Graficamente, apesar do sombrio visual ao estilo 16-bits, o jogo tem bastante mérito em conseguir uma boa variedade nos cenários sem se desviar do tema, recriando até um pouco dos filmes de terror de baixa produção. O melhor de tudo, porém, é o impressionate rasto que a Coisa vai deixando por onde passa, preenchendo os cenários de vermelho... e destruição! Além da parte estética "gore", na realidade isto ajuda os jogadores a perceber facilmente por onde já passaram e quais os locais onde nunca estiveram, pois todo o rasto deixado pelo monstro fica permanente no jogo.

Com tudo isto, o jogo oferece uma experiência extremamente fluída mas, principalmente, divertida. Não sendo demasiado difícil, com bastantes pontos de gravação e recuperação ao longo dos diferentes cenários, alguns puzzles e salas repletas de inimigos conseguem dar que pensar. Com uma duração que rondará umas 8 horas de jogo com muitos upgrades pelo caminho, em nenhum momento se torna minimamente aborrecido ou repetitivo.


É fácil olhar para Carrion sem ficar impressionado à primeira vista com a aventura de uma gosma vermelha, mas este é um daqueles casos em que o que realmente conta é o seu interior. Com uma grande jogabilidade, esta é quase uma típica história de terror, mas que aqui nos coloca na pele do monstro a torcer pela sua liberdade... Conseguirá a Coisa escapar?

Nota: análise efetuada com base em código final do jogo para Xbox One, gentilmente cedido pela Cosmocover.

Latest in Sports