SEASON: A letter to the future
De tempos em tempos lá aparece um título que tenta quebrar um pouco a barreira entre o divertimento que se pode tirar de um videojogo e por em perspectiva as coisas da vida dita real, com o intuito de nos fazer pensar um pouco nas nossas escolhas e nas coisas que nos rodeiam.
Temos por exemplo o caso do Abzû que prima pelo seu visual sublime aliado à sua história de sustentabilidade ou Rime que tem um final arrebatador numa experiência tocante, ou até mesmo What Remains of Edith Finch que mesmo não tendo um final marcante o modo tocante como a história é apresentada ao espetador é no mínimo brilhante. SEASON: A letter to the future tenta beber um pouco destas experiências mas ultimamente falhou em agarrar-me, muito por culta da sua monotonia, o modo super lento como se desenrola a história e personagens muitos neutras e pouco interessantes, até mesmo as suas voice lines.Pois bem, SEASON: A letter to the future, troca armas por uma câmara fotográfica, um gravador de áudio, uma bicicleta e principalmente um livro em branco deixando toda a exploração do lado do jogador, como fazer, o que explorar primeiro, o que fotografar ou gravar. A aventura desenlaçasse na pele de uma rapariga jovem, de seu nome Estelle, oriunda de uma vila bem no cimo de uma colina, com o sonho de explorar o mundo pela primeira vez, acompanhada pela sua bicicleta e principalmente, pelo seu diário, onde relata o que vê em determinados momentos, com o intuito de o deixar a uma pessoa do futuro. Este título é uma ode ao descobrimento da solidão, mas também sobre o poder das memórias e dos momentos que mantemos bem junto do coração.
O modo como o próprio gameplay, por meios de um walking simulator, se mistura com o momento mais importante do conto da história tem os seus momentos de ouro, mas muitos desses momentos são apenas vagos e sem grande substância para a bagagem da personagem. O método de transporte utilizado é uma bicicleta, com a cor escolhida pelo jogador, a câmara e o gravador, como referi anteriormente, serve de caneta e tinta para produzir conteúdo para o diário e é totalmente aberto à interpretação de cada um. Como colocar, em que local da folha colocar, o tamanho usado, os rabiscos, tudo dá a ideia que de certa forma esta é a história que o próprio jogador quer contar, tornando tudo bastante pessoal.
Este título foi jogado na plataforma Steam com um comando da PS5 e tudo é bastante intuitivo, dando uma sensação de imersão interessante já que é possível ter o movimento de tremor enquanto se controla a bicicleta em áreas menos propícias às rodas, pequenos apontamentos onde os sons são mais intensos, entre outros.
Na mesma linha de pensamento é possível encontrar-se personagens espalhadas pelo mapa. A maneira como se responde a determinados momentos entre estas interações irá ter um impacto, tanto nas suas vidas, bem como no seu papel no meio deste conto. O tempo é um ponto importante nas nossas vidas, e aqui também tem o seu papel, é fluido e esse sentimento é capturado no momento de interação entre personagens e à medida que se vai enriquecendo o nosso diário com esses momentos. Serenidade é a palavra de ordem enquanto se explora o mundo de SEASON, e a mesma anda de mãos dadas à monotonia, não achei gratificante o suficiente para imprimir tempo a explorar todos os recantos do mundo.
Visualmente é brilhante, com uma palete de cores aconchegante e momentos de cortar a respiração. As peculiares personagens estão super bem caracterizadas e distintas das demais. A acompanhar tudo isto está uma banda sonora minimalista e serena. Infelizmente o voice acting a mim não me comoveu, senti falta de empatia com algumas personagens denotado mesmo em certos pontos a simples leitura de um papel em frente ao microfone. Neste sentido até me perguntei se não seria melhor em certos pontos cortar a voz da personagem para dar a minha interpretação, ainda que pessoal e dentro da minha cabeça, à personalidade à minha frente.
O modo bastante lento como as coisas se processam e a falta do sentimento de perigo, fazem de SEASON: A letter to the future um título ambíguo, mas super relaxante de se jogar. O problema é toda a sua história fazer pouco sentido, entre metáforas de um mundo que está a terminar. Existe um sentimento de incerteza e algumas questões que pairam por detrás de uma cortina de nevoeiro apesar de todos os esforços que sejam possíveis fazer para o descodificar.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PC, gentilmente cedido pela Scavengers Studio.