Blue Prince
Surge aqui um puzzle roguelike onde a nossa principal missão é explorar uma casa que nos foi deixada, uma herança com um pequeno grande senão: temos de encontrar uma sala escondida, para ter direito à grande mansão. Isto traduz-se num jogo de exploração, um roguelike em que cada dia a mansão muda a posição das suas salas, onde o seu posicionamento é definido por nós, pois escolhemos qual sala iremos encontrar do outro lado da porta. Se há algo que me prendeu ao jogo foram as suas semelhanças com o jogo de tabuleiro Betrayal at House on the Hill que recomendo muito irem investigar, caso tenham adorado Blue Prince, pois dos elementos aleatórios roguelike às salas com poderes especiais, vão encontrar aqui várias semelhanças.
Imaginem um jogo de exploração na primeira pessoa como Myst, mas sem a densidade dos puzzles. Eles existem, todas as salas têm pistas para algo mesmo quando não sabemos ainda para que servem, entre salas onde temos pequenos enigmas para conseguir preciosos itens que nos ajudam a desvendar os mistérios da mansão. São chaves para abrir portas, joias para ativar poderes como aceder a salas especiais, ou até mesmo mudar que salas temos à disposição para encontrar, temos ainda dinheiro para comprar outros itens como pás, marretas ou detetores de metais para encontrar itens escondidos. Via ainda algumas semelhanças à série Zero Escape, talvez pelo misticismo do jogo lembrar-me um pouco escape rooms, mas, talvez fora a minha nostalgia a falar.
É um roguelike não só pela aleatoriedade das salas que nos aparecem, mas também porque há pequenos poderes especiais que nos facilitam na grande demanda que é encontrar a sala 46, o nosso propósito aqui. Temos sempre de tomar atenção aos nossos passos, pois ao entrar numa sala perdemos passos e, atingindo o zero, acaba o dia e passamos para um novo dia onde começamos do início, daí toda a ajuda ser preciosa, como começar já com algum dinheiro nos bolsos ou algum item que queiramos passar de um dia para o outro. São várias as salas que exploramos que nos dão estas benesses, pois isso convido mesmo a exploração minuciosa a todas as salas, não só mesmo quando parecem irrelevantes (porque há salas efetivamente irrelevantes) como quando parece que já exploraram tudo.
A aleatoriedade é um ponto fundamental do jogo, mas, foi também o elemento que mais me fez sofrer e até mesmo desgostar de Blue Prince. Foram vários os momentos em que um dia do jogo terminou porque a combinação de salas seguidas foi abismal, por itens que não me apareciam por muito que a run corresse-me bem. Foram sessões de jogo praticamente deitadas ao lixo porque não iria ganhar nada incrível para que o dia seguinte corresse melhor, aumentando o contador de dias que serve para subir artificialmente a dificuldade do jogo, tornando determinados puzzles mais difícil só porque sim, pois as recompensas não melhoravam.
Cheguei mesmo a sentir querer que o jogo fosse menos roguelike e mais de exploração, levando-me a investir mais tempo em cada sala à procura de pistas que me ajudassem no dia em questão. Algo que gostei muito no jogo foi a descoberta da mansão, levando-me a conhecer mais dos seus segredos muito além das salas aleatórias que compõem o "corpo" principal da casa, levando-os até a explorar o seu exterior. Foi aqui que veio o sentimento Myst ou Riven, desvendar vários segredos escondidos mesmo à nossa frente desde o início do jogo, resultados de muitas pistas que havia anotado num fiel bloco de notas que tive sempre a meu lado: um item indispensável para esta aventura. E, atenção, há puzzles que nos fazem puxar mesmo pela cabeça que envolvem sinergia entre salas, combinações de resultados e, até mesmo, posições bem específicas de onde colocamos as salas, se quisermos desbloquear elementos definitivos.
Há uma história no meio disto tudo, os segredos da Mount Holly Estate, a vasta propriedade nas montanhas Reddington e do seu antigo dono, Herbert S. Sinclair, que nos daria a mesma caso desvendássemos os seus segredos. Descobrir a sala 46 é apenas o começo do desvendar tudo o que o jogo tem para oferecer, com coisas que nos fazem largar longos "AAAH" entre alguns "pois…" e "está certo", ou as expressões que habitualmente preferirem. Prometo que muita coisa faz sentido assim que estiverem para concluir o jogo, até porque há uma história que se adensa, contada pelas várias notas e apontamentos espalhados pela mansão. Talvez não tenha uma conclusão em grande, mas, a história até esse ponto foi interessante e puxou-me por querer saber mais.
Blue Prince puxou por mim, trouxe-me novamente o vício de pensar "só mais uma run" e dar por mim a passar horas a fio com o jogo sem dar por ela, tal como Balatro. Adorei o jogo, só é pena que a aleatoriedade do mesmo tenha-me frustrado ao ponto de gostar menos dele, ou até mesmo o recomeçar do zero porque já tinha um contador de dias tão elevado que me dificultava a vida em determinadas salas, só porque sim, sendo que o grande sentido de progressão era pelas melhorias que ia encontrando pelo caminho. Ainda assim recomendo muito explorarem-no, nem que seja para matar o bicho da curiosidade.
Nota: Análise efetuada com base no jogo disponível através do serviço PlayStation Plus para a PlayStation 5.