Hogwarts Legacy

A experiência pela qual os fãs esperavam desde os primeiros livros e que os não-fãs não sabiam que queriam: Hogwarts Legacy é mágico para todos.

Análise por Bruno Santos

Começamos numa rua em Londres, deserta, conversando baixinho. Estamos a caminho de Hogwarts, uma escola de magia na Europa, mais precisamente e menos precisamente na zona montanhosa escocesa. No entanto as nossas circunstâncias são atípicas, vamos começar diretamente no 5º ano, de 7 totais, devido a uma aptidão particular para uma magia diferente e à volta da qual a história se constrói. Somos acompanhados por um professor que está a estudar esse fenómeno, partimos de carruagem e começam logo as peripécias que dão inicio a uma demanda mágica e encantadora.



Antes do enquadramento da história criamos a pessoa que vamos ser e que vai viver esta aventura, temos algumas opções de caras, cabelos, sobrancelhas e detalhes na cara. Podemos ainda personalizar a cor de pele, cor de cabelo e olhos e muito relevante a voz: temos duas à escolha que podem ser alteradas por um slider de pitch para ficar mais ao nosso gosto. Não há uma escolha de género nem nenhuma opção que nos tranque de outras; temos apenas que escolher se queremos ser witch ou wizard (o que afeta para que lado viramos ao entrar nos dormitórios e nada mais). 

Após esta criação e um início de aventura que nos insere no contexto da história (sem grande densidade para todos poderem acompanhar) chegamos a Hogwarts e a um dos momentos icónicos: o chapéu selecionador que nos vai atribuir a Casa onde passaremos os restantes anos. Esta escolha para mim, que tenho uma conta de Harry Potter há anos, foi direta à minha casa de infância (e de sonho) mas teve uma magia especial ser eu selecionado para os Gryffindor! Depois de uma breve introdução à escola e a mais alguns personagens (fãs da série farão ligações a outros no mitos de Harry Potter) somos deixados ao nosso melhor julgamento, podendo inicialmente apenas explorar a escola.


E que escola! Pormenores que me lembro de ler em criança e que os filmes também mostram, dos quadros falantes e dançantes, dos fantasmas familiares às estátuas simpáticas, o castelo explode de magia e sentimos imediatamente o charme deste universo. Passei horas a descobrir passagens e escadarias, segredos e puzzles infindáveis antes de ir à minha primeira aula. Quando comecei a precisar de mais magia então dirigi-me à sala (com umas centenas de paragens pelo caminho), onde os feitiços são ensinados de uma maneira intuitiva, replicando o movimento com os analógicos (ou o rato). Após a aprendizagem ficam disponíveis por uma combinação simples de botões tanto dentro e fora de combate, pois neste jogo e fiel ao universo onde se insere raramente uma coisa é só uma coisa e tudo tem mais usos do que imaginamos. Algumas aulas introduzem-nos também a competições amigáveis que têm as suas recompensas.


Falei do combate e só tenho elogios para lhe tecer. É intuitivo e simples de aprender, com códigos de cores e símbolos o que facilita a quem não está habituado a este tipo de jogos (uma comparação que acho justa é o combate no Jedi: Fallen Order) mas que ao mesmo tempo pode facilmente adensar-se. Descubro combos novos e diferentes a cada feitiço, percebo que certos feitiços são melhores contra certos inimigos a cada combate que passa, juntamente com as entradas no nosso glossário que dão pistas para cada oponente. As animações são fenomenais e o impacto e a maneira como cada feitiço é diferente é palpável. A exploração é uma parte integral; e inicialmente apeados, à medida que vamos podendo explorar mais, somos também presenteados com vassouras e criaturas mágicas que nos facilitam a travessia e cujos controlos são simples e bastante fluidos, mesmo a alta velocidade.



Há uma variedade de conteúdo tremenda, são inúmeros os tipos de puzzles e segredos que existem dentro e fora de Hogwarts. Mais ainda, para além do equipamento que encontramos em caixas, muitas das recompensas pela nossa sagacidade e ajuda a outros personagens que nos ajudam a construir a história são cosméticas. O sistema de equipamento regista não só essas mas também todo o equipamento que obtemos, podendo a qualquer momento alterar o nosso personagem para o aspeto que achamos mais mágico. Um sistema de talentos permite-nos depois customizar algumas das nossas habilidades aprofundar ainda mais todos os sistemas. Eventualmente aprendemos o cultivo de plantas, criação de criaturas e poções, que mais tarde podemos concretizar numa base completamente customizável, do teto ao chão que me fez quase esquecer que tinha de continuar a minha aventura.

Já fiz menção às animações, mas os ambientes também estão incrivelmente bem construídos. Sente-se magia em tudo e a qualquer momento primeiro pelo detalhe visual e depois por um excelente detalhe musical. Cada coisa tem o seu som, muitos dos segredos acabam mais perceptíveis se começarmos a perceber os sons que os acompanham. O voice acting também é de louvar, sendo o jogo inteiramente voice acted (e com opção de várias línguas para o mesmo). Também há várias opções de dificuldade para facilitar a quem quer apenas jogar a história e tem imensas opções de acessibilidade. Senti-me finalmente no mundo mágico que me acompanhou na infância e, agora um homem, não consegui não largar uma lágrima de felicidade quando recebi a minha varinha e senti o meu eu de 12 anos a sorrir.

Uma experiência absolutamente encantadora, Hogwarts Legacy imerge o jogador num mundo mágico e fascinante do início ao fim.


Segunda Opinião por Telmo Couto

O regresso às aulas, num mundo muito diferente.

Antes de mais, importa referir que estou bem longe de ser um fã de Harry Potter. Sem ter lido qualquer dos livros e ter ficado apenas pelo primeiro filme, há muito, muito tempo atrás, cheguei a este jogo sem qualquer ligação especial ao mundo de Hogwarts. A pergunta que se impõe, então, é se este poderá ou não ser um bom jogo para qualquer jogador, ou se é um daqueles títulos que só irão apelar aos grandes fãs.

Depois de um detalhado sistema de personalização da personagem, especialmente a nível da face, o jogo rapidamente nos envolve na sua história ao mostrar a razão deste protagonista ser tão especial. Sendo um pouco mais velho que o habitual dos alunos que entram nesta escola de feiticeiros, será imediatamente integrado no 5º ano do curso, por causa da sua ligação a uma magia ancestral, uma habilidade tão rara que quase nenhum feiticeiro lhe consegue aceder. Em contrapartida, isso irá implicar um grande estudo nas várias matérias, de forma a acompanhar os colegas. Tudo isto é facilmente explicado nos primeiros momentos do jogo, de uma forma simples até para os mais leigos neste universo.


Após uns interessantes contratempos, o nosso aprendiz chega finalmente à escola, mesmo a tempo de descobrir a qual das quatro casas ficará afiliado. No meu caso, o jovem Telmo Bruxo foi parar aos Ravenclaw, uma casa associada a inteligência, criatividade e perspicácia... pareceu-me bem!

A primeira grande impressão que tive desta escola-castelo foi o quão acolhedora ela consegue ser, dando ênfase à enorme diversidade entre todos os alunos e a preocupação do novo estudante se sentir bem integrado. Há, claro, umas personalidades mais amigáveis do que outras, mas é um ambiente muito positivo, algo que na realidade se pode dizer de todo este jogo. Depois, é realmente impressionante todo o detalhe com que construíram a escola no jogo, recheada de pormenores desde a decoração até aos puzzles e passagens secretas, sem falar nos incontáveis "easter eggs". Tudo isto faz com que a escola pareça mesmo "real" no mundo de fantasia, incluindo para aqueles que, como eu, não saberão se determinada pintura será ou não uma referência a algo dos livros ou filmes. Todas as salas e corredores deixarão qualquer fã de fantasia com um sorriso estampado na cara, à medida que vai explorando... e isto é apenas o ponto de partida.


Apesar de ter uma história principal relativamente linear, após as primeiras horas de introdução o jogo abre-se a uma total liberdade de exploração de um vasto mundo aberto em redor da escola, a convidar pela exploração. Dentro e fora do castelo, há sempre personagens para conhecer com os seus problemas, uns mais "sérios" do que outros, que se tornam em missões secundárias com boas recompensas. E apesar do jogo convidar a explorar à vontade de cada jogador, também sabe incentivar a ir às aulas para se aprender novas magias, ataques e poções. Além disso, o jogo inclui um bom sistema de fast-travel, quando se pretende voltar rapidamente a um certo local. 

Visualmente, o jogo (testado na PS5) encontra-se num ponto interessante. Embora longe dos gráficos de alguns títulos como Horizon ou Gof of War, todos os cenários e ambientes colocam-nos num mundo de fantasia perfeitamente credível e com incontáveis detalhes um pouco por toda a parte. O ponto menos forte fica a nível das personagens, mas que mesmo assim conseguem ser suficientemente expressivas e, acima de tudo, credíveis. Pessoalmente, o maior problema que senti no jogo foi com o sistema de combate e o seu mapeamento de botões, associado a apenas 4 magias de cada vez. Entre magias mais úteis para os puzzles e exploração e outras feitas a pensar mais nos combates, ter só 4 atribuídas aos botões de cada vez é francamente pouco, exigindo muitos acessos ao sub-menu para as reatribuir aos desejados botões. Francamente, nada que retire o prazer de o jogar.

Olhando para o jogo como um todo, o que mais me impressiona é toda a paixão e dedicação dos developers, que acaba por ser transmitida aos jogadores. É um mundo acolhedor que tanto convida a explorar, como a parar e apreciar os detalhes. E se para um "leigo" no universo de Harry Potter, este jogo consegue ser fascinante, não consigo sequer imaginar a emoção que Hogwarts Legacy consegue trazer aos fãs!



Nota: Artigo escrito por Bruno Santos e Telmo Couto, com base na versão PC e PlayStation 5, respetivamente. Código PS5 gentilmente cedido pela Upload Distribution.

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